quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quem é soberano?

Em artigo no Financial Times, o economista Paul De Grauwe assinala o óbvio: só o BCE, graças à sua capacidade de emitir moeda, pode ajudar a superar a contagiosa crise sistémica do euro, resultado da redução institucional dos Estados a famílias, agindo como seu credor de última instância, financiando-os, tal como faz com os bancos. Relembro o que escrevi no i no ano passado:

A zona euro não tinha de se esfarelar assim. Atentem no Japão: um país com uma dívida pública sem precedentes, que representa 227% do seu PIB, consequência da oscilação, que dura há mais de uma década, entre recessão e estagnação, depois do rebentamento de uma bolha imobiliária causada pela liberalização do sistema financeiro. Apesar dessa dívida, o Japão não tem problemas de financiamento, porque tem um banco central que faz o que é tão necessário como escandalosamente simples: detém metade da dívida pública do país, imprimindo moeda para a adquirir e devolvendo os juros ao governo. Os países verdadeiramente soberanos podem fazer coisas semelhantes: do Canadá ao Reino Unido, passando pelos EUA.

O horror da inflação! Já ouço os gritos dos economistas que vivem numa bolha académica feita de agentes omniscientes e de mercados auto-regulados. Onde está a inflação no Japão? Onde? Na Europa ou no Japão, aliás, o problema é a deflação e os seus efeitos perversos: aumento do fardo real da dívida e destruição da capacidade produtiva. As transferências financeiras para os Estados europeus com problemas, por outro lado, são escandalosamente pequenas para uma região que partilha a mesma moeda. A tragédia da zona euro é que, graças aos tratados bizarros, inspirados nos ainda mais bizarros modelos económicos, o BCE só pode salvar o euro se agir na linha do teórico protofascista alemão Carl Schmitt: soberano é aquele que define a excepção à regra.

Sem poderem imprimir moeda e sem o mecanismo de desvalorização cambial, numa União que parece um FMI na América Latina, resta às periferias europeias usarem uma das armas dos fracos…

6 comentários:

Anónimo disse...

ótimo texto

Anónimo disse...

Check this out http://ampedstatus.com/the-wall-street-pentagon-papers-biggest-scam-in-world-history-exposed-are-the-federal-reserves-crimes-too-big-to-comprehend/

Anónimo disse...

Esta europa está a ser sabotada a partir de dentro(não é por acaso)vejam o perfil dos gerentes desta europa e vão entender porque não é resolvida a crise,as elites tomaram conta dos poderes através de grupos não oficiais mais ou menos ocultos,bilderberg??Hã?

Força Força Camarada Vasco disse...

Relembro que nos últimos 3 anos

os americanos imprimiram biliões

a 10 elevado a 12

ou triliões na escala curta)

de dólares virtuais e físicos

e nem por isso resolveram o problema

soluções?
controle financeiro federal.....
só que além de já ser tarde

é impossível

blabla disse...

Tretas … o que passou como uma crise nos “states “ foi antes uma "sabotagem" na gráfica feita pelas “titis do tea”…de resto o triple lá está …e siga o barco como bem diz e bem o post…

Paulo Alexandre Trindade de Jesus disse...

É como na divida: a legitimidade já seria uma ajuda...Fosse a soberania que se exerce em nome da Europa mais interessada pelos europeus e tenho a certeza de que os erros economicos estariam já a ser corrijidos pela politica.Assim como alguma esquerda precisa de assumir que o capitalismo ainda é o melhor sistema economico, tb alguma direita precisa assumir que a democracia é o melhor sistema politico.Olha e porque não pensar em Capitalismo Democratico?...Se todos juntos é que sabemos tudo...
(ocorre-me pensar que "Democracia Capitalista" já foi perjurativo,meu deus tantos complexos...)