quarta-feira, 19 de março de 2008

A hora das reformas estruturais

Quem quiser compreender a economia política da financeirização do capitalismo só tem que ler o editorial do Financial Times de ontem. Alguns excertos: «os bancos centrais podem prevenir tudo isto se estiverem dispostos a pagar o preço transferindo alguns dos activos problemáticos para as contas públicas [já o estão a fazer] (. . .) Os bancos centrais e os governos têm de estar à frente dos acontecimentos, enfrentando os problemas antes destes começarem, incutindo confiança aos mercados (. . .) A doença não é fatal, mas o tratamento tem que ser agressivo». É sempre assim. Pior: tem que ser sempre assim. A crise revela o lado negro dos mercados: pânico, descoordenação, incerteza radical. A inteligência colectiva que existe nas estruturas públicas mostra agora toda a sua utilidade. Enquanto muitas das práticas financeiras, nutridas por mais de duas décadas de desregulamentação, não forem eliminadas, os poderes públicos serão chamados a resolver os desmandos em larga escala da finança. Não podem deixar de «intervir» porque os circuitos de crédito são um dos centros nevrálgicos de qualquer economia. O seu desmoronamento tem custos demasiado elevados. Para todos nós. Há algumas coisas a reter: (1) nenhuma economia funciona sem um Estado robusto; (2) não há nada de inevitável na actual configuração dos mercados financeiros; (3) o mesmo Estado que é agora chamado, pelos que dizem gostar dele «mínimo», a intervir por todo o lado, terá a prazo que impor os custos da crise sobre os grupos sociais que beneficiaram das actuais regras. Haja força política porque as boas razões são evidentes. Precisamos mesmo de uma vaga de reformas estruturais. Esta expressão tem apenas que readquirir as conotações de outras épocas. Quando foi sinónimo de superação de muitos dos arranjos institucionais herdados do capitalismo liberal através de nacionalizações, taxação sobre as operações da finança especulativa, regras muito mais apertadas para a actividade bancária, controlo de capitais, separação entre as várias actividades da finança, etc. Isto deu origem, nos países centrais, a algumas décadas de «prosperidade partilhada» com estabilidade financeira.

4 comentários:

Anónimo disse...

joão rodrigues o rei das citações!!

João Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

"Sim, nós podemos!"

De repente é outra citação (lembrei-me agora)que parece agradar a muita gente...

Pedro Ribeiro disse...

Esta, vinda de onde vem, é espantosa:

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/03/bushs-market-li.html