quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Os privados são mais eficientes


A definição de Eficiência da wikipedia ensina-nos que "Eficiência refere-se à relação entre os resultados obtidos e os recursos empregados." As licenciaturas de economia ensinam-nos que os privados são mais eficientes. Portanto, a fazer fé na wikipedia e na academia, os privados são quem consegue melhores resultados com os mesmos recursos, ou os mesmos resultados com menos recursos, ou melhores resultados com menos recursos.

Afinal é simples a economia. Mas imaginemos que chega um ladrão de bicicletas e pergunta se os resultados (e os recursos) pretendidos de uma empresa pública e de uma empresa privada são os mesmos. E se são comparáveis. Aí entramos num debate interessantíssimo, que podemos empreender pensando na inserção de uma empresa como a PT no contexto de uma economia como a portuguesa.

A esquerda passa a vida a falar sobre o sectores estratégicos, mas o que quer isso dizer? Uma das formas de definir o que é um sector estratégico é avaliar o seu impacto no resto da economia. O sector das comunicações fornece serviços a um conjunto de consumidores finais e empresas que tem crescido e vai continuar a crescer. Isso quer dizer que o preço e a qualidade dos serviços de uma empresa como a PT são um factor de competitividade (ou falta dela) de muitas outras empresas e sectores inteiros da economia. Os preços da PT afetam os preços de muitas outras empresas. A qualidade dos serviços da PT afeta a qualidade dos serviços ou produtos de muitas outras empresas. É por isso (e por outras coisas) que a PT é uma empresa estratégica.

Antes da sua privatização, a PT era uma empresa altamente lucrativa, mas, para além disso, era um pólo de investigação e inovação e um factor de modernização da economia portuguesa. Muitas destas actividades repercutiam-se negativamente nos resultados da empresa, pelo menos no curto prazo. E o seu contributo para o país, embora indiscutivelmente importante, é difícil de medir ou comparar. É isso, aliás, que permite que muitos dos méritos da actividade da PT nesse período sejam atribuídos à liberalização do sector das comunicações, apresentado como o caso de sucesso das privatizações portuguesas.

Por outro lado, desde a sua privatização, a empresa distribuiu montantes recorde em dividendos aos seus accionistas. Desde 2000, a PT distribuiu aos seus accionistas mais de 800 milhões de euros por ano, em média. Mais de 70% dos quais para fora do país (sim, isso é relevante). No total, cerca de 130% do seu próprio valor accionista. Quando avaliada através do indicador preferido dos liberais, RoE (Return on equity), a privatização da PT e a sua vida privada, que neste momento se afigura curta, só podem ser descritos como um sucesso formidável. Numa lógica completamente diferente da que poderíamos utilizar para o seu papel enquanto empresa pública, como é bom de ver.

Este processo de descapitalização acelerada, somado a alguns negócios, tão ruinosos como pouco claros, terá como desfecho, qual cereja em cima do bolo, a venda a um fundo abutre, para desmembramento e venda à peça. Assim, num período relativamente curto, uma empresa pública sólida, capitalizada, inovadora, será reduzida a escombros, depois de ter sido previamente drenada, no que só pode ser qualificado como vampirismo financeiro.

Deste Governo não se poderá, obviamente, esperar qualquer iniciativa a este nível. Da regulação, sempre invocada nos processos de privatização como a garantia eterna do interesse público, é melhor nem falar. Tudo isto se passou e continua a passar no livre funcionamento dos mercados, perante a placidez de governo e reguladores. Com um certo tipo de "eficiência", em que "os mercados" são, de facto, imbatíveis. Para o interesse público, será uma tragédia, mas isso já não cabe no conceito de eficiência, tal como ele continua a ser ensinado.

Esta história serve, no entanto, para ensinar a quem não tenha aprendido com o sector financeiro, a EDP, a Galp, etc., uma coisa muito simples. Se um país quer ter uma estratégia de desenvolvimento económico, tem de ter instrumentos para essa estratégia. Para isso, precisa de ter empresas públicas, pelo menos dominantes, em todos os sectores decisivos para essa estratégia. E quando digo "ter", quero dizer ser dono e controlar. O resto são boas intenções, conversa ou corrupção.

10 comentários:

Anónimo disse...

Eu cá sou simples:Nacionalize-se a actividade bancária ,as telecomunicações, a energia e o q mais se verá.E,prenda-se estes TERRORISTAS sem dó,nem piedade!para não dizer q devam ser encostados à parede-para Crimes contra a Humanidade.E, mai n
ada

Luís Lavoura disse...

A PT também era excelente para os consumidores, como todos nos lembramos. Há oito anos atrás cobrava 15 euros todos os meses só para uma pessoa ter um telefone fixo. E, quando essa pessoa pedia para desligar a linha, a PT só a cortava, por lei, 15 dias mais tarde - e o consumidor tinha que pagar a linha esses 15 dias extra.
Ainda bem que a PT foi para a puta que a pariu. Há uma dezena de anos que não sou consumidor dela nem de nenhuma das suas descendentes, e acho muito bem que ela desapareça.

Anónimo disse...

"Uma das formas de definir o que é um sector estratégico é avaliar o seu impacto no resto da economia."
E o impacto estratégico da construção civil? E da distribuição (logística)?
(só para dar 2 exemplos) Nacionalizam-se as empresas destes sectores?

"Os preços da PT afetam os preços de muitas outras empresas."
A PT é a única empresa do sector de telecomunicações a actuar em Portugal? Experimente comparar os preços oferecidos às empresas.

Anónimo disse...

Caro Luís Lavoura,

Todas as empresas de telecomunicações funcionam com base em ciclos de facturação.

Se mandar cancelar um serviço também o mesmo só é desligado se for comunicado 15 dias antes do término do ciclo de facturação.

Nesse aspecto, nada mudou.

Quanto à assinatura telefónica, ainda é cobrada pela PT em zonas onde não há concorrência.

MM disse...

E quem vai assegurar os serviços 112 e SIRESP?!...

Luís Lavoura disse...

É claro que o José Gusmão não acha que "o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos", porque a General Motors é uma nojenta empresa privada que explora os consumidores com a proteção do governo americano.

Mas já acha que o que é bom para a PT é bom para Portugal, desde que a PT seja uma bela empresa pública que explore os consumidores com a proteção do governo português.

Jose disse...

Na economia, quando se fala de interesse público normalmente quer-se justificar que uns paguem para que outros beneficiem.
Se a empresa é pública, acresce que todos pagam para acoitar a matilha que acolita governos.
A PT teve uma miserável herança cultural - compadrio e irresponsabilidade.

António Geraldo Dias disse...

O estado e o mercado não são coisas separadas por uma barreira que proteja do poder'sombra'do interesse de classe o poder luminoso" do Estado-condensação material das relações entre classes e entre estados o modo como se avança para o estado não é igual nos EU ou na Grécia:"Greece, for example, has a more limited ability to intervene in capital markets than the United States; yet despite this Greece may turn out to harbour revolutionary potential that the United States does not"[Adam Blanden,2015]

Unknown disse...

O exemplo perfeito é o do aeroporto de Lisboa:com a ANA ja estava esgotado ; com o privado dá ate 2025

Anónimo disse...

Na economia quando um neoliberal fala de interesse público é para o estigmatizar e diabolizar.
É para justificar o assalto organizado ao bem-comum e o roubo institucionalizado ao bolso de quase todos, para servir os interesses privados de meia-dúzia.

Mesmo que isso acarrete uma atitude de vende-pátrias e de submissão reptílinea aos grandes interesses económicos, em detrimento do desenvolvimento e da independência do país.

O que faz sobressair a hipocrisia suprema daquela direita extrema que se arrastava no tempo da outra senhora, com a nossa senhora numa mão, uma G3 na outra e os olhos em prece a rezar pela pátria, pela fé e pela caridade.

Os resultados estão à vista. O poder tomado pela direira caceteira e neoliberal, a fazer gerir o que é público, de acordo com os interesses dos que querem a sua privatização.

Um espectáculo feio este dos grandes interesses económicos, para os quais o poder político ideologicamente conotado e seu fiel servidor, não hesita na canalhice e na servidão.

Com os resultados à vista de todos nós ( ou quase todos,porque há quem se alimente da governança neoliberal)

De