terça-feira, 18 de março de 2008

Os espíritos animais de João César das Neves

Os neoliberais andam completamente desorientados: «Olhando a actual derrocada, que começou com o subprime hipotecário americano, ficamos espantados como pessoas inteligentes, informadas, especialistas, caem em erros tão infantis e evidentes. A única explicação é a que o mesmo Keynes deu noutra passagem, quando falou dos animal spirits que se apoderam dos investidores em momentos de euforia» João César das Neves (JCN) em artigo no DN.

Notar que JCN tem de recorrer a Keynes para «explicar» a actual crise financeira. Lá se vai a sua querida economia ortodoxa povoada de agentes omniscientes e de mercados sem falhas relevantes. O que JCN não refere é que Keynes defendia, e bem, que a instabilidade financeira é um atributo necessário de mercados financeiros desenhados de acordo com as prescrições liberais. Estes gerariam incentivos e padrões de interacção concorrenciais que levariam «pessoas inteligentes e informadas» a cair «em erros infantis e evidentes». Com consequências desastrosas para toda a economia. Por isso, Keynes propunha a reforma profunda dos mercados financeiros e a diminuição da sua importância económica, política e social. Taxas e aumento do controlo político. É claro que basta recordar as recentes posições entusiastas de JCN a favor do incremento do papel dos mercados financeiros liberalizados (por exemplo, na área da Segurança Social) para concluirmos que não são só os seus operadores que cometem «erros infantis e evidentes».

10 comentários:

Pedro Sá disse...

Considerar que cometer erros infantis deriva necessariamente de um sistema económico é uma lógica completamente absurda, sejamos realistas...

Nuno disse...

É a falência de toda uma filosofia baseada em "agentes omniscientes e de mercados sem falhas", altas remunerações de capital, pressão para aumentar os lucros utilizando alavancagens de alto risco(só percepcionado por alguns.
Essa filosofia irá agora obrigar a que o estado acorra a salvar o sistema fundos públicos. Qdo começarmos a assitir a nacionalizações talvez os crentes como JCN mudem de ideias!
E para qdo a primeira nacionalização nos EUA?

João Rodrigues disse...

Deriva então de quê Pedro Sá? Atenção que a expressão «erros infantis» é de JCN. Sejamos realistas. Mesmo. Concentremos a nossa atenção nas estruturas que geraram estes comportamentos.

Pois é Nuno. Agora é o Estado que tem de limpar isto tudo. À custa de todos. É o problema das externalidades negativas. Nos EUA, há quem defenda que a Reserva está a nacionalizar de forma encapotada a partir do momento em que aceita como garantia da liquidez que concede activos de valor mais do que duvidoso e orquestra operações de aquisição (ainda privadas é certo). Mas lá chegaremos.

Unknown disse...

"Keynes defendia, e bem, que a instabilidade financeira é um atributo necessário de mercados financeiros desenhados de acordo com as prescrições liberais."

João Rodrigues, a emissão de moeda fiduciária por parte dos bancos centrais tem sérias implicações nos mercados financeiros.

Para mim, esta forma de intervencionismo estatal não é uma "prescrição liberal" mas, sim, socialista (por algum motivo a corrente política monetária é componente da teoria neoclássica e não do liberalismo clássico).

PS: apesar do FED não ser uma instituição estatal, este opera com o aval e (relativa) supervisão do Congresso dos EUA.

Pedro Sá disse...

Deriva, obviamente, de erros de avaliação.

Os erros cometidos, mesmo os infantis, acontecem em qualquer sistema económico. Qualquer um.

João Rodrigues disse...

Sim claro bz. Podemos voltar ao ouro e a outras ficções mercantis que o bz gosta de invocar para não ter de reconhecer que estas estruturas são resultado das prescrições dos neoliberais realmente existentes (que o insurgente defende quando dá jeito). E como toda a gente sabe os neoclássicos não passam de um bando de socialistas. A sua defesa habitual das idealizações do mercado é só para disfarçar. Um dia o bz terá que explicar o que é isso do liberalismo clássico. "Tradição inventada". Libertarianismo à Rothbard não vale.

Essa não é a questão Pedro Sá. Sempre pensei que a social-democracia avaliasse as estruturas (mesmo em capitalismo) e os resultados comparativos que geram. Mas isso era antes da terceira via. Agora só há indivíduos e os seus erros...

Unknown disse...

"Sim claro bz. Podemos voltar ao ouro e a outras ficções mercantis que o bz gosta de invocar para não ter de reconhecer que estas estruturas são resultado das prescrições dos neoliberais realmente existentes"

Caro João Rodrigues, o facto de eu reconhecer que a emissão de moeda fiduciária é uma forma de intervencionismo estatal leva-me, como liberal, a denominar qualquer proponente destas medidas como "socialista".

Talvez ao designar tais políticas de "neoliberais" o socialista João Rodrigues queira distanciar-se das mesmas porque defende diferentes prescrições estatistas. Terá, no entanto, de reconhecer que as referidas estruturas são resultado de planeamento económico do Estado e não do mercado livre.

Pedro Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Sá disse...

"Sempre pensei que a social-democracia avaliasse as estruturas (mesmo em capitalismo) e os resultados comparativos que geram. Mas isso era antes da terceira via. Agora só há indivíduos e os seus erros..."

Irrelevante. Os erros, com ou sem estruturas, são sempre cometidos por pessoas. E dizer que a responsabilidade é das estruturas e não das pessoas é passar um atestado de estupidez a tudo e todos. É fazer das pessoas aquilo que não são: fantoches.

Anónimo disse...

Caro Pedro Sá, parece-me que não compreendeu (ou então não quer compreender) a ideia central do post.
O senhor, à boa maneira neoliberal, quer-nos fazer crer que os milhões que milhares de investidores, principalmente bancos (onde o cidadão comum põe o seu dinheiro) têm perdido em hedge funds, obrigações de alto risco e esquemas do género se devem à estupidez individual e a erros de julgamento. O sistema em si funciona à mil maravilhas e está acima de qualquer crítica, desde que, quando seja preciso esteja lá o Estado para financiar (com o dinheiro de todos) esses "erros individuais".

Eu gostaria pois, que o Pedro Sá me explicasse a partir de que momento poderemos considerar a soma dos "erros individuais" dos investidores que sistematicamente põe o dinheiro (dos outros) em esquemas de tal modo arriscados que mais valia irem jogar Blackjack ao casino, como falhas do sistema económico que mereçam a intervenção do Estado.

É que, para o caso do senhor não se recordar, estes erros infantis custam os empregos e as casas a muito boa gente, pelo que, se calhar não era má ideia o Estado regulamentar melhor o mercado, quanto mais não fosse, para dificultar que as pessoas se "enganassem" tanto...