sábado, 18 de julho de 2009

A economia política Gripe A (III) - A responsabilidade humana


A Gripe A não foi produto de um qualquer acidente de laboratório. Esta gripe vive nos patos e outras espécies aviárias endemicamente. No final de cada Verão, quando massas de patos e gansos selvagens migram, a gripe floresce, de forma inócua para estas aves, através das suas excreções que infectam a água dos lagos. No entanto, no final de cada Outono, a gripe parece hibernar e quase que desaparece, emergindo novamente no Verão seguinte. Este ciclo pode ter milhares, senão milhões de anos.

Elevadas densidades das populações onde o vírus da gripe vive são decisivas para a sua expansão e, consequentemente, potenciação das suas mutações. Ora, as últimas décadas foram marcadas por uma revolução na produção pecuária, agora linha de produção massificada, liderada por grandes multinacionais como a Tyson (responsável pela produção anual de 2.2 mil milhões de aves domésticas). A densidade das populações de aves onde o vírus da gripe se pode desenvolver aumentou exponencialmente. Este aumento da densidade aviária, aliado à super-urbanização de regiões em acelerado processo de industrialização, resulta num caldo onde a Gripe A facilmente se expande e se pode recombinar com a Gripe B, a tradicional gripe humana. Assim, não é de estranhar que tenha sido no Sudoeste Asiático, uma região com fortes densidades humanas e aviárias, o local originário da maior parte dos surtos de gripe aviária.

O caso da actual gripe A (H1N1), ou suína, é em tudo parecida. Este vírus manteve-se surpreendentemente estável durante décadas. Em 1997, porcos de uma mega-exploração, na Carolina do Norte, foram identificados como infectados com a gripe humana H3N2. Rapidamente se percebeu que o vírus tinha ganho características quer da gripe aviária, quer da gripe suína clássica, resultando num conjunto de novos subtipos, entre eles o H1N1, espalhados nas populações suínas por toda a América do Norte. A transformação da produção suína terá contribuído decisivamente para a transmissão e mutação do vírus. A percentagem de porcos criados em complexos com mais de 5 mil animais passou de 18% do total da produção em 1993, para 53% em 2003 nos EUA. Concluíndo, se é certo que o vírus da gripe não é o produto da acção humana no sentido estrito, a forma como a produção pecuária está organizada é claramente responsável por um aumento dos riscos inerentes a esta doença.

4 comentários:

Bruno Fehr disse...

"A gripe A não foi produto de qualquer acidente de laboratório"

Nem julgo que alguém o afirme, mas isso não significa que não tenha sido melhorado em laboratório e se investigar pelo nome Jane Bürgermeister, existem provas cabais da criação desta estirpe de vírus. Se fosse mentira nao teria gerado um processo de terrorismo biológico a nível mundial e já teriam aparecendo cientistas a desmentir a ligação.

Esta sua série de texto é digna de figurar em sites semi-informativos como a wikipédia, mas pecará pela falta de dados científicos. Dizer que a actual estirpe H1N1 é uma mistura do H1N1 que sempre existiu e do H5N1 é limitar o vírus na sua composição, assim minimizando as suas potencialidades pandémicas.

Nuno Teles disse...

não disse nada disso...

Diogo disse...

Meu bom Nuno, ainda ninguém lhe explicou que esta gripe suína é menos perigosa que a gripe normal? Até onde irá o meu amigo para justificar os lucros da farmacêuticas?

Francisco disse...

Caro Diogo, a sua afirmação é espantosa.
A gripe normal tem uma mortalidade de ~0.1%. A gripe A tem ~0.3 a 0.7%. Significa que para além das 2500 vitimas anuais de gripe em Portugal irão existir mais umas 5000 a 9000 vitimas.
É verdade que a gripe normal, no mundo inteiro, (ainda) mata mais pessoas em termos absolutos.
O alarmismo (justificado) resulta de esta estirpe ser mais recente e por isso ter mais probabilidades de vir a mudar para uma outra forma mais agressiva.
A gripe aviaria, que vitimou apenas 260 pessoas (no mundo inteiro) tinha uma taxa de moralidade de mais de 50% (!) das pessoas infectadas.
A gripe de 1918 teve uma taxa de mortalidade de 0.5 a 18%, apontando-se 5% como valor médio. Na minha aldeia existem pessoas com memória de morrerem 3 a 4 pessoas por casa.
O alarmismo é tão mais justificado porque existem pessoas em lugar de decisão que "pensam" dessa forma descomprometida - 6a feira as notícias diziam que a universidade do minho (já) tinha um plano de contingência para a gripe A, mas só à tarde é que o despacho do reitor nomeou a comissão de trabalho.
É verdade que há quem lucre muito com isto. Eu também contesto a gestão que fazemos dos monopólios de patentes. Mas também é verdade que em Portugal se fala de uma unidade de produção de vacinas da gripe à mais de 15 anos. Será que gastamos mais dinheiro como estamos ou a sustentar uma unidade de produção. Essa é uma boa pergunta a que muitos respondem que gastamos menos com a solução que agora usamos.