segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Leituras


«Hoje, "dois Portugais" existem e vão a eleições. Um está à vista todos os dias, outro tornou-se invisível, mas está cá. Como é que é possível ele ter desaparecido de modo tão conveniente neste ano eleitoral? É conspiração dos media, é censura induzida, é habilidade de um dos "Portugais", é apatia, resignação do outro "Portugal", é incapacidade do sistema político representar ambos, ou só um, é o efeito daquilo que os marxistas chamavam "ideologia dominante"? É, porque já não há dois, mas apenas um só, e este é o Portugal feliz, redimido dos seus vícios passados, empreendedor, cheio de esperança no futuro, deixando a "crise" para trás, virado para o "Portugal para a frente"? É tudo junto, menos a última razão. Um dos "Portugais" está de facto invisível nestas eleições. Quem devia falar por ele, não fala e quem fala não é ouvido. Criou-se uma barreira de silêncio onde apenas se ouve a propaganda. Vejam-se as miraculosas estatísticas. Começa porque há as estatísticas de primeira e as de segunda, as que valem tudo e as que não valem nada. As "económicas" são de primeira, as "sociais" são de segunda. Das primeiras fala-se, as segundas ocultam-se.»

José Pacheco Pereira, Dói-me Portugal

«O principal sucesso do atual Governo não foi a aplicação do programa de reformas, nem o cumprimento das metas do memorando (que aliás falharam todas, com exceção da receita arrecadada com as privatizações), e muito menos a melhoria significativa das condições de financiamento da dívida pública (que foi determinada pela ação do BCE). A principal conquista da coligação ao longo desta legislatura foi a consolidação da ideia de que o problema do país radicava num excesso de despesismo de todos e cada um de nós e de como a expiação para esse mal dependia de uma austeridade, económica, política e, claro está, moralmente virtuosa. Esta ideia assenta no pressuposto de que um comportamento individual errado foi a causa dos nossos infortúnios coletivos. Assim, num movimento típico do pensamento pré-moderno, os sacrifícios pelos quais tivemos de passar foram a paga pelos erros anteriores.»

Pedro Adão e Silva, A vitória da culpa

«Onde estão todos aqueles que diziam que era preciso fazer o que foi feito para agora analisar as consequências do que foi feito? Onde estão os economistas dos debates de há quatro anos? Na verdade, aquilo que vemos é que tão boas ideias tiveram muitos defensores antes de serem aplicadas e, agora, que foram aplicadas, nenhuns defensores têm. Será por razões políticas, pois afinal não acreditam no actual governo? Será por cansaço? Será porque acham que o que foi feito não foi suficiente e por isso afinal estão desiludidos? Ou será porque, afinal, quatro anos de experimentalismo deram uma pequena lição de história, a lição que faltava para se confirmar que as economias são algo mais complicado do que parece, que as economias da periferia de uma união monetária precisam, afinal, de uma análise mais profunda? É por isto que acho que o Governo do país deve mudar e deve mudar em força. Houve muitos erros, muitos mesmo, erros que podem ser revertidos - por quem neles não acreditou - e quanto mais cedo melhor. Simplesmente.»

Pedro Lains, Errar uma vez basta

5 comentários:

Jaime Santos disse...

Por tudo o que esta dito acima e mais, votar para mudar de Governo e para cada pessoa que tem os olhos bem abertos mais do que um dever cívico. E um ato elementar de Higiene Política.

Anónimo disse...


Por tudo o que esta dito acima e mais, votar para mudar de Governo e para cada pessoa que tem os olhos bem abertos mais do que um dever cívico. E um ato elementar de Higiene Política.

7 de setembro de 2015 às 15:03

Jose disse...

«...o Portugal feliz, redimido dos seus vícios passados, empreendedor, cheio de esperança no futuro...»
INADMISSÍVEL!
Que seria feito dos magotes de opinadores, doutrinadores, salvadores e treteiros deste país se uma tal catástrofr ocorresse?
INACEITÁVEL!

Jose disse...

«...o pressuposto de que um comportamento individual errado foi a causa dos nossos infortúnios coletivos.»
Que coisa tão pré-moderna!!!
Nós somos modernos, mais, somos já pós-modernos!
Somos colectivo, massa, cardume, enxame, praga!
Qual responsabilidade individual? Por definição somos inocentes, se alguém tem que pagar não nós os inocentes.
Na dúvida pague quem é credor, que se o tem é certo que explorou inocentes.

Jose disse...

Os erros podem ser revertidos:
Endividamo-nos - reverta-se.
Défice - reverta-se.
Desemprego - reverta-se.
Pobreza - reverta-se.
Enriquecimento ilícito - reverta-se.
Espera aí...vou pensar melhor...
A minha gente ao poder e o resto que se f***