sábado, 12 de maio de 2012

Entrepreneurs há muitos...

O desemprego, que não pára de aumentar, graças à compressão da procura gerada pela austeridade, é uma oportunidade, segundo Passos Coelho. Oportunidade só se for para o patronato medíocre baixar salários, disciplinar e desmotivar trabalhadores. Passos Coelho também acha que os desempregados não devem ser estigmatizados. Pena é que as alterações regressivas às regras do subsídio de desemprego, por exemplo, só lancem a suspeição sobre os trabalhadores: é como se os indivíduos, egoístas e preguiçosos por natureza, precisassem de uma maior pressão, como se a responsabilidade pelo desemprego fosse sua e não de uma crise sem fim à vista. Para além de insinuar que o desemprego neste contexto também pode ser o resultado de “uma livre escolha”, Passos Coelho decidiu apoucar os trabalhadores assalariados, opondo-os aos intrépidos empreendedores dos romances de mercado à la Ayn Rand de que terá ouvido falar. A imoralidade e a ignorância andam sempre bem juntas. Adicionem um percurso tão medíocre quanto protegido por patronos poderosos e têm Passos.

Não vou sequer falar do acesso ao crédito e do pormenor do colateral, nem sequer vou falar da procura, que é o que hoje mais condiciona o investimento, antes vou insistir num facto simples do lado da oferta: a inovação de processos e produtos, a inovação tecnológica e tal, é, na, esmagadora maioria dos casos, um processo colectivo realizado por trabalhadores assalariados em organizações, públicas e privadas, que são os repositórios por excelência de conhecimento tácito e codificado. Dou a palavra a João Pinto e Castro, cujo artigo no Negócios desta semana sobre a idiotice de uma certa conversa sobre empreendedorismo é bastante oportuno:

“O facto indesmentível é que, entre nós, o sector propriamente capitalista da economia jamais conseguiu criar postos de trabalho em quantidade (e, já agora, em qualidade) capaz de dar ocupação a uma parte substancial da força de trabalho nacional. Seja qual for a explicação, podemos estar certos de que esta proliferação de empresas anãs – que, espantosamente, se acentuou nas últimas décadas e, ainda mais espantosamente, alguns querem consolidar – é uma receita infalível para a improdutividade e a pobreza.”

Acho que este cartaz em portuglish ilustra bem o estado da coisa.

10 comentários:

José M. Sousa disse...

nas páginas 34 e 35 pode constatar-se que o auto-emprego (resultado do suposto empreendedorismo) é mais baixo nos países ditos mais desenvolvidos e ricos, com os EUA (7.3% em 2005) ao passo que a Grécia tem 30.1%!

Max disse...

O "Esquerda Republicana" publicou uma listagem comparativa dos países da OCDE no que diz respeito ao empreendedorismo. Entre os países mais empreendedores encontravam-se o México, a Grécia e Portugal. Eu fiquei a pensar que os números apontavam para que haja uma relação entre salários baixos (e consequente baixo nível de vida) que empurra as pessoas para o empreendedorismo (não porque o desejem, mas porque será a única forma de melhorarem o seu nível de vida, o que não conseguem sendo assalariados) e patrões impreparados que por sua vez, por não possuírem as qualificações necessárias, dependem de salários baixos para lucrarem com as respetivas empresas. Assim tipo pescadinha de rabo na boca, mas em espiral descendente. Este post aponta também nesse sentido. O que eu gostaria, eu que nada estudei de economia, era de saber se este assunto foi estudado. Deixo aqui a pergunta num blogue de gente ligada à dita economia.

rui fonseca disse...

"... o sector propriamente capitalista da economia jamais conseguiu criar postos de trabalho em quantidade (e, já agora, em qualidade) capaz de dar ocupação a uma parte substancial da força de trabalho nacional..."

Se o sector propriamente (?) capitalista nunca conseguiu quem é que vai poder conseguir? O Estado?
Como?

À afirmações que não devem ser deixadas a meio do caminho. Se não não levam a lado nenhum.

Quanto muito justificam o recibo do colunista.

Manuel Galvão disse...

A velocidade com que se tem desenvolvido a automatização dos postos de trabalho, substituindo homens por máquinas, é a principal razão do desemprego de hoje na, UE.
É certo que muitas empresas encerraram devido à crise, mas esses encerramentos também ocultam inadaptações aos níveis de automatização de quem fecha as portas.
Mesmo que os governantes implementem medidas que facilitem o aparecimento de novas empresas, essas novas empresas vão continuar a perseguir o objectivo da produtividade, isto é, quanto menos pessoas ao serviço melhor!
A tecnologia está a impedir que os cidadãos participem na produção de bens e serviços. A luta é desigual, pois o prato da balança cai para o lado da tecnologia e não é previsível que essa tendência venha a inverter-se, tais são os maciços investimentos que as sociedades modernas vêm fazendo em I&D.

Boche disse...

Este artigo responde em parte à questão do Max.

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=555265&pn=1

rui fonseca disse...

Volto, só para corrigir a distracção.


"Há afirmações"..., evidentemente.

Carlos Sério disse...

Como pensava Keynes, o emprego não depende apenas do nível salarial, da mobilidade ou flexibilidade do emprego mas sim da procura, pois as empresas só criam emprego quando estão convencidas que as vendas dos seus produtos estão garantidas. Assim, a produção e o emprego estão directamente associados às expectativas de vendas dos empresários. Os economistas clássicos, (hoje os neoliberais) confiam cegamente no mecanismo dos preços. Para eles, todos os mercados – mercados de trabalho, mercado de bens e mercado de capitais – são mantidos em equilíbrio através do preço associado. Afirma Milton Friedman, um dos teóricos neoliberais - se há desemprego então deverão reduzir-se os salários e se esta diminuição de salários não for capaz de gerar emprego, então é preciso continuar a baixar os salários.

Max disse...

obrigado Boche.

marina disse...

não queria ser malcriada ,mas não me resta mais remédio. o senhor e o pinto e castro , pessoas tão espertas , qualificadas e xpto , pq não abrem as tais empresas que possibilitam o resto dos mortais de não serem empreendedores ? é que isso de serem uns frei tomás dedicados ao bla bla bla , é assim..digamos , palermoide?
se acham os empresários medíocres , substituam-nos , que nada vos impede , por favos. agora , se não sois capazes de fazer melhor , tendo todos os atributos de xptoices , porque no se callan?
a cobardia é feia de se ver. e mascarada de coragem erudita , então , puuuuuuu , não há pachora.

marina disse...

e depois não se percebe ao certo o que pensam : do ponto de vista da esquerda deviam era dar pulos de contentes por no méxico , em portugal e na cochinchina haver tanta malta a fazer-se à vida livre do jugo do patronato , e gritar contra os capitalistas da américa que fazem de todo mundo um assalariado , non? ou querem todo mundo assalariado para a esquerda não perder clientes?
sol na eira e chuva no nabal ? não há.
não está em causa a idiotice do passos , diga-se. palerma todos dias e nunca mais rebenta a bolha da política de massas. mas esse puxar a brasa à vossa sardinha , sem saber fazer , só inútil bla bla bla , chateia-me também.