quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A injustiça social faz muito mal à saúde

O título deste artigo sintetiza a principal conclusão de um notável relatório lançado recentemente pela Organização Mundial da Saúde. Coordenado por Michael Marmot, uma referência incontornável na área dos "determinantes sociais da saúde", e tendo a colaboração, entre outros especialistas, do Prémio Nobel da Economia Amartya Sen, este relatório oferece-nos um retrato realista da extensão das desigualdades nacionais e internacionais na área da saúde, dos mecanismos sócio-económicos que as geram e dos principais meios para as superar. Fá-lo através de uma impressionante recolha de evidência estatística, de estudos de caso e de análise histórica e institucional. O assunto não admite relativismos de nenhuma espécie e sobretudo não admite o subjectivismo egoísta que justifica todas as insanas utopias de mercado. Trata-se aqui de uma questão de vida ou de morte. E as utopias de mercado matam. Literalmente. O resto pode ser lido na minha contribuição mensal para o Jornal de Negócios.

29 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

As utopias matam. Assim como o desperdício de recursos na saúde. É errado dar um sinal de gratuidade aos utilizadores deste serviço. Trata-se de uma questão de vida ou morte. O assunto não admite altruísmos hipócritas: a saúde é um negócio privado.

L. Rodrigues disse...

"a saúde é um negócio privado"
antes de "privado" já você tinha dito tudo: "A saúde é um negócio."
Para quê dizer mais.
Há-de explicar-me onde está a simetria de posição dos actores desse negócio. São os dois igualmente livres e informados? Francamente...

Filipe Melo Sousa disse...

alguma vez disse que defendia a igualdade de informação. as igualdades são em regra geral uma fábula. as pessoas são diferentes

L. Rodrigues disse...

Então? O seu sistema não pressupõe informação perfeita para os intervenientes?

Filipe Melo Sousa disse...

Não. Cada um despende o tempo que lhe apetecer à procura da informação, e age quando assim o entender.

L. Rodrigues disse...

AH!!!! Brilhante.
Tenho aqui esta cena a crescer debaixo do braço mas antes de gastar dinheiro em médicos vou informar-me sobre o que poderá ser... sei lá... talvez o melhor seja até tirar um curso de medicina, já que é aí que se aprende a informação necessária... tenho tempo.

Filipe Melo Sousa disse...

it's up to you. you are free to chose

L. Rodrigues disse...

Que liberdade é essa de uma pessoa doente, deprimida, incapacitada e possivelmente amedrontada?
Que liberdade tem essa pessoa para negociar? Quanto vale a sua vida? É ela que sabe? Está em condições de o aferir?

A única liberdade absoluta que ela tem é de morrer sem cuidados. Todas as alternativas implicam uma relação de profunda dependência.

Filipe Melo Sousa disse...

o sucesso e o fracasso fazem parte da vida. sem eles, a evolução não teria lavrado o seu caminho e não estaríamos aqui hoje a esboçar um discurso racional

L. Rodrigues disse...

A espécie humana não teria chegado a lado nenhum se não tivesse mecanismos sociais de solidariedade. O caçador que teve sorte hoje pode não ter amanhã.

Filipe Melo Sousa disse...

Exacto, não é suposto ter sempre sorte. Em termos estatísticos o mais apto prevalece a longo prazo. Fair enough

José M. Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
L. Rodrigues disse...

Agora já está a fazer conta de que não percebeu.
O seu raciocínio sugere que um grupo humano caçador recolector tenderia a ficar reduzido a um (o caçador mais bem sucedido) ou povoado de caçadores cujo sucesso é de 100%. Nenhum dos dois resultados ocorre. O que ocorre é a partilha dos espólios da caça.

Não há nenhuma realidade humana em que o seu modelo seja aplicável.

L. Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Adoro !

Já não é a primeira vez que leio este tipo de raciocínios vindos do filipe melo. Eles roçam o anarco-capitalismo de uma forma quase hilariante.

Filipe, no dia em que a humanidade se converter ao teu pensamento, será o dia em que o Homem se tornará definitivamente um escravo do capital.

Não entendo se a tua ideia de reduzir a nossa espécie à subserviência de pedaços de metal, papel, bits e bytes é algo de natural ou de necessário; um facto inevitável ou uma filosofia.

Certamente na tua visão de sociedade não há lugar nenhum para ideias humanistas (que para ti devem ser do mais hipócrita que existe), ou se houver, não passam de vontade individuais despojadas de qualquer universalidade. Ideia que é profundamente patética... São também inócuas e pouco objectivas dentro da "animalidade" que parece - dentro da tua teoria - dominar o Homem.

A verdade é que a realidade também é construída por idealistas e utópicos. Veja-se a democracia, é um dos sistemas socio-políticos menos natural e mais utópico que existem. Talvez ainda devêssemos estar a ser regidos por um sistema feudal, onde impera a lei do mais forte e com mais recursos, mais perto das verdadeiras relações que nos definem como humanos primitivos.

Mas "Ser Humano", filipe, não é só viver ao sabor do que nos atiram para cima, das exigências do mais forte, ou da obrigatoriedade das relações lógicas do mercado. Ser Humano também é sonhar e lutar por um mundo solidário e humanista onde todos temos a certeza da bondade, amizade e ajuda por parte da sociedade. Falhar em perceber isso, é também falhar em perceber parte da natureza humana. Não, não somos só animais económicos. Se deixar-mos de acreditar que somos mais que isso bem podemos começar a fazer o processo evolutivo em sentido inverso. Aí seremos mesmo reduzidos à nossa insignificância.

O Homem evolui tal como o resto dos seres vivos. Pensamentos como os teus, são o que nos torna obsoletos como seres inteligentes. A evolução tem que ser no sentido inverso ao que tu professas, de contrário nunca ultrapassaremos a nossa "animalidade".

O indivíduo só o é quando é livre de exercer a sua vontade. Exercer vontade sem sentido de responsabilidade, afirmando uma ideologia que esmaga os mais fracos e com menos recursos só porque acontece e é o sentido natural do mercado é o que define a verdadeira prisão do Homem. Sendo assim, o Homem nunca será verdadeiramente livre. O indivíduo nunca o será.

A liberdade é um grande poder. E com um grande poder vêm uma grande responsabilidade. Descartar essa responsabilidade por ideias egoístas como a lei do mais forte ou a regência do mercado, do capital, sobre todas as coisas é não só degradante mas também um indício da subversão de ideias que parte da nossa sociedade descreve actualmente: a religião do capital.

Sinto pena ... mas épa ! Se esta é a realidade, há de haver sempre alguém a querer mudá-la. Não é uma opinião, é um facto...

Filipe Melo Sousa disse...

Ninguém é escravo do capital. És livre de não o acumular. A hipocrisia dos teus valores assenta precisamente na tua busca do capital.. dos outros.

Anónimo disse...

"Exacto, não é suposto ter sempre sorte. Em termos estatísticos o mais apto prevalece a longo prazo. Fair enough"

Então o que me impede de tirar à força aquilo que quero?
Para que perder tempo a negociar?

Filipe Melo Sousa disse...

Bem isso é um fundamento moral básico: a sua liberdade acaba quando pretende suprimir a liberdade dos outros.

José M. Sousa disse...

Fundamento moral básico, depois de tudo o que disse? Não sei quem o leva a sério. Você o que advogou foi a selva, própria de animais!

Filipe Melo Sousa disse...

Prefiro claramente fugir para a selva do que ser escravizado num dos seus "civilizados" campos de escravatura

L. Rodrigues disse...

Duraria apenas o tempo suficiente até um predador lhe explicar a versão naturalista dos direitos de propriedade.

Anónimo disse...

"Ninguém é escravo do capital. És livre de não o acumular."

Certamente não consegues perceber o conceito de "livre arbítrio". É claro que eu sou livre de fazer o que quiser. Até posso ir para a rua matar gente, como posso deixar de ganhar dinheiro por livre iniciativa. No entanto, sou um ser consciente do resultado das minhas acções e decisões e ao que podem levar, não só a mim como aos que me rodeiam.

Hipócrita, filipe, é passar por cima desse aspecto e não exercer a minha liberdade de uma forma responsável. Não só para os outros, mas também em respeito por mim próprio.

Eu sou obrigado a acumular capital porque quero viver com as pessoas que me rodeia e que me amam. De outra forma ia viver para a selva como caçador-colector. Abdicava dos sentimentos que me fazer sentir humano e virava um bicho de mato. Das duas uma filipe, ou não dás valor a conceitos humanistas que nos fazem transcender esta "animalidade", ou então ainda não percebeste que o Homem consegue ser muito mais do que o resultado do ambiente que o rodeia e ao qual é submetido.

"A hipocrisia dos teus valores assenta precisamente na tua busca do capital.. dos outros."

?

Eu busco o capital porque preciso dele (necessidade/submissão) não porque o quero (vontade/liberdade). Daí ser obrigado a obter-lo se quero praticar a minha vontade em viver nesta sociedade. É um conceito que, como todos os conceitos socio-culturais ou relacionados com ciências humanas, não é absoluto, é dualista e portanto relativo ao indivíduo e aos seus valores na prática de vida desta realidade.

Hipócrita ? És tão hipócrita quanto eu o sou. Retórica para os meus ouvidos ... A hipocrisia dos teus valores assenta na tua parcialidade em não reconhecer o Homem como um todo. Só contas parte da história filipe.

Filipe Melo Sousa disse...

Como disse, és livre de não acumular capital. Que necessites dele para viver pouco me importa, importa-me que aprendas a não profanar o dos outros. Acusas-me de ser escravo do capital que crio e que me pertence. Eu acuso-te de seres escravo do teu vício que te leva a roubar.

O homem como um todo é uma fábula. Afinal com o teu mal posso eu bem.

José M. Sousa disse...

E quem me garante que você, já agora seguindo essa lógica medíocre, não adquire esse capital de que fala - e que diz que é seu - de forma ilegítima? Afinal o roubo pode assumir vestes respeitáveis, mas nem por isso pode deixar de ser roubo.

Filipe Melo Sousa disse...

Nada lhe garante que não sou um criminoso. De qualquer forma não pretendo defender aqui a minha honra nem a de ninguém. Se eu for um criminoso bem sucedido, tanto melhor. O sistema que funcionasse.

De facto, o roubo pode assumir formas respeitáveis. De uns senhores que me mandam umas cartas registadas em português pomposo.

Anónimo disse...

Ok filipe. Já reparei que não dá para ter uma conversa esclarecedora contigo.

Só uma conclusão em relação ao que defendes: A tua ideologia representa a degeneração do Homem, preconiza uma sociedade sem valores, ou com valores que levam o Homem à sua própria destruição.

Mais uma vez: O Homem é capaz de ir para mais além da ordem natural das coisas.

O meu mal ? Lol ! Defender que o Homem se pode transcender é mau ? filipe, a tua percepção da tua própria ideologia engana-te a ti próprio. O mais engraçado é que para ti, se calhar, o que é bom é a própria desgraça dos outros enquanto tu estejas bem. Isso é que é bom ?

Não, e a sério, vindo de ti e dentro do que tu achas sobre a aquilo que defendo, quero ser mau, MUITO MAU !

Filipe Melo Sousa disse...

Obviamente que defendo uma sociedade com valores. Acima de tudo a liberdade de não ser coagido a fazer algo com que não se concorda. A começar por ter de sustentar a miséria dos outros.

José M. Sousa disse...

"Sustentar a miséria dos outros"

O que é que quer dizer exactamente com esta frase? Você não quer pagar impostos, é? Acha que pode viver numa sociedade civilizada sem pagar impostos? Não consigo compreendê-lo. Admito que possa haver injustiças relativas na cobrança dos impostos, que haja despesas públicas discutíveis, que se discuta se a carga fiscal é exagerada, etc. Mas um sistema fiscal progressivo é uma marca da civilização. Isto é um dado histórico!

«Acima de tudo a liberdade de não ser coagido a fazer algo com que não se concorda.»

Bom, esta frase pode entrar em choque com a sua admissão de que a liberdade de uns acaba quando ameaça a liberdade dos outros. Se toda a gente quisesse fazer o que lhe apetecesse, dificilmente seria possivel viver em sociedade, civilizada, pelo menos.

Você acha civilizado que, a alguém que nasceu na miséria, nunca lhe seja dada a oportunidade de desenvolver as suas potencialidades e se permita tudo a alguém que nasceu rico por acaso, sem nunca ter feito nada para o merecer(
esta é uma situação hipotética, mas que poderia enquadrar-se na sua lógica)?

Você deve saber, deve ter suficiente esperiência de vida, que nem toda a gente que trabalha duramente vê recompensado o seu esforço, por um lado, e que, por outro, muita gente enriquece sem grande esforço e, às vezes sem qualquer mérito, fruto apenas da pura sorte. Acha que tudo deve ser deixado ao acaso, à sorte? Suponho que viveriamos numa sociedade muito violenta, onde a sua liberdade teria muitas restrições. Olhe, se fosse rico, porventura viveria acossado, viajando em carros blindados, com colete à prova de bala, rodeado de arame farpado! Grande liberdade, não?

Filipe Melo Sousa disse...

Apenas quero ter a liberdade de viver para o meu proveito, sem coagir ninguém a contribuir para o mesmo. A doação de pai para filho é um acto livre e voluntário, como qualquer doação. Ninguém se deve intrometer nos afectos alheios. Nem deve ter filhos irresponsavelmente para a sociedade sustentar. Não sou culpado da política contraceptiva dos meus vizinhos.