segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Na cela de Maximiliano Kolbe


Há uma imagem particularmente forte na visita do Papa a Auschwitz. É a imagem do silêncio e do recolhimento de Francisco na penumbra da cela onde morreu Maximiliano Kolbe, o padre que se ofereceu para substituir Franciszek Gajownickek (resistente judaico na Polónia, com mulher e filhos), um dos dez escolhidos para morrer à fome, como represália pela fuga de um prisioneiro do campo de concentração.

Pensa-se na decisão do Papa em visitar Auschwitz e no gesto do padre Kolbe, sendo impossível não pensar na Europa dos nossos dias e nas famílias de refugiados, com os seus homens, mulheres e crianças. E irrompe então de novo aquela que é talvez a mais política, subversiva e perturbadora de todas as perguntas bíblicas: «Onde está o teu irmão?». A pergunta que nos interpela a todos e que deveria inquietar sem descanso as instituições europeias e os governos da Europa. Uma pergunta que obriga a pensar na raiz do problema, para lá do vírus «radicalizado» e dos «vivas à guerra», como o João Ramos de Almeida tem incansavelmente sublinhado neste blogue.

Nesta matéria, aliás, faça-se justiça a Angela Merkel. Não só as autoridades alemãs resistiram à tentação mediática para rotular precipitadamente, como atos do Daesh, os episódios de violência das últimas semanas, como a chanceler fez questão de ser muito clara: «A Alemanha vai continuar a oferecer um refúgio seguro para os refugiados, (...) não vai deixar os atacantes semear o ódio ou o medo, ou afetar a disposição do país para acolher pessoas em necessidade».

9 comentários:

Anónimo disse...

Perfeitamente de acordo
E fica-se horrorizado com um comentário lido aqui dum tal José sobre os muçulmanos. Tal comentário é um asco e é um atentado aos valores humanitários deste blog.
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2016/07/viva-guerra.html

Jose disse...

O que começa a desenhar-se é uma reversão, o desistir da política para trazer justa organização do mundo e retornar à fé e à virtude individual.
Ou talvez mais que uma desistência seja o acto terrorista de arrasar sem cuidar do que se siga.

Anónimo disse...

"A justa organização do mundo e retornar à fé e à virtude individual" passa pelas acusações grosseiras de pedofilia, violência e xenofobia proferidas por este fulano das 16 e 18?
Um terrorista a alimentar o terrorismo, não é mesmo?

Unknown disse...

Bom post. Apoiado

Anónimo disse...

Sim, a Angela destrói a vida de milhões no sul da Europa, a Angela líder de um país que vê a indústria do armamento a crescer, sim, deve ser a mesma Angela que está preocupada com o bem estar dos refugiados...

Sabe Nuno Serra, não é por achar que as intenções da Angela não são aquelas que ela e os media querem fazer crer que os refugiados deixam de ser vítimas e que não mereçam apoio.

Mas para alguns colocar em causa as intenções da Angela neste assunto dos refugiados é tabu…

Anónimo disse...

Anónimo disse...


"Sim, a Angela destrói a vida de milhões no sul da Europa, a Angela líder de um país que vê a indústria do armamento a crescer, sim, deve ser a mesma Angela que está preocupada com o bem estar dos refugiados...

Sabe Nuno Serra, não é por achar que as intenções da Angela não são aquelas que ela e os media querem fazer crer que os refugiados deixam de ser vítimas e que não mereçam apoio.

Mas para alguns colocar em causa as intenções da Angela neste assunto dos refugiados é tabu…"!

Por Fim:

Não tenho mais nada acrescentar...esta tudo dito (escrito)...


Jaime Santos disse...

De facto, a Alemanha é o País que mais se esforça por por um lado acolher os refugiados de uma guerra em que não tem grandes responsabilidades (seguramente o RU, a França e os EUA têm muito mais) e por outro por procurar combater o terrorismo sem abdicar do Estado de Direito (mas convinha perceber a diferença de escala entre o que se passa lá e em França). Daí que valeria a pena tratar a política alemã com as nuances que ela merece. Os alemães estão agarrados a um fundamentalismo anti-inflacionista e à crença de que se todos os Países Europeus fossem como a Alemanha e aplicassem as medidas que Schroeder aplicou nos anos 90 e no princípio da década passada, a crise das dívidas não existiria. Daí a pensar que existe uma intenção hegemónica vai um golfo de distância e isso não faz mais do que ressuscitar velhos estereótipos a que se tem que dar o nome que merecem, a saber, racismo e xenofobia. Não deixa de ser curioso que aparentemente durante a última semana em que se discutiu a possibilidade de sanções a Portugal, Schaeuble não esteve apenas calado, como terá dito a Centeno que a Alemanha prescindia das sanções, ele que as considerou um incentivo. Eu posso estar a ser ingénuo, mas o facto de que Portugal se colocou do lado da Alemanha na questão dos refugiados, que se tornou muito mais relevante para Merkel que a crise do Euro, não terá algo a ver com isso? A diplomacia é também a arte de tecer as alianças na medida em que elas se vão tornando necessárias...

Anónimo disse...

Hum!
Agora temos o elogio de Schauble pelo seu "silêncio " da última semana?

E temos também a crença na crença dos alemães a justificar mais concretamente o quê? Que tudo a que assistimos não passa de um enorme equívoco e o que fizeram por exemplo à Grécia foi apenas para proteger o ideário ilusionista de Schroeder?
Há infelizmente aqui algo que escapa. E que cheira muito mal.

Por exemplo sobre o que Schauble disse ou não disse baseado nos boatos que acolhem uma imprensa enfeudada ao serviço do directório( e a essa figura sinistra de Schauble):

"A Comissão Europeia nega que tenha havido qualquer influência do ministro alemão das Finanças, na decisão do colégio de comissários para que Portugal e Espanha não fossem multados, por não terem corrigido os seus défices no tempo devido."

Entretanto pela mesma altura do elogiado "silencio" daquele que disse que estava mais precupado com Portugal do que com o "seu" banco", dizia o seu homem de mão:
"Temos uma segunda opção( para Portugal e Espanha) A nossa ameaça de corte nos fundos estruturais do orçamento europeu é séria", disse Günhter Oettinger ao semanário alemão Der Spiegel"

Há quem goste deste jogo de mete nojo e de chantagem.Mas há ainda pior. Há quem nos tente vender este jogo

Anónimo disse...

O racismo e a xenofobia são coisas terríveis e horríveis. Vindos de onde vierem. Mas a cegueira tem coisas que vão de par com tais atitudes e que conduzem as mais das vezes a situações que replicam aquelas enormidades.

Por exemplo o caso do estado de Israel. As antigas vítimas tornaram-se algozes.

Daí que não adianta o espantalho de xenofobia quando se discute a posição da Alemanha e do directório europeu. Tal como não adiantou o falso espantalho da extrema-direita como vencedora do Brexit.

Porque mais uma vez há que diferenciar entre os que trabalham e os que se apropriam do produto de trabalho destes