sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O Salário Mínimo como alavanca do crescimento salarial


Foi ontem publicado o estudo “Quando a Decisão Pública Molda o Mercado: Salário Mínimo em Tempos de Estagnação Salarial”, que escrevi no âmbito do Observatório das Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

No espírito das publicações do Observatório, procura-se encontrar um compromisso entre um exercício analiticamente rigoroso e uma linguagem clara e expurgada de termos técnicos, que permita a sua leitura e difusão por um vasto conjunto de cidadãos interessados. Espero que esse objetivo tenha sido alcançado.

O estudo pode ser lido integralmente aqui.

Abaixo, reproduzo as principais conclusões:

"Este caderno analisou a importância da subida do salário mínimo, ocorrida no período 2014-2017, na explicação das diferenças intersetoriais do crescimento dos salários médios nominais. Procedeu-se a uma análise em diferentes planos, começando-se por uma análise bivariada entre as variáveis de interesse, evoluindo-se numa fase subsequente para uma análise em dados de painel.

Dos resultados alcançados, é possível concluir que:

A atualização do salário mínimo nacional foi determinante para explicar as diferentes evoluções salariais em cada setor de atividade. Todos os planos de análise considerados revelam que o crescimento nominal dos salários médios variou positivamente em relação à percentagem de trabalhadores que auferiam o salário mínimo num determinado setor. Sabendo que em todos os anos considerados houve atualizações nominais do salário mínimo significativamente superiores à média do crescimento salarial do período, este resultado evidencia que a atualização do salário mínimo foi determinante para explicar o maior crescimento salarial dos setores com maior percentagem de trabalhadores a auferir o salário mínimo. A análise em dados de painel permitiu observar que este resultado se mantém válido, mesmo que considerando variáveis de controlo para o lado da procura (taxa de crescimento do emprego) e da oferta (taxa de crescimento da produtividade).

Embora globalmente determinante, o efeito do salário mínimo na evolução intersetorial dos salários é melhor avaliado se considerado de forma descontínua. Setores com uma percentagem de trabalhadores a auferir o salário mínimo superior a 20% apresentam uma taxa de crescimento dos seus salários médios nominais consistentemente superiores àqueles que se encontram abaixo desta barreira. Este resultado está de acordo com a intuição, já que se espera que para percentagens menos elevadas do salário mínimo existam outros fatores mais preponderantes. O poder explicativo do salário mínimo como fator de diferenciação setorial da evolução dos salários é mais efetivo se considerado em termos do seu impacto categórico – impacto de estar abaixo ou acima de um determinado valor de cobertura – do que do impacto marginal dentro de cada categoria.

A ausência da decisão política de aumentar o salário mínimo nacional teria determinado um crescimento nominal dos salários mais anémico do que o verificado. Como se mostrou na introdução, o salário médio nominal agregado foi pouco sensível à evolução positiva do ciclo económico. Esse facto, aliado à evidência de que o crescimento do salário mínimo foi determinante para o crescimento salarial mais pronunciado dos salários nos setores com maior proporção de trabalhadores abrangidos por este, permite afirmar que a decisão de aumentar o salário mínimo foi essencial para que o crescimento dos salários não fosse mais anémico do que o verificado.

A capacidade do salário mínimo impulsionar o crescimento dos salários nominais revela a importância da intervenção pública tendente à revalorização salarial num contexto de baixa elasticidade dos salários em relação ao ciclo económico. A definição do salário mínimo é tradicionalmente encarada como uma intervenção do poder público no sentido de garantir que a remuneração do trabalho não se coloca abaixo de um nível mínimo de dignidade, prevenindo que distorções no mercado de trabalho sejam utilizadas para fixar salários anormalmente baixos num contexto de poder de mercado assimétrico entre as partes. Contudo, no contexto atípico de crescimento acompanhado de estagnação salarial que caracterizou o período da recuperação económica portuguesa, o papel dos decisores públicos pode ir além dessa função tradicional. Na verdade, o que os resultados deste estudo demonstram é que, neste enquadramento, a decisão política pode ser uma importante alavanca do crescimento salarial, impulsionando ganhos salariais com impacto agregado que dificilmente teriam ocorrido na ausência da sua ação. Nesta circunstância, o salário mínimo é tanto um instrumento de política social à disposição dos decisores públicos como de política macroeconómica."

9 comentários:

Anónimo disse...

Não será possível alguém daí do blog desmontar um “estudo” do Banco de Portugal saído ontem e logo ampliado daquela forma conhecida pelo Público?
Com a independência e o rigor deste texto de Diogo Martins?

Anónimo disse...

Se o salário mínimo cresce acima da média, é natural e expectável que os setores que têm maior proporção de trabalhadores a auferir o salário mínimo tenham um crescimento médio salarial superior. Depois pode haver outros fatores a contribuir, eventualmente contrariar, mas, por defeito, atua esse. A análise “categorial” acrescenta muito pouco a esta ideia. Aliás, se em vez de considerar como outlier o setor das “atividades administrativas e dos serviços de apoio” se tivesse considerado o setor da “eletricidade, gás, água quente e fria e ar frio”, uma opção, a julgar pela fig. 7 tão ou mais legítima, os resultados sairiam significativamente diferentes. Seja como for, acrescentariam pouco à ideia simples de base. Sem querer ofender, parece-me muita parra para pouca uva.

Anónimo disse...

Quem não se lembra daquele racista abjecto do “Pedro” a gritar e a espernear contra o salário mínimo

Ele e o seu outro eu, o pimentel Ferreira. Ou o seu outro eu, o aonio eliphis. Ou o seu outro eu, o marco. And so on

Estes estudos são tramados para esta tralha ultra liberal

Diogo Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Pimentel Ferreira disse...

Agradecemos ao Euro caro Diogo. O valor que o salário mínimo real tem em 2017 (€535, acerto IPC, base 2011), é 26 porcento superior ao valor real que tinha em 2002 (€424, acerto IPC, base 2011), data da entrada na moeda única; já o salário mínimo real em 2002 (€424), data da entrada na moeda única, é 21 porcento inferior ao valor real que tinha em 1975 (€535, IPC, base 2011). E qual a diferença entre estes dois períodos? A divisa! De referir que o índice IPC faz referência ao Índice de Preços ao Consumidor e tem em consideração o cabaz de produtos e serviços do cidadão médio. Logo, se há pessoas que mais beneficiaram com o Euro, indubitavelmente que foram os assalariados e pensionistas portugueses, devido à estabilidade da divisa. 

João Pimentel Ferreira disse...

Não esquecer ainda que Portugal é dos países da Europa onde o salário mediano mais se aproxima do salário mínimo.

JE disse...

Este é mais um caso objectivo que objectivamente desmonta uma fraude

João pimentel ferreira, mister multinick, escrevera, menos de 24 horas deste comentário e num tom enraivecido, o seguinte sobre este blog:
"Já o Ladrão das bicicletas está alojado - gratuitamente, viva o socialismo - nos servidores do Big Google"

Insinuava uma coisa feia. Tentava objectivamente,por intermédio desta conversa da treta, calar esta voz independente do LdB..

Esta de ter oportunidade de expressar ideias e opiniões só depois de passar pelo crivo do capital...e do pagamento respectivo

JE disse...

Infelizmente as coisas não ficam por aqui

Já por várias vezes mister multinicik papagueia ( é o termo ) estes comentários que agora pospega

E já por várias vezes "isto" foi alvo de debate


Citemos dois casos paradigmáticos:

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/07/a-velha-batota.html

Vemos que mister multinick usa exactamente o mesmo paleio. Que este é comentado por mais alguns

E que só neste post temos direito a 4 nicks diferentes ( pelo menos,porque estes já foram identificados) de joão pimentel ferreira. A saber, esse mesmo o de JPF, o de "pedro", o de "paulo rodrigues" e o de "E agora para algo con pateta mente diferencial "

Há mais

JE disse...

Há mesmo mais:

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2019/03/memoria-de-uma-entrevista.html

4 meses antes, tivéramos a repetição ipsis verbis do texto agora reproduzido por pimentel etc

De forma objectiva ST escavaca todo este paleio de pimentel ferreira

(As coisas são de tal monta que ST acaba por classificar este tipo desta forma:

"O Sr ingñero é uma fraude")


O mais curioso é que quem publica o comentário acima papagueado não é JPF. É um novo nick deste fulano, um tal de "Adriano"

Mas não satisfeito com isso, jPF volta a colocar em cena um outro seu nick,o de "aonio eliphis".

Com toda a grosseria e pesporrência própria dos ultra liberais a que se associa neste caso a falta de integridade particular de JPF

( cerca de uma semana depois do último comentário voltará ao blog,com a esperança que dessa vez não tivesse resposta)

O que chamar a "isto"?