terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A corrosão moral do neoliberalismo

No sítio do Jornal de Negócios pode ler-se uma notícia sobre os últimos desenvolvimentos do caso BCP e outra sobre as repercussões nacionais da maior fraude financeira de sempre que ocorreu nos EUA. Lembro o que o José Maria já aqui escreveu: «O que está agora à vista de todos não é uma essência gananciosa da natureza humana. É antes a consequência de instituições sociais desenhadas no pressuposto de uma natureza humana puramente gananciosa. As instituições dos mercados financeiros são tais que só os agentes que se comportam como se fossem puramente gananciosos podem sobreviver». Não deixem de ler o desenvolvimento destas reflexões na edição portuguesa do Le Monde diplomatique deste mês – «A impossibilidade de uma economia amoral». De Adam Smith a John Maynard Keynes passando por Zygmunt Bauman. A expansão do princípio da liquidez associada aos mercados financeiros liberalizados corrói todos os laços sociais e morais. Os resultados da utopia neoliberal, construída a golpes de engenharia política, estão à vista.

40 comentários:

Anónimo disse...

Um livro interessante sobre o que se fala no post:
O Estado Predador, de James Kenneth Galbraith.

Nuno teles disse...

O livro já mereceu atenção (há uma semana) no blogue:

http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2008/12/para-alm-da-crise-regras-para-uma.html

Filipe Melo Sousa disse...

Num mundo "neoliberal" um banco mal gerido não seria alimentado pelo estado.

Num mundo "neoliberal", as taxas de juro não seriam uma decisão política, e dessa forma um burocrata não teria o poder de quintuplicar as taxas de juro, e fazer colapsar o sistema bancário.

Anónimo disse...

Caro João,
antes demais felicito-o a si e aos seus colegas pela qualidade global do blog e pelo cuidado na argumentação, assumindo desde já que não partilho da maioria das ideias aqui expostas.
Tomei a liberdade de comentar este post pois parece-me tocar num ponto essencial:
Fala de "corrosão moral do neoliberalismo", mas o socialismo (penso que é a alternativa que defende) é moralmente puro? Os exemplos que conhecemos atestam-o? Outras realidades, concordo, mas não sei porque acreditar que as "pessoas" não tem moral num sistema liberal e tê-la-ão quando inseridas noutro sistema. Sei que coloca a questão no mais âmbito institucional, mas estarão as instituições imunes a pessoas "imorais" ou à imoralidade?!
Por fim, acho curioso que fale de moral, pois é um argumento pouco comum à esquerda (se me permite a simplificação), muito mais utilizado na direita conservadora-liberal e é neste ponto que penso que reside o grande paradoxo da mesma esquerda: o descuido e até desprezo histórico que tem pela "moral" ou os "bons costumes". A solidariedade e a redução das desigualdades (tão apregoadas!) resulta muito mais daqui, do que duma tentativa de imposição do topo, centralizada, redutora das liberdades e, como historicamente bem provado, altamente ineficaz.

cpts,
Rui Almeida

Wyrm disse...

Rui Almeida, não me parece que alguém neste blog defenda algum modelo de socialismo.

Chamar socialismo ao que se defende neste blog é usar o argumento do papão para eliminar o debate.

Daqui nada quem defende um serviço nacional de saúde universal e gratuíto também come criancinhas ao pequeno-almoço...

Filipe Melo Sousa disse...

Chamem-lhe o que quiser, mas chamem um nome feio. Afinal, obrigar alguém a ceder o fruto do seu trabalho em troca de não se premir o gatilho de uma arma apontada, é um gesto tudo menos bonito.

Wyrm disse...

Chantagem sob a mira de uma arma ou chantagem sob a ameaça do desemprego são para mim igualmente péssimas.

Num mundo de utópica liberdade, os mais fortes farão o que querem dos mais fracos.

De resto qual a tua posição acerca do financiamento das forças armadas e da polícia?

Já agora, e por estranho que pareça, nunca vi a polícia apontar a arma a quem não pagou impostos. Mas já vi a policia agredir quem se manifestava em frente à empresa a reclamando salários em atraso.

Filipe Melo Sousa disse...

Ameaça de desemprego? Todos são livres de procurar emprego onde querem. Existe aqui uma grave confusão. Uma coisa é um patrão não estar interessado em contrair um serviço, outra coisa é agir activamente no sentido de impedir que alguém trabalhe seja onde for. Cabe a cada um valorizar-se no mercado de trabalho. O que o Wyrm aqui defende é que alguém receba um ordenado apesar de não valer o salário que reclama. O que é simplesmente roubo. É como obrigar-me a contrair um serviço que não quero.

Não seja ingénuo Wyrm. Tente não pagar os seus impostos, e leve a sua determinação até às últimas consequências. Leve um artigo do continente sem pagar IVA, pague aos seus empregados sem descontar para a SS, e faça-o abertamente. Verá que uma arma aparecerá no seu caminho.

Wyrm disse...

Ou nos tratamos sempre por "você" ou sempre por "tu". Flutuar ao sabor da raivinha que o comentário do outro provoca é que não.

Sejamos crescidos (e estou a incluir-me).

FMS, há um senhor da SONAE que sempre que alguma medida, politica e não só, o afecta desta logo a ameaçar com deslocalizações, desemprego, isto e mais aquilo. Para mim é tão grave uma coacção como a outra. O belmiro joga o jogo que mais lhe convém, assim como o povo joga o jogo que mais lhe convém.

Tu defendes o egoísmo, ou seja, o interesse pessoal acima de tudo mas depois censuras todos aqueles cujo interesse pessoal se atravessa com o teu. Devia ser pacífico para ti.

E se dizes (e é verdade) que todos são livres de mudar de emprego, também é verdade que és livre de mudar de país e ires para um lugar com menos estado onde de certeza serás mais feliz.

Filipe Melo Sousa disse...

O Belmiro não impede ninguém de procurar emprego noutro sítio. Para além disso, como empregador, aumenta o leque de opções. Mais uma vez, estás a fazer uma grande confusão. Se eu entrar numa loja e disser que só compro por um determinado preço, não estou a coagir ninguém a baixá-lo. Da mesma forma, nada me obriga a voltar a comprar naquela loja amanhã.

Lamento que não saibas distinguir o indivíduo que aponta uma arma ao vendedor, daquele que simplesmente exerce o direito de não comprar.

Wyrm disse...

Mas no fundo o que estás a dizer é que preferes a coacção indirecta á directa. Quando o estado te obriga a pagares os teus impostos está a coagir-te directamente, certo.

Mas quando o belmiro (ou outro "capitalista" á portuguesa) pressiona o estado com ameaças de desemprego de modo a obter benefícios fiscais também te está a coagir. Quando as grandes construtoras financiam "estudos" que justificam a construção de autoestradas e os amigalhaços do governo lá fazem o jeito.

Acho que se formos ver bem as contas, o dinheiro que custaria por todos os putos de 6 anos (e são cada vez menos) a estudar e a aceder a cuidados de saúde é pálido comparado com o que já foi gasto em obras inuteis, subsidios ás empresas, etc.

O estado contruir uma auto-estrada ás tuas custas na Guarda não te vai beneficiar puto. Mas o facto de pagarmos todos para os putos poderem ter uma escola em condições faz com que estes tenham mais hipóteses de se tornarem elementos produtivos da sociedade. E o crescimento económico também passa por aí, ou não reparaste que a prosperidade de um país está directamente relacionada com o nível educacional médio da sua população?

Filipe Melo Sousa disse...

Não existe coacção alguma. O Belmiro usa meios legítimos, ou seja a existência ou não de um futuro negócio. Diz aos parceiros quais os termos nos quais está interessado a fazer negócio. O facto de o veres como chantagem deve-se ao facto de te atribuires indevidamente o direito de dispor da vida dos outros.

Wyrm disse...

Errado.
O belmiro (e a generalidade do empresário tuga-chico-esperto) é que aproveita o facto de ser o maior empregador em algumas regiões de portugal para chantajar os governos de modo a obter subsídios e benefícios fiscais.
Eu sei que à partida concordas com o facto do belmiro conseguir reduzir a sua carga fiscal, mas e em relação aos subsidios?

Apesar de tudo, gostava que tivesses comentado o resto do post, que era onde estava o sumo.

Filipe Melo Sousa disse...

Culpa o governo por tirar dinheiro de empresas para dar a outras. Obviamente sou contra. Mas o mal reside, como vês, no poder do estado. Não no "capitalismo", que precisamente não existe.

Mas falando do Belmiro, não estou a ver onde ele recebeu subsidios..

Wyrm disse...

Subsídios à implementação de infra-estruturas.
Isenção de IMI's.
Etc....

Filipe Melo Sousa disse...

"Isenção"? Se me assaltarem na rua devo agradecer por estar "isento" de dar o conteúdo da minha carteira? Devo agradecer tal como um subsídio por parte do assaltante?

Wyrm disse...

Bem, se és contra o IMI explica-me como as condições sanitárias de uma cidade, as suas ruas, infra-estruturas comuns (acho que ninguém pode ser dono do marquês de pombal) ou os túneis citadinos, etc?..

Eu até já sei o que me vais responder, mas isso não era exequível. Mas seria interessante fazer um filme com essa situação, seria surreal. :)

Wyrm disse...

"Subsídios à implementação de infra-estruturas."

Falta esta, já que ajudaste a pagar muitas das instalações do Continente em Portugal.

O que eu não percebo é como podes censurar quem define mais impostos. No fundo se o fazem é porque sabem que vão ganhar com isso ou seja, perseguem de forma egoísta os seus objectivos.

Qual é o mal? Tu é que ainda não tiveste arte nem engenho para escapares a uma situação que vai contra os teus princípios. ;)

Filipe Melo Sousa disse...

Já ouviste falar de uma cidade privada chamada Vilamoura? Os serviços de saneamento urbano funcionam lindamente. Convido-te a passear por Lx e apreciar o lixo espalhado na rua anos a fio, por falta de recolha e contentores. Mas é o paraíso que defendes...

Wyrm disse...

Não FMS, não defendo.
Eu defendo serviços públicos de qualidade. Mas novamente comparas alhos com bugalhos.

Recolha do lixo é uma coisa, tratar de infraestruturas de saneamento (água, esgotos, etc.) é outra completamente diferente. Mesmo empresas fornecedoras de água só se chegam á frente quando o estado já montou uma valente rede de distribuição. É o capitalismo. :)

Mas volto a perguntar quem desenha um plano de estradas nacional? Em trás-os-montes, como não há pessoas suficientes para tornar rentável uma auto-estrada nenhum privado se chega á frente. Nenhum? Não, há sempre um consórcio de capitalistas-rentistas que usa o dinheiro dos contribuintes para construir uma desadequada auto-estrada de 4 vias com iluminação de luxo e com uma frequência média de 1 automóvel por cada 20 segundos.

Isto é de facto um assalto, mas não foi perpretrado pelo "estado" ou pelos "políticos" pois estes são manipulados precisamente por aqueles que até têm um discurso parecido ao teu. Ou achas que Jorge Coelho não tem agora um discurso que se aproxima do Liberalismo? :D

Filipe Melo Sousa disse...

Daqui a 50 anos ainda estaremos aqui a discutir que os burocratas do estado deveriam fornecer serviços de qualidade, em vez de destruir riqueza usurpada.

Obviamente, que sem incentivo para o fazer, não o farão. Um funcionário do estado sempre será medíocre. Continuaremos a ter cidades porcas e mal geridas, empregos para os amigos, e favores políticos. Quando se gere o dinheiro dos outros, é assim. Chama a esta máfia o que quiseres, tudo menos capitalismo. Os Jorges Coelhos são frutos da tua ideologia.

Wyrm disse...

A minha "ideologia" tu não a conheces.
O que tenho aqui defendido é que a saúde e a educação básica devem ser universais e gratuitos porque, no meu entender, são o pilar de uma sociedade sã. Só assim poderemos progredir.

Eu não tenho nada contra quem tem grandes fortunas. Mas algo está podre quando uma pessoa que trabalha não tem dinheiro para cuidar da sua saúde. E é menos justo ainda quando os seus filhos têm de frequentar escolas sem qualidade nenhuma. Quando isto acontece numa sociedade em que a cada quarter existem empresas que declaram ganhos brutais é... inenarrável.

Por fim que sou contra o liberalismo tal como ele é vendido e aplicado porque ele é uma farsa. Pelo menos o liberalismo económico. Os seus mais acérrimos proponentes são precisamente aqueles que mais o subvertem.

Filipe Melo Sousa disse...

A educação só será gratuita no dia em que os professores não receberem salários. Custa sempre algo. A questão é.. pagas tu? Eu não estou interessado.

Wyrm disse...

Sim, eu não me importo de contruibuir para a saúde dos menos favorecidos e para que todas as crianças tenham acesso a uma boa educação.

Só assim se pode garantir que toda a gente na sociedade se sinta produtiva e motivada.

Além do mais, se eu um dia conseguir os meus objectivos, não quero ter uma empresa à portuguesa em que a sua competitividade assenta em baixos salários.

Gostaria de ter empregados instruidos, formados seja qual for a área em que trabalhem.

Para isso é preciso que a qualidade da pool de recrutamento aumente e isso não é possivel apenas com os alunos dos maristas ou do planalto.

Eu sei que para os apologistas da clivagem social e do elitismo é preferivel ser-se rico num país falido do que ter um pouco menos num país próspero. Isso é insustentável como a Historia bem o demonstra.

Filipe Melo Sousa disse...

Mas é isto que é maravilhoso no capitalismo. Tens toda a liberdade de financiar os estudos a quem quiseres. Tu és livre de abrir uma empresa em que os teus empregados são todos muito bem pagos, e passam o dia numa lounge. Não me obrigues é a comprar os teus produtos.

P.S.: os maristas são o teu expoente máximo? Eu morava ao pé e evitei... mas enfim lá sabes.

Wyrm disse...

E com isto voltamos à não discussão.
Provavelmente tu precisas de viver uns anos no Norte da Europa para conseguires perceber o que estou a dizer.

Filipe Melo Sousa disse...

Pois, vivi de facto fora da europa não percebo do que estás a falar. Tens de ser mais específico. Ou vais-me aconselhar a ler mais uns livros sem argumentar nada em específico. Tanta sapiência, e não retiram de lá nada..

Wyrm disse...

Claro que não percebes.

Eu refiro-me ao norte da europa, aqueles países em que o desenvolvimento humano é maior e cujas elites fazem as "elites" portuguesas às quais tu queres pertencer parecer um bando de pindéricos.

E isso não é à custa de ordenados baixos e de uma percentagem significativa da população no limiar da pobreza.

Em portugal são 20% da população.

Filipe Melo Sousa disse...

Elites pindéricas portuguesas? Meu amigo, queixa-te a quem fez o 25 de abril, exilou as antigas elites, para colocar os amigos no poder. São a elite da tua escolha, não entendo do que te queixas...

Wyrm disse...

"São a elite da tua escolha, não entendo do que te queixas..."

Claro. Eu escolhi-os a todos pessoalmente.

E claro que as elites antes do 25 de Abril, naquele tempo em que a liberdade era total e o estado não interferia nada mesmo, eram de uma qualidade tão grande que até metia medo.

É por isso que foram todos para o Brasil, que no tempo também era uam bela ditadura.

VIVA A LIBERDADE!

Filipe Melo Sousa disse...

Percebo que nenhuma elite te agrada em tempo algum. Pobre sociedade cujo topo desejas a eterna destruição.

Wyrm disse...

A única coisa que podes depreender é que não considero que a "elite" financeira portuguesa o seja ou que alguma vez o tenha sido.

Elites, é coisa que nunca houve em Portugal, muito por culpa dos sucessivos governantes que temos tido.

E tu és desonesto. Porque sabes muito bem que as nossas "elites" desde sempre se encostaram ao estado e ao contribuinte para prosperar. Mas enfim, já te vi aqui elogiar a China, por isso tassebem... ;)

Wyrm disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Wyrm disse...

Wyrm disse...

E repara, não há nada de errado em desejar a destruição do topo...

Desse tal topo, os mais fracos cairam e serão substituidos, os outros terão um incentivo brutal para crescer. É a competição senhor, a luta de classes.

Ou não és tu um apologista da desigualdade?

Filipe Melo Sousa disse...

Não sou apologista da desigualdade. Oponho-me à confiscação daquilo que é obtido livremente, com vista a criar uma igualdade à força.

Wyrm disse...

Pensava que sim. ;)

"Boas notícias. Se não fossem as desigualdades, qual o incentivo que a pessoa tem para se esforçar?

30 de Outubro de 2008 19:07"

Filipe Melo Sousa disse...

Essa desigualdade surge livremente. É uma recompensa para quem se esforça à custa unicamente do próprio. Não se confisca a ninguém. É um incentivo que não lesa ninguém e não precisa de ir buscar dinheiro do estado aos contribuintes.

Já a liberdade que preconizas passa necessariamente por uma confiscação coerciva e liberticida.

Anónimo disse...

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