quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ideias e consequências


As consequências económicas do Sr. Trichet, de que fala Krugman, ameaçam as periferias e o euro. Ao pé dele, o republicano Ben Bernanke da Reserva Federal norte-americana parece um perigoso esquerdista. Trichet tem sido o porta-voz de todas as ideias económicas fracassadas, as que nos colocaram neste buraco: do entusiasmo pela bolha irlandesa até à defesa da chamada consolidação orçamental expansionista em economias que nem sequer dispõem de política cambial ou podem contar com reduções dos juros, a justificação insana para a austeridade, passando pela insistência moralista no reforço de regras económicas, que já fracassaram vezes sem conta porque não cuidam da natureza cíclica da posição orçamental dos Estados, pela recusa da reestruturação da dívida ou pela obsessão com a desregulamentação das relações laborais, eliminado um dos travões ao aumento do desemprego, à quebra dos salários e da procura. Trichet não está sozinho, claro. É como se as regras que enquadram a acção do BCE tivessem institucionalizado aí este tipo de pensamento. E é este pensamento que está a levar ao esfarelamento do euro. As ideias têm consequências materiais quando se inscrevem nas instituições que conduzem políticas públicas.

5 comentários:

Paulo Pereira disse...

E como é que o Trichet é apoiado pelo socialista Constâncio e outros ?

O Constâncio é de esquerda ?

João Carlos Graça disse...

Caro Paulo Pereira
No contexto do "consenso de Bruxelas", ser-se "socialista", "democrata-cristão", "social-democrata"... o que que quer que seja... não vale rigorosamente nada. Vivemos, politicamente falando, num universo "lewis-carrolliano". As palavras são hoje em dia uma coisa completamente vazia, incapaz de veicular o que seja... O vocabulário foi já completamente colonizado pela "rainha" e é, talvez, a maior (e mais temível) arma de exercício de "hegemonia" e de manutenção do "sistema" (aliás, só se pode escrever aspeando mesmo quase tudo...)
Não sei se isto se aplica também já à designação de "esquerda". Se o "socialista Constâncio" se incluir naquela, definitivamente sim. Estamos feitos. Não somos mais do que homens-de-palha. "This is way the world ends. Not with a bang, but a whimper"...

Paulo Pereira disse...

Mas a esquerda continua a defender impostos e taxas elevadissimos sobre o trabalho, o que aumenta o desemprego.

Como poderemos reclicar a esquerda para ser menos ignorante e arrogante ?

Paulo Pereira disse...

Não foi a esquerda que apoiou ou inventou este Euro e este BCE estupido ?

Anónimo disse...

João Carlos Graça tem razão. O domínio da língua inglesa é a jogada mais fatal da "rainha". Nem ele escapa à fatalidade.