quinta-feira, 6 de maio de 2010

Um credo consensual


«Estamos numa economia em agonia que enriquece vendendo a sua carcaça. E tudo o que os contestatários encontram para fazer é tapar o nariz e comprá-la» (Raoul Vaneigem)

A disfuncionalidade moral e a injustiça profunda do capitalismo encontram expressão nas crises cíclicas de que se nutre o credo no “crescimento”, impondo a produção e o consumo de quantidades cada vez maiores de mercadorias graças ao endividamento compulsivo, à psicose da competitividade e, necessariamente, à concomitante imposição legítima (porque assente na permissividade da regulação sancionada pelo voto recorrente nos partidos capazes de manter o status quo dos beneficiários deste credo) - dos mais insidiosos mecanismos produtores de pobreza. As vítimas – sejam os países pobres do hemisfério sul ou as economias tresmalhadas da zona euro, são abandonadas à voracidade dos predadores.

As medidas impostas pelos países ricos e pelas instituições supranacionais encarregues de assegurar a transferência de riqueza para os predadores, vergando a soberania e a dignidade dos mais vulneráveis, afectam sobretudo os rendimentos do trabalho, os mais desfavorecidos, os desempregados. E depois de dois anos de crise do neoliberalismo, de mil e uma promessas de mudança e de reforma da arquitectura financeira do sistema-mundo, o credo produtivista continua vivo e todos procuram maneira de regressar aos dias dourados do “crescimento”, quando o roubo era mais discreto e pacífico e não havia confrontos nas ruas.

A visibilidade da besta cultuada pelos acólitos deste credo, torna-se particularmente nítida quando a linguagem da dissimulação que a exprime se oferece como espectáculo – especialmente quando se materializa em violência. Na Grécia, três desafortunados trabalhadores de uma instituição bancária foram incinerados vivos por uma turba de gente raivosa e artesanalmente armada, à frente, ou nas margens, de uma multidão de outros desafortunados trabalhadores em justo protesto contra o roubo de que são alvo. Não basta noticiar que os trabalhadores enfrentaram a polícia. Nada justifica estas mortes e ninguém poderá reparar a hedionda injustiça deste fim de vida trágico para aqueles três trabalhadores. A quem serve esta estúpida e inútil violência? Quem são os derradeiros responsáveis?

12 comentários:

A.Küttner disse...

Estando de acordo com muito do que aqui foi escrito, parece pouco!

Já não chega, estar sempre a dizer mal, já todos entendemos, mas dá a sensação que, ideias exequíveis para fazer melhor, não existem, fica-se - e é pouco - em tudo criticar, sem nada de positivo sugerir!!!

É facto pouco e sempre e só mais do mesmo...que tantos tão bem sabem sempre fazer!

A.Küttner

maria disse...

Desculpe A. Kuttner, mas discordo que não hajam alternativas e são exequiveis!!!

O que tem é de haver vontade POLITICA para as encetar! A Politica não pode estar refém da finança!!

A Revolta dos cidadãos gregos (e a minha também!) é que nós somos chamados a votar DEMOCRATICAMENTE para definir os destinos do nosso País e depois vem a Finança dizer como é que os governos têm de governar os seus Povos!!! e quase sempre contra eles E À CUSTA DELES!!!

E como ouvi há uns tempos, nesta globalização toda a revolta se torna em guerra civil!!!

HOJE SOU GREGA!!!

a.Küttner disse...

Cara Maria

Que um dos culpados é a alta Finança já deu para entender.

Mas, fazer como os Gregos, matar 3 desgraçados/empregados bancários e andar a partir tudo incendiando automóveis, que por certo não pertencem aos tipos da alta Finança, é muito pouco.

A globalização não pode servir conforme o jeito que nos dá em determinadas ocasiões.

Todos já entendemos que a Globalização é hoje - malhereusement - necessaria, mas que funciona muito muito mal, dado só olhar para o aspecto financeiro e descurar o humano.

Mas não é partindo e destruindo tudo que se humaniza!! acho eu!! aí então, seria de termos pena de a 3ª Guerra Mundial não ter sido ciclicamente quando devia ser, para tudo à maneira das duas ultimas, ter resolvido.......

Profetas da Desgraça e quanto pior melhor, não me parece ser o caminho.

um abraço

A.Küttner

maria disse...

Por favor AK, não me venha com a conversa dos 3 trabalhadores, blá, blá, blá, tenho pena!! mas não veja a árvore veja a floresta!

Violência chama violência, certo?? o Estado está a ser VIOLENTO com as pessoas por isso...

diga-me se não há alternativas que não sejam em cortar nos subsidios, pensões, sempre aos mesmos e que não têm culpa do estado a que o Estado chegou?!?!

se todos já entendemos que a responsabilidade deste estado de coisas é da finança, como é que a finança está a edesenvolver esforços para empreender a economia??!? NADA!!!! (e os seus lucros a aumentarem... como?!?!?!)

HÁ ALTERNATIVAS!!!

HÁ QUE TER VONTADE POLITICA!!!

NACIONALIZAR o que fôr preciso porque o que é nacionalizado é de todos e o que é privatizado é de alguns (sempre os mesmos!! 20!!)

HOJE SOU GREGA!!!
HOJE SOU PORTUGUESA!!!
HOJE SOU POVO DA EUROPA!!!

abraços

croky disse...

A Grécia vai voltar ao dracma.

Read my lips ... ;)

a.Küttner disse...

Cara Maria

Espero que rapidamente comece a incendiar bancos cá no País,mas se for possível antes veja se não estará lá nenhum trabalhador...e comece a matar tudo o que seja malta com dinheiro, parta tudo...

Força

abraço

maria disse...

AK se fosse o meu "estilo" pegar fogo e andar a matar pessoas, tê-lo-ia feito em 25 de Abril de 1974!!! como sabe nada disso aconteceu...

mas fiz tantas perguntas àcerca de como sair desta crise com alternativas, mas isso AK não respondeu...

ah! pois é....blá, blá, blá

A.Küttner disse...

Oh , Maria

Blá, blá, uma ova!

1 - não fazer TGV, AEROPORTO, nem nada no genero

2 - ir reconstruindo tudo o que temos de antigo a cair aos poucos, por forma a dar trabalho útil e fomentar o turismo , logo receitas

3 - agravar muito os impostos a quem tenha hoje reformas superiores a 3.500,00 Euros/ mês

4 - premiar com regras, os melhores em tudo, distinguir positivamete quem o merece!

5 - diminuir mordomias, gastos em todos, todos, todos, os que dependam do Estado

6 - reduzir para 80 os deputados na AR

7 - acabar com todos os Governadores Civis

8 - apostar em I&D

9 - penalizar de facto quem está pelo subsidio de desemprego e não aceita trabalho compatível

10 - acabar nos proximos 5 anos com todo e qualquer bonus de gestores publicos, e não vão todos fugir para os estrangeiro, mas ter em atenção hierquias e diferenciamento correspondente- não alinhar tudo pelo mesmo nivel

11 desenvolver muito mais o turismo para todas as bolsas

12 apostar em novas tecnologias

Quer mais, Maria???Ou ainda está no 25 de Abril....ou vamos buscar um Hitler???????

A.Küttner de Magalhaes

Caporegime disse...

Maria,

Há vinte anos que os salários em Portugal aumentam mais do que a produtividade, todos os anos! (julgo que com apenas uma excepção)... Que injusto tem sido este sistema...

Agora, o “sistema” não faz milagres.. não põe uma senhora de 55 anos, com a 3ª classe, e que foi costureira a vida toda a ganhar um bom ordenado.. certamente não é a Maria que o paga...

Não gera em Portugal um forte investimento nos sectores de alto valor acrescentado se só há meia dúzia de anos é que se iniciaram uns resquícios de investimento sério nessas áreas..

Não garante emprego e bom emprego às fornadas manifestamente excessivas de enfermeiros, advogados, jornalistas e por aí fora, nos quais todos os anos o ensino superior queima o nosso dinheiro, em vez de o canalizar para as áreas acima mencionadas...

Não atrai investimento num país onde nem as qualificações são altas, nem os impostos são baixos nem a lei laboral é flexível.. (qualquer bom exemplo que dê, tipo países Nórdicos ou assim, são muito atractivos numa ou duas das coisas que mencionei... agora… quando o não se é em nenhuma...)

Não evita o forte endividamento das famílias quando os portugueses compram carros, roupa e outros bens supérfluos iguais ao de um Alemão que ganha 4 vezes mais.. e não me venha dizer que só uns privilegiados é que o fazem.. vá a janela e espreite os carros "do povo"...

Enfim.. é sempre a história da galinha da vizinha... olhe.. se fossem os portugueses a comprar a divida do nosso estado não estávamos preocupados com "a finança"... é "a finança" que tem sustentado os investimento publico que temos usufruído.. não têm eles o direito de olhar de canto para nós quando o que nós só damos são maus exemplos? Não seja facciosa.. o que raio faz você de tão útil para a sociedade que não seja entrar e sair a horas do trabalho? Acha que só por isso já faz muito está cheia de moral?

João Aleluia disse...

O que é de salientar neste post, e como já começa a ser habitual nos posts deste autor, é uma foto incendiária (neste caso até literalmente) e muitas palavras de ordem e chavões, mas conteúdo nada.

Criticar o capitalismo, a finança, etc... e é tudo uma conspiração para tramar os pobrezinhos.

O que o autor se esquece, e pelos vistos os comentadores também, é que enquanto os pobrezinhos não tiverem qualificações para fazer nada de util, vão continuar a ser pobrezinhos.

O verdadeiro crime não é cortar nos salarios, nas prestações sociais e no investimento publico, que em Portugal atingem agregadamente níveis insustentaveis.

O verdeiro crime é não haver igualdade de oportunidades, o verdadeiro crime é a destruição do sistema de educação publico que tem estado a ser operada neste país. Este é problema mais grave, mas disto ninguém fala, a não ser o Medina Carreira, mas esse já passou do 80 e em breve deixa de falar.

Enfim, a industria financeira precisa de regulação pesada a varios niveis, precisa de recios de capital mais elevados e precisa de um banco do estado no mercado a conduzir politicas economicas no interesse geral da sociedade.

Mas não se iludam, ao contrario da crise do subprime, a crise que a europa enfrenta actualmente não foi causada por abusos da finança. Estes apenas contribuiram, e continuam a contribuir, para acelerar e agravar a crise.

A crise que a europa enfrenta é uma crise de produtividade. No mercado global em que vivemos, já existem muitos países com uma forte infra-estrutura industrial e com custos de mão de obra muito inferiores aos europeus. A europa tem pela frente uma escolha muito clara. Ou investe na qualificação dos seus cidadãos e começa a produzir bens e serviços que não só não concorram com as economias asiaticas como ainda beneficiem destes novos e prosperos mercados. Ou então baixa os salarios e começa a concorrer em custos com as economias emergentes. Escusado será dizer que se obtarem pela segunda opção, por acção ou por inação, vamos inevitavelmente baixar o nosso nivel de vida ate este ser semelhante ao das economias emergentes.

joão disse...

a inacção bastante expliícita de um modelo politico e economico baseado na "competitividade" está mais que obseleto, enquanto no país de "mansos", "deputados e senhores "doutores" apenas se fala, na grécia luta-se na rua.

o caso trágico dos trabalhadores é importante e deve ser reflectido e debatido dentro dos movimentos de contestação( acreditem que neste momento se fala bastante).

concordo que a destruição de um sistema de educação gratuito é um passo pequeno para a destruição da vida futura de muita gente.

então e os manifestantes torturados e mortos?

os mortos que o sistema capitalista condena desde a nascença?

desses não se fala

o professor oneto fez muito bem em ir buscar o raul vanengheim, é do espectáculo que as pessoas gostam e apreciam viver.

a conversa de que o estado tudo come é velha e verdadeira, aliada a uma economia desregulada e selvagem em que os interesses de grupos financeiramente muito fortes estão acima de tudo, bem basta ver as noticias.....

João Aleluia disse...

Isto de João ser um nome tão comum é bastante chato. Vou ter que mudar de nome :P