quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobre o último "Nobel" da economia

Para uma análise crítica do prémio mais vale dar a palavra a quem, muito melhor do que eu, conhece o trabalho dos três economistas. Dois bons artigos. O primeiro, de Yanis Varoufikis, começa eloquentemente da seguinte forma: “Imaginem um mundo devastado pela peste e suponham que o Prémio Nobel desse ano é atribuído a investigadores cuja carreira foi baseada no pressuposto de que as pestes são impossíveis. O mundo ficaria revoltado. Assim nos deveríamos sentir relativamente ao anúncio do Prémio Nobel de ontem.” O segundo artigo, de William Mitchell, é um brilhante ataque teórico, arrasador do trabalho galardoado. Não resisto a mais uma citação: “A realidade é que as maiores contribuições deste trio são a de que o desemprego de massas não existe e que o desemprego é, sobretudo, voluntário ou resultado de políticas demasiado generosas de governos “mal aconselhados”.

Finalmente, fica a recomendação de um excelente livro do economista Ben Fine, sobre as diferentes teorias do mercado de trabalho. Uma análise alternativa, bem informada, e muito convincente.

6 comentários:

Manuel Rocha disse...

Entendo perfeitamente a "antipatia" da abordagem, mas se me conseguirem encontrar dez trabalhadores agricolas para a campanha da azeitona a 40 € por dia para a região do Crato, e já agora dois serventes de construção civil, aqui fica desde já o meu agradecimento.
Acrescento que o recurso ao centro de emprego corre mal em 90% dos casos. O trabalhador aparece hoje e vai logo informando que amanhã não pode vir devido a uma consulta marcada, e dessa consulta normalmente resulta uma baixa por uma doença qualquer.
Acrescento ainda a minha estranheza pelo facto de esta Herdade só ser procurada pelos desempregados inscritos no centro de emprego de Portalegre no ambito da "procura activa de emprego" nos periodos em que se tem por assente que não existe procura de mão de obra sazonal.
Como é evidente nada disto se passa com o pessoal Marroquino que começa agora a descer vindo das vindimas do Douro.

Tenho claro que estas observações empiricas em pouco ajudam a abordagem cientifica do problema. Mas era interessante que as academias pegassem no assunto antes de enveredar por explicações mais "confortáveis". No meio agricola, desde as vindimas do Douro às laranjas do Algarve,a falta de mão de obra sazonal tornou-se a grande dor de cabeça do empresário agricola, coisa que encaixa mal quando se ouve falar nos numeros do desemprego.

Cumprimentos.

José Luiz Sarmento disse...

Não seria tempo de os economistas que se intitulam "alternativos" passarem a intitular-se "independentes"? Porque afinal, ao intitularem-se alternativos, estão a dar de barato a ortodoxia dos outros; e estes só são ortodoxos se considerarmos que a "ortodoxia" consiste em fabricar suportes teóricos para conclusões encomendadas.

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

pois...teorias

azeitona a 40 euros por dia só se for como varejador e ê sempre varejei mal tendo em conta que só o fiz por meia hora

varejar cansa
e apanhar azeitona dos oleados cansa ainda mais

se me desse mais uns 200 para despesas de transporte 300 para despesas de representação

e mais uns trocos para alojamento num motel de 3 estrelas

eu até era capaz de ir ver a apanha

José M. Castro Caldas disse...

Caro Manuel Rocha,

Deixo à sua consideração o seguinte.
Fala de 40€ por dia como se falasse dos 40 mil por mês de um banqueiro.
40€ por dia são 800€ por mês. Mesmo para um desempregado há muitas alternativas preferíveis a 800€ por mês por um trabalho sazonal e extremamente duro: receber o subsídio de desemprego (quem o tem)? Sim, é uma das alternativas, e ainda bem. Mas emigrar ou fazer uma série de biscates na “economia paralela”, são outras das coisas que pudemos fazer caso nos encontremos desempregados…
Eu não queria ver chegar o dia em fossemos obrigados, para viver, a recorrer a trabalhos sazonais extremamente duros por 800€ por mês. (Ou será que chegou e eu não dei por isso?). Já conheci dias em que havia quem fosse obrigado a isso e muito mais e ainda por cima preso se fosse apanhado a emigrar.

Ao mesmo tempo compreendo as dificuldades de um produtor de azeite. Sobretudo se for um pequeno produtor. Com as margens comprimidas pelas grandes superfícies o que é pago aos produtores não pode pagar a dureza do trabalho necessário para o produzir.

Song The Sangue disse...

até os Castro Caldas estão no desemprego e compram azeite espanhol

os castros já não são o que eram

Manuel Rocha disse...

Caro Castro Caldas:
Confesso alguma perplexidade com a sua reposta ao meu comentário. A comparação com o banqueiro, p.e., não me passou pela cabeça nem percebo qual a pertinência para o tópico! Será para tipificar duas situações de moralidade questionável, cada qual a seu modo?

“Eu não queria ver chegar o dia em fossemos obrigados, para viver, a recorrer a trabalhos sazonais extremamente duros por 800€ por mês”.( esqueceu-se de acrescentar transporte, segurança social e seguros contra acidentes de trabalho , mas td bem…) Pois eu também não, Castro Caldas! Mas acha que as actividades económicas que envolvem necessidades sazonais de mão de obra ( a agricultura e a hotelaria estão cheias delas ) devem ser riscadas da economia mesmo havendo mão de obra desempregada ( nomeadamente a subsidiada ) apenas porque não está disponível para as desempenhar ?!
Repare: longe de mim defender que a situação ideal não fosse cada um ter um trabalho estável e suficientemente remunerada para lhe permitir pagar o ginásio onde é moda gastar os excessos calóricos que há uns anos era norma serem consumidos em trabalho fisico . Mas daí a aceitar que a sociedade se mobilize ( e bem ) para apoiar um tractorista que teve o azar de perder o seu emprego permanente e depois ele se recuse a aceitar um emprego sazonal de três meses como tractorista porque o tractor com que iria operar não era cabinado ( já aconteceu nesta casa….) vai uma boa diferença, ou não ?

Como referi no comentário anterior, “casos” como os que aponto não bastam para suportar teses. Mas, lá diz o outro, que onde há fumo…

Cumprimentos