sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ainda acerca dos motins no Reino Unido


Ainda em relação aos motins no Reino Unido - e na sequência das patéticas tentativas de argumentar que o que se passou não teve causas estruturais -, o The Guardian tem vindo a publicar e analisar os dados de mais de mil processos, já julgados em tribunal, de indivíduos acusados por roubo e conduta desordeira neste contexto. Conclusão: jovens, na sua vasta maioria do sexo masculino, desempregados e residentes em bairros pobres.

É, aliás, muito revelador que o texto para que remete a postagem minimalista no Insurgente argumente que os motins não podem ter sido causados pela pobreza uma vez que, em termos absolutos, os apoios sociais e a situação dos mais pobres em Inglaterra podem ser considerados relativamente favoráveis face a muitos outros contextos. Como refere alguém nos comentários, “se assim fosse, o Bangladesh e o Lesoto teriam motins dia sim, dia não”. Acontece que a realidade é mais complicada do que estas análises estreitas conseguem conceber: o nexo condições estruturais - reacções violentas não funciona através do desencadear destas últimas quando se ultrapassa, no sentido descendente, um qualquer limiar arbitrário de rendimento, mas sim através das condições de socialização, da desigualdade, da alienação e da destruição do sentido de que ‘estamos todos no mesmo barco’. Mas claro que isso é impossível de perceber para quem está formatado numa ideologia que, entre outras coisas, produziu uma teoria económica em que a ‘utilidade’ individual é independente da distribuição e da posição relativa nessa distribuição.

Os motins no Reino Unido mais não foram do que o reflexo no espelho de uma sociedade em que os banqueiros socializam centenas de milhares de milhões de libras em perdas para depois continuarem a actuar como dantes e em que a máquina de produção ideológica às ordens do ignóbil Murdoch comete crimes e os principais responsáveis escapam impunes. Quando a lógica estrutural da sociedade consiste em passar por cima de tudo e todos, como podemos surpreender-nos com estes resultados?

8 comentários:

Diogo disse...

Excelente post. Muito bom!

Anónimo disse...

Pergunta: se não existissem banqueiros acabava a criminalidade, a depravação moral e a estupidez? Hilariante.

O sistema financeiro tem problemas, e precisa de ser melhorado, certamente. Faz-me é imensa confusão falar em reles animais humanos como a escória por detrás daqueles tumultos no Reino Unido ao mesmo tempo em que se fala em sistema financeiro.

No dia em que reformar o sistema financeiro for justificado como profilaxia àquilo que vimos no Reino Unido, é o dia em que estarei, por razão de princípio, contra qualquer reforma.

Caros amigos, subsidiar os reles pode acalmar a efeverscência da sua natureza, mas não deixam de ser reles. É preciso, isto sim, combater os reles, eliminando-os.

A única coisa em que provavelmente estamos de acordo é de que o sentido da depravação moral daqueles reles animais humanos é explicado pela sua forma degenerada de vivenciar o que os rodeia: o consumo como medida de todas as coisas.

Mea Culpa Mea Maxima Culpa Miserere Dominus Meo disse...

Pois....

e salteadores revolucionários em cada curva
o poder popular pelo saque tem longa história com períodos de acalmia

a guerrilha do remexido ou o bando do zé com telhado pretendiam ser a alternativa ao poder burguês das gentes com teres e haveres de sobra

Os putos de 12 anos têm a rua e o álcool e o consumo de bens ou a sua ausência tirando o tráfico de droga e o roubo ocasional não têm forma de sustentar esses consumos

As putas de 12 anos têm dependendo do desenvolvimento as discotecas e o sexo ocasional como fonte de receitas, algumas também têm o tráfico e o furto em lojas com trocas de bens

Os de 16 já têm outras fontes de receita

Mas em bairros onde a maioria está desempregada ou é subsidiada

aceder aos bens ao álcool e à droga que tiram o tédio das vidas

é apanágio só dos mais ricos

Em Malange ou em Nova-Lisboa em 75 roubavam-se as casas abandonadas pilhava-se roubava-se o passeante ocasional violava-se

É o que chama de ralé criminosa que faz a espinha de todas as revoluções

O anarquista cheio de ideias elaboradas e disposto ao sacrifício
é uma minoria

os putos gregos que foram feridos e um morto nos confrontos com a polícia não são anarquistas

são como os de Belfast os de Luanda
os os pioneiros de Siad Barre pós 91...ou a maralha que andava ao saque em 75 e 76 (e em 2009 a 2011)nas herdades e nas casas dos emigrantes e a ROUBAR SACHOLAS nos campos para as vender aos comerciantes nas feiras

pensam sempre no que podem ganhar com uma revolução

seja a pilhar as casas dos Thalassas ou dos marxistas caídos na desgraça pós Agosto de 91 ou ceausescu

ou os mil pares de sapatos de Imelda Marcos

ou queimar as casas dos figurões da Tunísia...

para quê queimar as casas dos que fogem...é a catarse da destruição que dá poder

seja atirar uma petrol jar bomb de um sítio onde se foi despedido ou escorraçado

ou o mesmo dispositivo com o nome de cocktail sobre um banco ou um carro da polícia

No Marasmo da fome disse...

revoluções só são insolúveia em águas quentes

UM PAÍS INSOLÚVEL EM ÁGUA É SOLÚVEL EM CAFÉ OU EM CERVEJA?
ILUMINADOS PELAS CERTEZAS INCONTESTÁVEIS DE COMO SE CONSTRÓI UM REVOLUCIONÁRIO

E UMA REVOLUÇÃO MUITOS FECHARAM AS JANELAS E AS PORTAS

AOS PUTOS E PUTAS POBRES E RICAS QUE PROCURAVAM ENCHER OS VAZIOS DAS SUAS VIDAS

COM BENS COMO VIRAM OS PAIS A TELEVISÃO E OS MORANGOS COM SUCRE FAZEREM

TER COISAS ESTAR BEM VESTIDO TER COISAS BOAS

COISAR COM GAJOS OU GAJAS BONS EM BONS CARROS EM BONS SÍTIOS

COMER E BEBER DO MELHOR SNIFAR DO BOM

TER COMPRIMIDOS PARA AGUENTAR A NOITE E O DIA

É SER-SE ALGUÉM NO MEIO DA MULTIDÃO

NÃO SÃO RICOS MAS PODEM VIVER COMO SE O FOSSEM

TÊM ESTILO TÊM SEXO SÃO ADMIRADOS PELO QUE FIZERAM

E É SÓ

BASTA-LHES A SUA PÁGINA NO FACEBOOK OU NOUTRO LUGAR FICTÍCIO QUALQUER

VÊ-SE OS GAJOS E GAJAS A MALHAR A MOCAR A BEBER A CURTIR

A CURTIR O QUÊ?

A VIDA...A ÚNICA QUE TERÃO ATÉ SEREM VELHOS DEMAIS PARA A TEREM

A miopia que os impede de ver QUE NÃO HÁ diferenças

entre um arrastão e uma revolução tem as suas raízes, compreensíveis, NA IDADE

no excesso ou na falta dela
em quantidade mensurável

Anónimo disse...

Têm toda a razão. As causas que apontam e a composição social são muito semelhantes à dos grupos Hooligans e neo-nazis. Devemos ter co mpreeensão por este lastro estrutural e não aplar à responsabilidade dos indivíduos que compõem esses grupos.

Ana Paula Fitas disse...

Caro Alexandre Abreu,
Fiz link... e agradeço.
Um abraço.

Zuruspa disse...

Quando diz

"Caros amigos, subsidiar os reles pode acalmar a efeverscência da sua natureza, mas não deixam de ser reles. É preciso, isto sim, combater os reles, eliminando-os."

está a falar dos subsídios obscenos multimilionários dados do Erário Público aos reles directores dos bancos que deviam ter ido para a falência?
Se tal for, concordo em absoluto, há que eliminar esses elementos parasitas reles da sociedade: os banqueiros e especuladores financeiros!

Juiol disse...

Que carrada de barbaridades. LOL

Um dia destes crescem, vão ver.