domingo, 21 de setembro de 2008

Sobre as confusões que grassam no PS acerca do casamento homossexual

Na semana que passou, estalou mais uma confusão na bancada parlamentar do Partido Socialista. Vejamos porquê.

No dia 10 de Outubro serão votados os projectos de lei (apresentados pelo BE e pelos Verdes) reconhecendo aos homossexuais o direito ao casamento. (Apesar de há muito andar a anunciar que teria algo a apresentar neste domínio, a JS parece ter deixada as suas eventuais propostas a hibernar à espera de melhores dias…)

Pela voz do líder parlamentar, Alberto Martins, a bancada socialista anunciou esta semana que, como não houve ainda suficiente debate no seio do partido (e na sociedade) sobre o tema, além que nenhuma posição do PS sobre o mesmo foi vertida no programa eleitoral de 2005 (e, por isso, não pode ser sufragada popularmente), o partido não tem ainda uma posição definida sobre o assunto. Ou seja, o partido não está em condições de votar a favor no Parlamento. Parece perfeitamente razoável e legítimo.

Mas a seguir veio a confusão: Alberto Martins anunciou que, pelo que foi dito acima, o partido (através da direcção da bancada) iria dar indicação de “voto contra” (com exigência de disciplina de voto) aos seus deputados (sobre a questão do casamento homossexual). Curioso: não podem votar a favor porque ainda não discutiram o assunto, não se posicionaram no programa eleitoral, etc., em suma, ainda não tem posição. Então, sendo assim, a indicação de voto aos deputados (com ou sem exigência de disciplina de voto) não deveria ser a “abstenção”? Se o PS não tem posição amadurecida e sufragada popularmente para votar a favor como é que já a tem para votar contra? Não se percebe, de todo!

7 comentários:

josé manuel faria disse...

Precisamente.O PS sabe que perderia votos nas legislativas, o melhor é votar contra dando a ideia de serem muito católicos.

Pedro Sá disse...

Não. O voto contra é mesmo uma reacção emocional contra o oportunismo político do BE e do PEV.

Em qualquer caso fica uma ideia...de que talvez certas mudanças não devam ser possíveis se não partirem da iniciativa de um dos dois partidos maioritários...

José Magalhães disse...

A homossexualidade é uma questão de, mais do que orientação, de identidade sexual, e portanto pessoal. Se isto tem implicações no político? Claro que sim, mas sobre isso não tenhamos dúvidas de que é melhor ler Freud, que foi o melhor a falar das relações entre sexualidade e a moral dos povos. Acho sensato não reduzirmos isto a uma questão primária de ser contra ou a favor.

Não me vou alongar muito sobre isto, se quiserem eu tenho isto melhor explicado em http://borntobewilde.blogspot.com/2008/02/o-lobby-gay-e-homossexualidade.html

O que eu queria aqui salientar é que é vergonhoso trazer-se para o parlamento este tipo de questões, pois isto significa um subverter completo da luta que é preciso fazer. O que é preciso é combater os problemas sociais e económicos dos trabalhadores e não os problemas económicos dos gays, dos pretos, dos muçulmanos, das mulheres, etc. Isto é entrar no campo da política ridícula que se faz nos EUA, em que as análises de intenção de voto se fazem desta maneira: os pretos votam democrata, os gays democrata também, os católicos votam republicano. Mas o que é isto? É que isto sim, é racismo puro e duro, mas na sua forma mais cínica: eu só te respeito enquanto fores preto, mulher, muçulmano. Já enquanto trabalhador... não há direitos para ninguém

Bastou-me ver há tempos 5 minutos da CNN para não saber se havia de rir ou chorar. Quando vejo numa convenção lá do Obama, uma mulher a dizer: nós as mulheres, temos problemas económicos de acesso ao emprego, baixos salários, precariedade, terminando com: temos que dar direitos às mulheres!
Depois às tantas vem um preto dizer: nós os pretos temos dificuldades económicas, de acesso ao emprego, somos discriminalizados no mercado de trabalho, temos baixos salários, etc. Temos que dar direitos aos negros!

É desta forma que se destrói a discussão sobre os temas essenciais. Em vez de falarmos em direitos dos gays, direitos dos pretos, mulheres, etc, devíamos era falar em direitos dos trabalhadores!

Na Âmérica compreendo que só se possa falar de determinadas questões desta maneira, pois é um país que construiu sua identidade numa matriz anti-comunista, e que lhes é difícil chamar determinadas coisas pelos nomes. Mas aqui em Portugal, sinceramente....

Sou do PCP, partido que até hoje nunca me desiludiu, mas olho para o BE com respeito e simpatia, ao contrário de outros camaradas.
Mas sobre isto, eu digo: é aqui que se pode ver claramente a diferença entre o PCP e o BE. Os bloquistas quando entram neste jogo de "defender as minorias, os direitos dos gays, dos negros, etc." estão a subverter completamente a luta que é necessário fazer. É preciso defender não as minorias mas sim a maioria, neste caso os trabalhadores, que tanto podem ser gays como pretos, mulheres, sei lá. Não é isso que interessa. O que interessa é a luta de classes e o único racismo que ainda admito discussão política é entre burguesia e trabalhadores.

O resto é do campo das neuroses de cada um, das suas dúvidas de identidade sexual, da necessidade que têm de limpar ou não a consciência sob mecanismo de defesa mais ou menos elaborados.

Anónimo disse...

"oportunismo político do BE e do PEV."

Não. É ao contrário. O oportunismo vem de quem queria guardar a carta só para si, avaliar se ela dá votos ou não, e se der votos, então jogá-la ma próxima legislatura.
Isto é uma discriminação que já devia ter sido removida, sem ser necessário este alarido fracturante. Isto já devia estar despachado para que o Parlamento dedique o seu tempo a debater propostas mais importantes.

Joe,

Não deixas de ter que responder à questão. Não deixas de ter que alterar a lei. Não deixas de ter que agendar a discussão.
Caramba!! Se a lei impedisse os comunistas de casar e adoptar crianças, não estaríamos a fracturar a luta dos trabalhadores por afirmar que essa lei devia ser alterada.
A luta dos trabalhadores e os direitos individuais não são contraditórios.

Cumprimentos

João Dias disse...

Joe:

Não existe incompatibilidade nenhuma entre defender o direito ao casamento homossexual e os direitos para trabalhadores, aliás são campos demasiados distintos.

Se conseguir que os trabalhadores deixem de ser explorados, no entanto, continue a ser barrado o casamento aos homossexuais, continua a haver aqui um problema por resolver.

Ninguém defende a politização da sexualidade, ou seja, que a sexualidade (ou raça, ou classe) substituam a argumentação política como critério de escolha eleitoral ao dar a possibilidade aos casamentos homossexuais.
Sim, existe muita asneirada nos EUA em relação ao que é a escolha política, mas isso não encaixa de forma alguma no que aqui se apresenta: a possibilidade de casais homossexuais casarem pela via civil.

Um grave erro no seu discurso, achar que não se deve defender minorias, defendem-se as vítimas das injustiças, sejam elas maiorias (trabalhadores, consumidores), sejam elas minorias (imigrantes, homossexuais). Logicamente que perante o mundo dos trabalhadores, todas essas partes da sociedade parecem ser minorias, a questão é que as lutas que se travam neste caso não são no contexto da luta de classes. As mulheres na sociedade não são uma minoria, e luta das mesmas é bem mais abrangente que o mercado de trabalho.

José Magalhães disse...

Sim, tudo bem, vamos ser claros. Não me chateia nada que os homossexuais se casem. Se eles querem ver seu amor burocratizado, por causa do IRS e outras vantagens que tais, acho que sim, que devem poder fazê-lo.

Quanto à questão das minorias e maiorias, entendam como uma figura de estilo. Realmente é mais acertado defender injustiças em vez de minorias e maiorias, mas da forma como disse achei que ficava mais bonito.

Quanto à sugestão da luta de classes não ter nada a ver com a questão dos imigrantes e dos homossexuais, não concordo.
A luta de classes como motor da história que nos levou ao capitalismo actual, sem dúvida que determinou a mudança nas estruturas familiares (aumento dos divórcios, menos filhos, menos tempo passado em família e mais em instuições como escola e empresa, etc), sendo que só neste contexto é que surge a questão da homossexualidade tal como nos defrontamos hoje em dia.

Quanto aos imigrantes, basta pensar no movimento de globalização para perceber que também não é uma questão separável da luta de classes.

Filipe Castro disse...

Eu acho que a discrminação de seres humanos com base na orientação sexual é um fenómeno troglodita que transcende as barreiras ideológicas e partidárias. Está perfeitamente caracaterizado aqui nos EUA. São as pessoas do campo, a América republicana, que têm medo que os direitos humanos se estendam às minorias porque têm medo das minorias e de todas as coisas que no seu pensar simplório ameaça a cola social com dissolução.