segunda-feira, 7 de julho de 2008

Mercado, socialismo e o crescimento chinês

Há quem diga que a receita para o crescimento exponencial da China nos últimos 30 anos está mais nos elementos socialistas do seu modelo do que nos elementos mercantis. O herege, desta feita, é um professor universitário associado à 'nova esquerda' chinesa. Diz Cui Zhiyuan que a propriedade pública da terra, as empresas colectivas no mundo rural e o controlo estatal de empresas estratégicas têm sido centrais na estratégia chinesa. Eu acrescentaria o controlo dos movimentos de capitais - e não esqueceria a nada socialista repressão feroz dos movimentos sindicais. Por outro lado, não menosprezaria a importância do funcionamento dos mecanismos de mercado na afectação de grande parte dos bens e serviços. A ilusão das receitas do 'pós-consenso de Washington' (que se resumem quase sempre a «liberalizar, desregulamentar, privatizar», com preocupações sociais ou institucionais num ponto ou noutro) é que dificilmente sobrevive a esta história.

12 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Sou um admirador dos progressos da China pelo que eles significam de libertação da miséria para centenas de milhões de pessoas.
Acho que a experiência chinesa deve ser estudada com seriedade em vez de se tentar tirar dividendos políticos, imediatistas, como é o caso deste post.
Acho que invocar o caracter "socialista" para coisas como a propriedade da terra e o controle estatal de empresas estratégicas é bastante polémico.

Aceito que se diga que a disciplina, a organização do território e a inexistência de contestação política impostas pelo maoismo faciliatam, hoje, o desenvolvimento que está a acontecer com base na iniciativa privada, ainda que controlada.

Cerca de 25% dos chineses trabalham já hoje, como assalariados, para empresas privadas. E esse número continua a crescer.

Essa é que é a pedra de toque...

NC disse...

Eu diria que foi mais o Estado chinês ter decidido libertar a iniciativa privada. Os chineses esperavam há anos que o Estado os deixasse ganhar dinheiro. Ou seja, abandonasse o comunismo que não é mais do que socialismo doentio e totalitário.

antónio m p disse...

Fiquei com apetite para uma abordagem mais desenvolvida do tema. Espero ter essa satisfação um dia destes embora reconheça que estou a pedir uma aula de graça.

Anónimo disse...

Anos a fio sob o maoismo, o PCC tem o controle absoluto sobre a sociedade. Ao contrário de outros tempos, a nomenclatura deixou de ter preconceitos em relação à face mais visível da sociedade capitalista. No entanto, e como sempre aconteceu, direitos laborais não existem, restrições ambientais são zero.
Alguns dirigentes chineses afirmam sem pudor que tiveram que fazer uma inflexão para capitalismo, uma correcção estratégica, “antes de atingirem o amanhã que canta”…Enfim, discurso para massas, ao bom estilo das nomenclaturas comunistas e fascistas.
Uma coisa é certa: a força produtiva desta multidão chinesa vai fazendo as delícias do Império. Mas não creio que esta forma de desenvolvimento e de crescimento, o milagre chinês, sejam o paradigma da civilização para o séc. XXI.

L. Rodrigues disse...

As centenas de fábricas que vão fechar até Setembro para tentar despoluir o ar de Pequim durante os jogos olimpicos são um caso interessante.
Serão capitalistas voluntariosos e cheios de consciência cívica? Irão ter compensações do governo chinês? Terão sido simplesmente obrigados a isso?

Anónimo disse...

Caros,

Neste link para um conteuudo de um livro editado por Dani Rodrik,

http://ksghome.harvard.edu/~drodrik/growthprogram.html

...podem ver o capiitulo sobre a China, e as experimentacoes institucionais feitas. Na introducao ao livro, Rodrik faz tambeem algumas apreciacoes a como tudo comecou naquele paiis, e como um economista neoclaassico erraria completamente o alvo.

Existem outras anaalises a esta experiencia chinesa, que nos ensinam muito sobre como, quando se parte de tao longe da fronteira tecnoloogica, a "forca bruta" da acumulacao de capital liderada por poliitica econoomica ee muito mais eficaz que as consideracoes poliiticas que apontam para a eficiencia estaatica como resposta (mecanismo de precos = eficiencia). Uma abordagem pragmaatica aa poliitca econoomica, do tipo chinesa (com enormes subsiidios aos sectores exportadores que querem subir na escala do produto), ee muito mais eficaz que uma abordagem assente simplesmente na iniciativa privada (price-signals).

Haa atee gente que tem descoberto (gente que comecou como puramente neoclaassica - Ricardo Hausmann - e que agora se encontra tao longe) que, deixado aos mecanismos de mercado, ee terrivelmente difiicil para um paiis fazer o catch-up nos niiveis de sofisticacao do produto.

Imaginem os chineses quando recebiam os gajos do ADB, do IMF e do WB nos anos 70, que lhes diziam para deixar o mercado funcionar, porque assim se especializavam naquilo que faziam melhor... os chineses (e os koreanos, e os de Taiwan, e os tailandeses) pensavam: "nao pode ser, para eu ser um dia como a Suica, nao ee a produzir "bananas" que eu vou laa"...

O padrao de especializacao de uma economia ee indeterminado, a vantagem comparativa de uma economia controi-se, nao ee determinada por uma particular alocacao de "endowments". Depende do padrao particular acumulacao de recursos de uma economia, e esse processo estaa cheio de falhas de marcado. O mecanismo de precos nao guia o processo de acumulacao de forma conveniente.

Leiam a introduccao do uultimo livro do Barry Eichengreen (free of charge na web) sobre o crescimento europeu do poos-guerra, para perceberem que a Europa fez o catch-up precisamente porque nao se fiou em conversas de depender simplesmente no mecanismo de precos para a alocacao de recursos...

Cumprimentos
Joao Farinha

Anónimo disse...

A introducao a este paper explica um pouco a contexto teoorico para perceber a China e outros paiises:

www.adb.org/Documents/Papers/Growth-Diagnostics/growth-diagnostics.pdf

Abracos e boas leituras
Joao Farinha

Anónimo disse...

ora tomem laa mais um:

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/07/have-production.html

boas leituras
Joao Farinha

pvnam disse...

«........mini-spam........»
'Guerra' aos Bandalhos Éticos
[Separatismo na Europa]

---> Não sejam uns IMBECIS MILITANTES: a luta pela sobrevivência no planeta não se compadece com discursos de bebé-chorão (vulgo discursos de cidadão infantil)!
---> A luta pela sobrevivência é [sempre foi] uma coisa difícil e complicada!
---> De facto, a luta pela sobrevivência implica uma declaração de guerra contra os inimigos!

---> Para que os nativos europeus, no futuro, possam ter o SEU espaço no planeta há que declarar guerra (leia-se SEPARATISMO) em relação aos Bandalhos Éticos (vulgo Bandalhos Brancos).

NOTA -> Os Bandalhos Brancos procuram infiltrar-se em qualquer lado:
---> Como NUNCA conseguiram construir uma sociedade sustentável (ou seja, uma sociedade dotada da capacidade de renovação demográfica) sem ser à custa da repressão dos direitos das mulheres (mulheres tratadas com úteros ambulantes), hoje em dia, como seria de esperar, os Bandalhos Éticos (vulgo Bandalhos Brancos) pretendem infiltrar-se (fora e dentro da Europa) no seio de outros povos... consequentemente... os Bandalhos Éticos são INTOLERANTES para com a existência de Reservas Naturais de Povos Nativos!...


---»»» Pelo Direito à diferença:
TODOS DIFERENTES!!! TODOS IGUAIS!!!
--- Isto é, TODOS os Povos Nativos do Planeta Terra:
-> INCLUSIVE os de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!!!...
-> INCLUSIVE os economicamente pouco rentáveis!!!...
devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no Planeta!!!

João Dias disse...

Bastante mais simples é perceber o que o modelo capitalista ocidental quer "aproveitar" deste caso de sucesso económico e fracasso social. É a competição baseada no esmagamento do tecido produtivo, passar a mão-de-obra de estatuto de mercadoria para estatuto de estrume. Enquanto a China vender mercadoria barata para os intermediários enriquecerem à custa deles, aí o capitalismo ocidental bate palmas, se alguma vez a China se lembrar de efectivamente ser uma potência económica e deixar de vender barato para especulação de intermediários e tiver as suas próprias redes de distribuição, então aí...maldita China.

José Carlos Matias (馬天龍) disse...

o Sínico aborda o pensamento de Cui Zhiyuan em
http://sinico.blogspot.com/

Ricardo Paes Mamede disse...

caro José Carlos Matias,
obrigado pelo link.