quinta-feira, 30 de junho de 2011

É aquele o nosso caminho?

Ricardo Costa deverá ter carteira profissional de jornalista mas na realidade há muito tempo que não faz jornalismo. É visível que uma parte importante da sua actividade consiste em formatar a opinião pública portuguesa através do que diz na televisão e do que escreve no Expresso.

Deslumbrado com Passos Coelho, escreveu há dias o seguinte:

"O liberalismo de Passos Coelho tem uma raiz curiosa. … Veio do curso de economia e da gestão de empresas. … A crise da dívida pública e a trágica reacção do governo de Sócrates à crise, sobretudo a partir da campanha de 2009, tornaram as suas ideias mais ou menos ‘centrais’. O pedido de ajuda externa e o memorando da troika tornaram-nas inevitáveis. Estão assim criadas as condições para uma das mais relevantes transformações da sociedade portuguesa. Porque as circunstâncias assim obrigam e porque Passos assim pensa. … Muito se tem falado da Grécia, mas os olhos de Passos Coelho estão postos no Reino Unido. Se não formos ao fundo é aquele o nosso caminho.”

Ricardo Costa rejubila com a transformação neoliberal da sociedade portuguesa que o novo governo se propõe alcançar. Porém, cego pela ideologia que professa, ainda não conseguiu ler as notícias dos jornais ingleses sobre os riscos de recessão que a política de austeridade praticada por David Cameron está a produzir no Reino Unido. Felizmente, a política monetária expansionista e a desvalorização da libra vão compensando os estragos da política orçamental recessiva, também lá a pretexto de uma dívida (considerada excessiva pelos conservadores) que acabará por não baixar significativamente.

Se Ricardo Costa recusa a aprender alguma coisa com as consequências da austeridade neoliberal imposta à Grécia, ao menos que perceba que o Reino Unido dispõe de política económica própria. E ainda assim ...

O fervor ideológico de Vítor Gaspar na política orçamental de austeridade, a que se junta a política monetária recessiva conduzida a partir de Frankfurt, vai mesmo levar-nos ao fundo. Qualquer economista que não esteja possuído pelos dogmas da “economia da oferta”, e pelas ideias de Milton Friedman, sabe que o governo não vai travar o crescimento da dívida porque nenhum governo controla as receitas públicas. Esperam-nos sucessivos cortes na despesa e aumentos nos impostos à medida que a receita fiscal deixa de ser cobrada em resultado da recessão.

Não haverá exportações que nos salvem. Os resultados do défice no primeiro trimestre deste ano (7,7%) ilustram bem a dinâmica para o abismo que já começámos a percorrer. O que virá a seguir vai depender da forma como o povo português assimilar a dolorosa experiência da Grécia.

Mas também vai depender da capacidade dos que estão conscientes deste desastre em fazerem-se ouvir no espaço público para confrontar Ricardo Costa e demais colegas propagandistas do neoliberalismo com a sua ignorância, sectarismo ideológico e a grande responsabilidade que têm pela falta de pluralismo de opinião dos órgãos de comunicação que dirigem.

Creio que não será preciso um ano para que a maioria dos portugueses perceba isto.

12 comentários:

Anónimo disse...

O caminho para o abismo está bem explicado. Qual a forma de o evitar sem perder o acesso ao crédito?

L. Rodrigues disse...

Curioso ler este post depois de ver online uma palestra de Richard Wolff, economista americano que vaticinava que a seguir à Grécia estimava (ressalvando que os economistas são demonstradamente inaptos a prever o futuro), seria precisamente a Inglaterra o próximo país a entrar em colapso...

Paulo Pereira disse...

Confundir o Reino Unido que tem moeda própria com Portugal que está no EURO (uma moeda não própria) não faz sentido.

O R.U. não tem qualquer problema em financiar os seus deficts publicos, como se pode ver pelos juros baixos que lá existem.

EM Portugal não há outro caminho que não seja o aumento das exportações e a diminuição das importações.

O autor não propõe nada , apenas critica, emobra as criticas tenha uma parte de razão.

João Carlos Graça disse...

Caro Jorge
"Não haverá exportações que nos salvem". Dizes bem. Dizes no alvo. Aliás, se o célebre Memorando prevê uma descida do PIB relativamente modesta (optimismo oficial a mais, claro, paninhos quentes), isso está assenta na falácia de que é suposto as exportações crescerem verdadeiramente a passo de cavalo e simultaneamente as importações decrescerem drasticamente.
Ou seja, é porque se antevê um cenário que, por definição mesmo, não pode ser generalizado ao conjunto da UE...
Dito de outro modo, é porque se assume precisamente um "Beggar Thy Neighbour" interminável no interior da dita UE.
A Troika, em suma, mente a cada membro de UE duma forma não susceptível de ser generalizável a todos eles. Isso já diz tudo acerca da probidade intelectual dos tipos...
Com política monetária independente teríamos um pouco mais de condições para conseguir isso, claro, precisamente através duma desvalorização competitiva... Mas não deveria ser para prosseguir uma estratégia "britânica", a qual pouco melhor é do que nossa actual (embora nós sejamos de facto um bocado mais suckers do que eles neste enorme "confidence game" global, por causa da sobrevalorização monetária).
Em suma, é preciso: 1) sair do Euro; 2) depois disso, adoptar uma política económica global assente em pressupostos muito mais keynesianos, mas garantindo em simultâneo a sustentatiblidade a prazo desse empreendimento tratando de assegurar a competitividade e a qualidade das exportações: entre outras coisas, através de medidas de discriminação positiva e de política industrial activa, vedadas pela "filosofia europeísta" muito pró-concorrência.

João Carlos Graça disse...

Ah, sim... e quanto aos nossos pequenos candidatos a "Goebbels económicos", nem falar. Concordo contigo a 200 por cento, claro.
Aliás, por uma questão de saúde habituei-me a deixar de os ouvir. O nojo é demasiado... Mas obrigado por me "filtrares" a coisa, permitindo-se continuar a par dos mentideros...

Anónimo disse...

mas fazer-se ouvir como se quem tem opiniões diferentes é posto a andar dos jornais?

Anónimo disse...

O jornalista Ricardo Costa nos seus comentários ou no contraponto que faz entre opiniões apresenta uma velocidade de raciocínio que pode impressionar agora não devemos confundir isto com isenção ou imparcialidade. Ao vermos televisão somos confrontados(com DEMASIADA frequência) com jornalistas ou comentadores que apenas olham para um dos lados e não me consta que seja para o lado dos que menos têm aliás até acho que muitas vezes utilizam estes últimos para garantirem o seu status quo.

Anónimo disse...

Temos o Prof. Marcelo dono del common sense, o Costa, o Delgado, o Sousa Tavares, a Constance, a Ines, o Fernandez,outros que não fixo da TVI, o nome, todos ilustrissímos e consumíveis intelectuais, muito acima do nível do trio de ataque, dos donos da bola. Eu vou a explicar, para resolver a coisa ha que reducir o deficit, diminue-se os empréstimos ao estado,o M3 aumenta, baixam o juros, aumentam os investimento,o emprego, sobem as receitas fiscais, estamos quase com superhavit, se desvaloriza a moeda para compenzar, sobem as exportações, tudo uma maravilha, esqueci algo, ahaa, a procura, que diabo, fé em deus, os mecanismos automáticos são para isso, confianza, bom bom era uma guerra com Espanha, mas podemos perder, mas entretanbto compramos mais uns submarinos alemães, que pagamos com uma segunda dose de troika, 2014?

Tomás Guevara disse...

Os meios de informação são um dos mecanismos fundamentais usados pelo poder para a sua perpetuação.O cuidado com que se escolhem "comentadores" oficiais e como estes espalham a voz do dono,só é comparável com o cuidado com a manutenção dos media nas mãos adequadas de meia dúzia de adequados "impérios".A saga continua,espalhando-se a verdade indiscutível e o caminho a trilhar que se quer único e sem contestações.Os rebentos proliferam,quer serôdios ,quer recém-chegados à mangedoura:marcelo ou menezes, ou jardim ou costa,ou constança ou tavares ou todos os veniais sujeitos que seguem de facto uma cartilha:a do dono.Com os métodos também antigos : de goebbels

Anónimo disse...

O Ricardo Costa é de facto um autêntico nabo, com rama e tudo.
Farta-se de mandar bitates mas quase tudo aquilo que diz, para além de demonstrar sem qualquer dúvida a sua veia ultra-neoliberal(talvez influênciado pelo maninho?), não passa de ideias e frases feitas, chavões e bocas foleiras, de quem um boi de nada de nada.
Já irrita, aliás, ouvi-lo com os seus comentários e apartes muitas vezes completamente despropositados.
Mas enfim, ele sempre tem que defender o "seu" e por isso tem de se entender a sua grande sanha neoliberal. Mas lá que já mete nojo lá isso mete.

Anónimo disse...

O Reino Unido (e já vivo aqui há uns anos), não tivesse uma cidade como Londres, pouco mais era do que um país acabrunhado e deprimido. E pobre.

Carlos disse...

As dívidas nunca seram pagas.
A solução que politicos e banqueiros vão seguir resultará na destruição das moedas.

http://www.chrismartenson.com/blog/death-debt/58941