sexta-feira, 11 de julho de 2008

Não há engenharias mercantis grátis

A desorientação e demagogia políticas do PSD tornam a vida demasiado fácil ao governo e aos seus intelectuais orgânicos na questão dos investimentos públicos e do seu financiamento. Afirma Vital Moreira: «para haver investimento em infra-estruturas públicas não é necessário ter dinheiro público disponível nem sequer recorrer ao endividamento público, bastando optar pelo investimento privado no quadro de parcerias público-privadas». E diz mais: «a quase totalidade dos investimentos previstos - novo aeroporto, nova travessia do Tejo, rede ferroviária, estradas, barragens, portos, e mesmo hospitais, escolas e prisões - será feita com dinheiro privado».

Dinheiro privado e muito dinheiro público à mistura, controlo privado de mais sectores estratégicos, lucros (rendas talvez seja uma expressão mais apropriada) garantidos pelo Estado, diminuição da transparência nas contas públicas, subordinação do Estado aos interesses dos grupos privados rentistas cada vez mais incentivados a investir em «negócios» sem risco. De facto, nestas «parcerias» do bloco central de todos os interesses, o risco dos projectos de investimento, dada a natureza dos equipamentos, é suportado integralmente pelo Estado. Os privados investem sabendo de antemão qual a rendibilidade que podem esperar. Assim se supera, com a ajuda dos contribuintes, a principal fonte de incerteza em capitalismo. Não há mesmo engenharias mercantis grátis. Como Vital Moreira aliás reconhece.

Alternativas? Assumir que os investimentos são públicos e que público deve ser o controlo de infra-estruturas e de equipamentos tão necessários para o desenvolvimento do país. A dívida pública deve servir para financiar investimentos que ajudarão a aumentar a produtividade futura da economia e que também beneficiarão as gerações futuras. É justo e racional que os encargos sejam repartidos ao longo do tempo. A solidariedade intergeracional é muito mais simples e transparente. Os grupos privados que vão investir para os sectores dos bens transaccionáveis onde as suas capacidades empreendedoras podem ser melhor testadas. É preciso traçar linhas. O PS tem vindo a apagá-las. Vamos pagar um preço elevado por isto.

18 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Se houvesse "subordinação do estado aos interesses dos grupos privados", seriam os privados a competir livremente entre si, e não o estado a decidir qual o privado que quer privilegiar.

Se um privado estiver a corromper o poder político para que se gastem rios de dinheiro num elefante branco, este não está a fazer nada de mal. Apenas está a fazer pela sobrevivência, num jogo perverso que o estado criou.

Pedro Sá disse...

Havia de ser bonito, endividar assim os portugueses por muitos anos...

Dias disse...

Ainda sobre o “sucesso” das parcerias público-privadas e dos investimentos sem risco (está a tornar-se uma especialidade do privado…)

Acena-se com a construção de novas barragens para a produção de energia, rotulada como medida perspicaz e de “grandes vantagens”, pois o investimento será feito por privados, arrecadando o Estado à cabeça, chorudas quantias aquando da concessão”. Grandes dúvidas impendem sobre este modelo de engenharia financeira, sobre a justeza dos valores das concessões, já nem falando do destino que irão levar os montantes que o Estado irá receber.

Na água, sector ainda público (pelo menos no estatuto), a sua gestão tem vindo a demonstrar que estamos perante um feudo, não de uma empresa pública. Parece-me que o ambiente aí será de “desmontar de tenda”, confuso, pois a privatização viria a caminho.

Que garantias, que transparência? A “bondade e eficiência” desta engenharia mercantil sobre estes e outros bens, que são absolutamente vitais e de cariz público, não convencem ninguém.

Anónimo disse...

"...cada vez mais incentivados a investir em «negócios» sem risco"

Julgo que esta é a palavra chave deste comentário. Ao longo dos anos o Estado, pelas suas diversas acções tem coberto o risco do nosso sector empresarial.

Esta cultura levou a um Estado demasiado gastador e a um tecido empresarial pouco competitivo.

No entanto e por mais estranho que pareça muitos são os quandrantes de direita/liberais que defendem que o dinheiro de todos sirva para cobrir o risco dos privados.

Filipe,

"Se um privado estiver a corromper o poder político para que se gastem rios de dinheiro num elefante branco, este não está a fazer nada de mal."

É impressionante como basta justificar com o "é negocio" para se ficar perdoado dos seus crimes.

No fundo e numa sociedade marcadamente católica e o upgrade do perdão que os padres vendiam aos ricos...

Filipe Melo Sousa disse...

Não é crime nenhum viver num país mafioso. Não estás a condenar a máfia, está a condenar quem é coagido a sobreviver perante as suas leis. Não te esqueças que quem não suborna os políticos não é empresário, e vê a sua empresa fechar.

Anónimo disse...

Filipe,

a "máfia" é que é um crime, e não deixa de ser por ser um negócio.

Justificar a corrupção como justificaste anteriormente é justificar e apoiar a pratica de um crime...

Filipe Melo Sousa disse...

Repara que é o agressor (o estado) que define aquilo que é um crime. basta declarares a vida um crime que todos nós passamos a ser criminosos. Se gostas de ser um lacaio do agressor, força. Escolheste o teu campo.

There’s no way to rule innocent men. The only power government has is the power to crack down on criminals. Well, when there aren’t enough criminals, one makes them. One declares so many things to be a crime that it becomes impossible for men to live without breaking laws. Ayn Rand

Anónimo disse...

Filipe,

1- A tua concepção de Estado é muito dezactualizada. Neste momento o Estado somos todos nós, pelo que somos nós que definimos o que é crime ou não, e não uma entidade externa (pode ter falhas mas o modelo é esse).

2- Ao contrário do que queres dar a entender este crime em causa emergiu das nossas relações em sociedade e da nossa construção de sociedade. O Estado neste caso não pode ser visto como agressor, quem é o agressor é o corruptor...

3- "Se gostas de ser um lacaio do agressor, força. Escolheste o teu campo." aqui está o teu complexo de herói a vir ao de cima. Que raio de argumento é este?

P.S. Julgo bastante interessante e totalmente incoerente esta tua visão com a que estás a defender no teu blogue no caso do arrastão(2), num alguém comete um crime que lesa o Estado e esse individuo não só não é nem deve ser punido como ainda o Estado assume para ti o papel de agressor, no caso do arrastão quem comete o crime deve ser punido e o Estado já não é agressor (não me digas que esta tua posição também é dependente da cor do individuo...)

Filipe Melo Sousa disse...

stran, eu ao contrário de ti acho que o agressor deve ser punido independentemente da sua cor. já tu tens amnistias para certos grupos que gostas de vitimizar com argumentos históricos que atravessam gerações

de resto, olha não sou nenhum herói randiano, nem me predisponho a sê-lo. se fosse empresário certamente infringiria a lei. sem problemas morais, pois sei quem é o agressor que vicia o sistema. não me sentiria culpado pela minha necessidade de viver

Anónimo disse...

"Se fosse empresário certamente infringiria a lei."

Ok, não tens problema em ser criminoso, nesse aspecto não és diferente de quem vende droga, de quem vende armas ilegais em Portugal, de quem rouba...

Quanto à questão do Estado-agressor, essa é uma noção tua que não tem nenhuma racionalidade, pelo menos ainda não a demonstraste.

P.S. Num caso o sujeito A (por exemplo tu) comete um crime e defendes que não deve ser penalizado, noutro caso o Sujeioto B (ex. arrastao) comete um crime e já é um selvagem?

Diferença: quantidade de melanina na pele...

Por isso não distorças a realidade no meio duma discussão, afinal honestidade é o teu "midle name"!

Filipe Melo Sousa disse...

A quantidade de melanina é-me indiferente. Eu ao contrário de ti não tenho amnistias para grupos etnicos seleccionados.

Imagina agora duas situações:
1) na escola toda a gente copia porque a professora fecha os olhos. o aluno que não copia é prejudicado. de acordo com o stran, quem copia é o culpado, não quem cria um sistema que premeia o infactor.
2) na escola o ze (que pertence a um determinado grupo etnico que defendes) bate no manel porque acha que tem o direito. de acordo com o stran, o ze fez uma coisa feia, mas desculpável porque ele tem muitas atenuantes para continuar a faze-lo

Anónimo disse...

Não me conheces para me julgar, mas já sei que isso é defeito de fabrico...

Agora os exemplos:

1- Se for proibir copiar então condeno todos os que cometeram esse acto (julgo que as pessoas como responsáveis pelos seus actos e não seres sem racionalidade). No entanto julgo que seria prudente mudar o sistema. Gosto quando dás exemplo, acabas de justificar o controlo do Estado, algo que normalmente és contra.

2- De acordo com o Stran acha uma coisa feia e não desculpável. E que como no caso anterior deve ser punida. O que o Stran não defende é que se classifique esse acto como acto racista, algo que o filipe defende...

Anónimo disse...

P.S. Epá até parecia um jogador de futebol a falar na terceira pessoa. Bem não vou poder responder mais, mas volto na segunda.

Bom Fim de semana a todos!!!

Filipe Melo Sousa disse...

De forma alguma, nunca defendi que as escolas deveriam ser do estado. Toda a gente deveria ter o direito de abrir uma escola privada onde todos os alunos pudessem copiar, e cujos diplomas não teriam valor algum.

Pronto stran, desculpa lá eu dizer que os teus amigos são capazes de racismo. São tão bons rapazes...

Anónimo disse...

filipe,

As ideias liberais de Jean-Baptiste Say que fundamentam alguns objectivistas são dadas como fazendo parte da história. Muitas delas já foram provadas como erradas.

Para já existe uma granda confusão em distinguir o que é culpa e o que é responsabilidade. Ambos fazem parte de qualquer análise por mais simplista que seja. No entanto os objectivistas não o conseguem fazer "objectivamente" (lol), subvertendo toda a linha de pensamento para chegar a certas conclusões.

Se queres ir mais longe nesta forma de pensar, lê Rothbard ou algum outro autor anarco-capitalista ...

Anónimo disse...

"Pronto stran, desculpa lá eu dizer que os teus amigos são capazes de racismo. São tão bons rapazes..."

O problema não é se os meus amigos são capazes de racismo, é apelidar um evento de racista quando o não é (pelo menos não tens nenhum indicio onde te baseares). Isso chama-se falsear a realidade...

Filipe Melo Sousa disse...

A distinção entre responsabilidade e culpa está ligada ao juízo pessoal que cada um faz das consquências (positivas ou negativas) dos seus próprios actos. Uma culpa é sempre uma responsabilidade, mas o inverso não é forçosamente verdade.

Como um objectivista defende que as consequências dos seus actos ficam com quem os origina, essa distinção não acrescenta nada à discussão.

Anónimo disse...

Vital Moreira, finalmente, vai receber os dividendos das lambidelas ás politicas do Socrates e do PS.
Os "perús velhos" ou "vira casacas" da nossa praça, vão-se revelando e cobrando, principescamente, por isso.
Sobre o sucesso das parcerias publico-privadas, agora tão do agrado do sr Vira Casacas, perdão, VM, basta olhar para o hospital Amadora-Sintra para ver até onde foi a pouca vergonha e a selva a que levou a subordinação do estado aos interesses privados.
Para quem diz defender o interesse público, não há dúvida que o PS e o Socrates( das vacuidades e...)e as suas tão queridas parcerias pp representam bem o estado de podridão a que isto chegou.



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