quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Acabar com a segmentação do mercado de trabalho

Diz o i que «Para aumentar a flexibilidade do mercado e evitar a assimetria entre os trabalhadores do quadro e os contratados a prazo, Bruxelas sugeriu a Portugal que reveja a definição do despedimento por justa causa e reduza, de forma substancial, os custos com as rescisões individuais.»

Postas as coisas nestes termos, quem pode não estar de acordo? Afinal, quem gosta de fomentar a 'rigidez do mercado' e a assimetria entre trabalhadores?

Claro que poderíamos contrapor que a flexibilidade do mercado de trabalho não é um problema em Portugal (como revela este estudo da consultora Ernst & Young, baseado em entrevistas a investidores internacionais - ver pp. 24-25) e que, neste sentido, o fim da segmentação do mercado de trabalho passa fundamentalmente por um combate determinado aos falsos recibos verdes e ao abuso dos contratos a prazo.

Mas é pouco provável que 'Bruxelas' mude o discurso. O tempo é de navegar na onda do medo e da crise para impor o que deveria ser inaceitável em tempos normais.

4 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

Esta história da flexibilidade é muitíssimo estranha. Até onde chegará o PS, que quer ultrapassar pela direita os empresários?

Ontem lia-se no Negócios:

"Quando o coro externo reivindicou o despedimento individual, o Negócios perguntou a associações industriais e grandes exportadores se era esse o segredo para a competitividade instantânea. Resposta: não. Muitas, até nas indústrias tradicionais, puseram outro factor à frente: a energia. Os custos unitários dos produtos exportados não são só salários: são juros, factura energética, impostos, transportes, matérias-primas... O PCP e o BE têm razão: aumentar a competitividade não pode ser apenas gerir o factor de produção trabalho."

dumoc disse...

“…nunca nos devemos esquecer que neo-liberalismo, não é uma prática económica é uma ideologia, os países que se proclamam pró liberal estão todos a infringir as regras. Nos Países Escandinavos, de longe os mais igualitários do mundo, onde o usual fosso entre o salário mais alto e o mais baixo nas companhias é de 4 para 1 e onde ainda se tem os melhores serviços de cuidados médicos e segurança social do mundo, e aí vem a surpresa, ao mesmo tempo estes países estão no topo da competitividade do mercado, logo a seguir de Singapura e Hong-Kong, o que é uma prova clara e empírica que um espírito igualitário, segurança social, cuidados médicos, etc. não põe em perigo, necessariamente a competitividade.” http://dumoc-and-me.blogspot.com/

João Carlos Graça disse...

Convém esclarecer, claro, que o Ricardo tem em mente combater a "segmentação" porque pensa em "nivelar por cima", enquanto a doutorice oficial diz querer combater o mesmo, mas porque pensa em "nivelar por baixo", isto é, acabar com os "privilégios" de vários grupos de trabalhadores que promovem alguma forma de "cartelização" do seu "factor de produção", etc., etc.
Na verdade, vivemos já de facto nalguma forma de sociedade à la H. G. Wells, ou à la Ph. K. Dick, e é como se os nossos "Elois" estivessem mesmo obstinados em transformar-nos a todos em "Morlocks"... (Vide o filme do Ron Howard com o Gibson e o Sinise; pergunto-me como evoluirá nos próximos a taxa de criminalidade violenta entre nós...)

Luís Lavoura disse...

"o que deveria ser inaceitável em tempos normais"

Por que é que deveria ser inaceitável? Então não está de acordo em que é preciso combater a rigidez do mercado e a assimetria entre trabalhadores?