quarta-feira, 26 de março de 2008

Crise e ideias

Estamos mesmo na época da revisão das crenças nas virtudes do mercado sem fim. Em Portugal, os sinais ainda são fracos. Na blogoesfera, onde domina uma versão totalmente blindada do neoliberalismo, ainda menos. No entanto, basta ler a imprensa liberal que está atenta à evolução do capitalismo realmente existente, sobretudo na sua variante anglo-saxónica, para nos apercebermos dos efeitos que a crise está a ter nas ideias económicas dominantes. E estas, por sua vez, têm sempre consequências para a orientação das políticas públicas. Esta semana, a The Economist aponta o caminho ao reconhecer, de forma mais ou menos explicita, o fracasso dos mercados financeiros liberalizados e a correspondente necessidade de aumentar o «controlo para reduzir as hipóteses de novos apoios públicos» às aventuras dos agentes financeiros. Ontem, Wolfgang Münchau do Financial Times, um dos mais acérrimos defensores da tese da decadência económica da Europa minada pelo «intervencionismo», afirmava que o velho continente estaria, em geral, menos exposto à crise porque o seu modelo de capitalismo dependeria menos da especulação financeira. Finalmente, Martin Wolf, também do Financial Times, declara que atingimos um ponto de viragem: «lembrem-se de sexta-feira, 14 de Março de 2008: foi o dia em que o sonho do capitalismo assente no mercado livre global morreu (. . .) a desregulamentação atingiu os seus limites». É preciso fazer tudo para que esta profecia se concretize.

48 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Resumindo: o intervencionismo do FED deu bronca, logo o mercado livre falhou. É urgente dar mais poderes reguladores ao FED para poder remendar a asneira que faz.

Anónimo disse...

Desculpe, Filipe, mas tente responder, de forma clara, ã seguinte pergunta (se não for pedir muito, claro): considera que a responsabilidade pela crise actual reside principalmente no intervencionismo da Fed?

Filipe Melo Sousa disse...

Obviamente. O FED tem o monopólio da emissão monetária. Monopólio estatal.

Anónimo disse...

... como têm quaisquer Bancos Centrais em qualquer país (com a excepcão evidente da Zona Euro). E então?

Tenha a bondade de me explicar (prometo que vou adorar ler) de que forma é que o intervencionismo da Reserva Federal é causador e responsável pela crise.

L. Rodrigues disse...

Isto independentemente de o FED ser de facto uma entidade privada.

L. Rodrigues disse...

"commercial and investment banks created new financial mechanisms to expand housing credit to borrowers with little creditworthiness. The Fed declined to regulate these dubious practices"

Jeffrey Sachs, Project Syndicate

Regulou de menos, e não de mais. Tem a culpa mas pela razão oposta à sugerida pelo FMS.

Anónimo disse...

Aliás, já agora, e para ter a certeza que estamos a usar os mesmos conceitos, agradecia que explicasse concretamente o que entende por "intervencionismo do FED".

Anónimo disse...

L. Rodrigues,

Também me parece evidente que é esse o caso. Creio que desta vez, ao contrário de outras crises anteriores, nem mesmo os fundamentalistas de mercado vão ter o descaramento de proclamar que a crise se deve a excessos reguladores, e não à sua escassez.

Filipe Melo Sousa disse...

O FED não é um agente privado. É um monopólio nomeado pelo governo. Houvesse competing currencies e poderia fazer uma análise justa. Já tentar entender os motivos da incompetência dos burocratas estatais é uma ciência escusada.

O monopólio do estado é justificado com motivos obscuros tais como a atenuação dos ciclos e o controlo da inflação. Mas creio que um longo período de juros negativos, a subsequente bolha imobiliária, o aumento abrupto das taxas e a falsa confiança das Basileias explicam o óbvio.

Anónimo disse...

Filipe,

Mais uma vez, não sei se andamos a usar os mesmos conceitos.
Burocratas estatais? um bocadinho forcado, se tivermos em conta que o Greenspan comecou a trabalhar em 1948 e só se tornou Chairman da Fed em 1987. Ora, em 40 anos, apenas durante 3 esteve no sector público.
Além de que, como não pode deixar de saber, estes personagens são habitualmente adeptos do mercado livre e da minimizacão do Estado.

Depois, podia ainda referir estudos que referem os maus resultados da liberalizacão dos mercados de capitais (se quiser, mando-lhe uns links).

E, finalmente, é sintomático que alguém como o Martin Wolf (vai dizer-me que é socialista ou intervencionista?) a caracterizer a Reserva Federal como the institution responsible for monetary policy in the US, chief protagonist of free-market capitalism e a decretar que, a 14 de Marco the dream of global free- market capitalism died (ambas as passagens estão no link oportunamente colocado pelo João Rodrigues).

Mas confesso que estou curioso para saber que solucões proporia.

(Peco desculpa pela ausência de cedilhas nos "c". Defeito de teclado...)

Filipe Melo Sousa disse...

Como todos os detentores de cargos públicos que trabalharam no privado, Greenspan passou a ser um burocrata, colocando o capitalismo laissez-faire e os ensinamentos de Ayn Rand na gaveta. O que se auto-denominam é irrelevante. Não vou levar a sério a auto-denominação da RDA e da Coreia do Norte.

Eu não proponho nenhuma solução para a política monetária dos EUA, uma vez que não defendo a sua própria existência. A curto, médio e longo prazo é bem preferível deixar a inflação e os ciclos flutuar livremente.

Pedro Ribeiro disse...

No blogue Economist's View, alguns posts interessantíssimos dão conta de como os últimos acontecimentos vêm sendo interpretados por um cada vez maior número de analistas como um falhanço claro da opção assumida pela desregulação dos mercados (financeiros):

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/03/a-coordinated-e.html

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/03/liberalisations.html

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/03/keynes-the-end.html

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2008/03/ten-days-that-c.html

Anónimo disse...

We need more regulation

http://www.marketwatch.com/news/story/fed-bailout-wasnt-just-fat/story.aspx?guid=%7B9D10A31D%2D4E38%2D47D3%2DA964%2DAD711300D21F%7D

Cláudio

Filipe Melo Sousa disse...

Isto é uma competição por quem mete mais links? É que se eu quisesse enchia a página de links da escola austríaca, mises, hayek & cia.

as ideias são defensáveis por si, não pela energia gasta a linkar, argumento bem inferior que um argumentum ad gogulum.

L. Rodrigues disse...

Por muita argumentação que vá buscar com ou sem links a Mises, Friedman ou Ayn Rand(!?), há uma coisa que se sobrepõe a todos os argumentos e que se chama Realidade.

Tenho uma novidade para si: O Filipe Melo Sousa não é o Super-Homem. Desculpe a franqueza, sei que pode magoar.

xatoo disse...

Letter written from London by the Rothschilds to their New York agents introducing their banking method into America:
"The few who can understand the system will be either so interested in its profits, or so dependent on its favours, that there will be no opposition from that class, while, on the other hand, that great body of people, mentally incapable of comprehending the tremendous advantage that Capital derives from the system, will bear its burden without complaint and, perhaps, without even suspecting that the system is inimical to their interests."

Filipe Melo Sousa disse...

Não é preciso ser o super homem para reconhecer o egoísmo racional que move a natureza humana, o único modo não hipócrita de encarar a vida.

Anónimo disse...

Caro F Sousa,

Quanto à hipocrisia, saiba que os sentimentos altruístas e de justiça social são muito reais, mesmo que vc não os sinta. Pense também porque existem esses sentimentos, pense em Darwin, e tenha um pouco de humildade quando tenta entender o mundo.

Aos detalhes. Quanto às "competing currencies" (intraduzível?) vc vive mesmo neste mundo? Não consegue conceber de um caso em seja indesejável haver maior escolha? Axiomático!

--eff

Filipe Melo Sousa disse...

Se existe monopólios naturais, este não é o caso

Anónimo disse...

"Monopólio natural"? A linguagem micro-económica não serve para tudo. Tome a liberdade de aplicar outras idealizações se a ocasião o exigir, e se for capaz.

Quanto à política monetária, cuja existência "não defende": o que para o FS é "óbvio" é tema de debate entre especialistas. Lição para quem lê aqui?

Do ponto de vista libertário, se o Fed faz má gestão do USD e não merece confiança, há alternativas em moeda estrangeira e em prata e ouro. Todos os actores conhecem as regras, podem prever razoavelmente o futuro e portanto não deveria haver qualquer problema, mas há.

-eff

Filipe Melo Sousa disse...

alternativa? Eu posso fazer a minha declaração de IRS em gramas de ouro?

Anónimo disse...

Está a concordar que as únicas transações obrigatoriamente na moeda do Governo são as que se fazem com esse mesmo Governo?

É-me um pouco difícil decifrar a sua posição.

-eff

Tiago disse...

Eu sempre adorei a coisa do egoismo racional (no sentido que me atiro para o chão a rir).

A parte mais fácil de desmontar é claro a parte do racional, basta ver o comportamento de praticamente tudo à nossa volta (especialmente do mercado livre, mas qualquer coisa serve). A ideia que o ser humano é essencialmente racional é de morrer a rir.

De morrer a chorar é a noção de egoísmo. No norte da Europa há uma proporção bastante grande de Fair Trade. É um engoísmo díficil de explicar. Ah... já sei é uma forma de egoísmo extremo para nos reconciliarmos com a nossa má consciência, pois claro. Essa ideia que nos podemos genuinamente preocupar com o bem dos outros e da comunidade é "irrelalista", "naive", "fruto de má consciência".

Aliás a Verdade (a única, com V grande) pode ser perfeitamente modelada por uma teoria esquizofrénica desenvolvida em plena guerra fria... Alías se percebe de teoria de jogos deve ser muito inteligente, carago. Só é pena que a realidade não seja esquizofrénica.

Mas enfim, mudando de assunto...

Cada vez mais me convenço que o mundo se divide não em direita/esquerda, preto/branco, religioso/não crente mas entre aqueles que se acham donos da Verdade e do Mundo (fundamentalistas religiosos, políticos de direita ou esquerda, Ayn Rands e quejandos) e aqueles que acreditam que até podem estar errados.

Há aqui casos de humor involuntário: aqueles que estão pouco abertos à ideia que não são dono da Verdade e que terceiros até poderão ter alguma pontinha de razão. É impossível discutir com estas pessoas porque estas pessoas não discutem: tentam convencer os outros das suas verdades absolutas.

Quando são burras, são uma perda de tempo.

Quando são inteligentes dão para uns orgasmos intelectuais e umas boas gargalhadas.

Quando conseguem desenhar o mundo à sua maneira são normalmente causa dos piores desastres.

Tiago disse...

Correcção: Quando digo "políticos de direita ou de esquerda", queria ter dito "alguns políticos, indepedentemente de serem de direita ou de esquerda".

Filipe Melo Sousa disse...

Tiago, se fores adepto do "fair trade", convido-te desde já a vender-me a tua casa por um preço "justo". Existem agentes de mercado racionais, não quer dizer que todos. Casos como o teu sempre existirão, e eu terei todo o gosto em "comer-te".

Ou pelo contrário acharás que o preço deve ser regulado pelo grande irmão, esse sim movido de racionalidade?

Tiago disse...

Existe uma hipótese de "tu" não me comeres: É "eu" arranjar maneira de configurar o poder coercivo de forma a que comportamentos como o "teu" sejam penalizados.

Chama-lhe estado. Chama-lhe democracia. Serve para muita coisa, às vezes má, mas às vezes boa. Regular (pela força, se necessário - sim, eu quero limitar a "tua" "liberdade") comportamentos que a maioria considere nocivos.

A bem da verdade existe outra hipótese de "tu" não "me" comeres: É "eu" recusar-"me" (se "me" for possivel - no mundo REAL às vezes não é) a negociar "contigo". Que é precisamente o que faço quando compro café e bananas: não negoceio "contigo".

Filipe Melo Sousa disse...

Ora aí está: como o menino Tiago não gosta de jogar o jogo da racionalidade, diz que ninguém deve ter tal coisa, e opta pela força bruta onde tem maior probabilidade de sair vencedor.

Agora sim demonstrou a sua verdadeira face.

Tiago disse...

Ah... e fair trade não é a definição que te convém dar.

Tem apenas a ver com não explorar quem trabalha.

Devo dizer que nada me repugna vender uma casa a um preço estratosfericamente mais elevado que o valor real a um tanso. Desde que esse tanso tenha mais alternativas e eu não tenha um monopólio (ou duopólio ou triopólio) de casas.

Isto é, eu acho legítimo que se cobre qualquer valor por um produto desde que estejamos em condições de "mercado perfeito". Coisa que, por sinal, nunca acontece (a não ser em modelos académicos). Na realidade há sempre distorções. Quanto maior a distorção maior deve ser a regulação.

Isto sem prejuízo de achar que às vezes a regulação ainda piora as coisas.

Aliás o pior track record possivel de regulação vem da escola libertária americana. Baixar os juros para deixar o mercado o mais a vontade possivel, deu no que deu.

Filipe Melo Sousa disse...

De facto culpar o mercado como imperfeito é uma fuga à tua incapacidade de produzir e negociar. Mas deixa estar, sempre tens a arma que tão bem referiste do "não negocio contigo". Nunca ficas mal :)

P.S.: regular os juros não tem nada de libertário. Eu defendo precisamente regulação nenhuma.

Tiago disse...

Agora é o Felipe que está a ser "naïve".

Tudo é uma questão de poder.

Eu quero que o poder seja democrático. Com todos os defeitos que isso tenha. Sei que tem.

O Felipe quer que o poder seja uma função do dinheiro que se tem na carteira (vai dar a isso, alias vai dar a pior). E não consegue, curiosamente, encontrar defeitos na sua abordagem, vamos a caminho do paráiso, aleluia!

Se o estado democrático for abolido ou altamente diminuido nós não ficamos todos com "liberdade ilimitada". Ficamos na mão daquela meia dúzia que informalmente vai impor a sua vontade.

A minha força é a da maioria (mesmo quando ela vai contra a minha própria vontade).

A sua utopia ia por-nos na mão de meia dúzia de gorilas. Não era o paraíso, era o inferno.

Já agora, noto que tem uma certa tendência para distorcer a realidade como lhe convém:

Eu disse: "A ideia que o ser humano é essencialmente racional é de morrer a rir." (note o essencialmente)

que o Filipe transformou em:
"Ora aí está: como o menino Tiago não gosta de jogar o jogo da racionalidade, diz que ninguém deve ter tal coisa,". (note que transformou algo parcial num absoluto)

Mas provavelmente não é distorção consciente, dou-lhe isso de borla. Provavelmente é pura incapacidade de ver "tons de cinzento". Entre "totalmente irracional" e "totalmente racional" há um espectro de possibilidades, como em quase tudo na vida.

Eu adoro jogar o jogo da racionalidade. Por que é que acha que estou aqui a falar consigo?

Filipe Melo Sousa disse...

a minha força é a da maioria

A maioria estabeleceu o actual status quo. Depreendo que o estado actual das coisas agrada-te.

Tiago disse...

"De facto culpar o mercado como imperfeito é uma fuga à tua incapacidade de produzir e negociar."

Mas achas que o mercado é perfeito?

É que de repente parece que estás a usar padrão mental altamente religioso... Deus é o mercado.

Eu acho que o mercado é imperfeito, que o estado é imperfeito. Que eu sou imperfeito. Para mim é muito dificil perceber como conjungar estas variáveis todas e chegar a uma conclusão de qual é a melhor solução. Acho que é isso que fundamentalmente nos separa: para ti é simples e já decidiste.


"Mas deixa estar, sempre tens a arma que tão bem referiste do "não negocio contigo". Nunca ficas mal :)
"

Queres-me tirar a liberdade de decidir com quem negoceio? Queres tirar-me a liberdade de decidir por critérios diferentes dos teus? Para mim o negócio tem outros parâmetros que não o lucro. Dás-me essa liberdade? Dás a mesma liberdade a todas aquelas pessoas querem usar outros parâmetros que não o "egoismo racional" para negociar? É que de repente parece que para a tua sociedade funcionar toda a gente tem que se comportar como tu (quer queira, quer não)...

"P.S.: regular os juros não tem nada de libertário. Eu defendo precisamente regulação nenhuma."

Eu sei, tens razão. Sei perfeitamente qual é o teu ponto de vista.
Mas penso que me dás de borla que é um ex-libertário (que ainda mantém boa parte da ideologia inicial) que é um dos principais responsáveis pela actual situação financeira.
Por outro lado, dinheiro barato é o mais perto que um regulador pode chegar de deixar o mercado "à vontade"

Filipe Melo Sousa disse...

O presidente do FED será sempre um intervencionista, por muito que a sua ideologia lhe dite o contrário.

Quando o Estado Intervém, Regulamenta, Proíbe, Restringe, em suma interfere de toda e qualquer forma no mercado, traz sempre consequências adversas e efeitos secundários piores do que o pretenso malefício inicial que se propunha corrigir.

Tiago disse...

"A minha força é a da maioria"

Confesso que me começa a irritar a forma "selectiva" como editas os meus comentários. O que eu disse foi:

"
A minha força é a da maioria (mesmo quando ela vai contra a minha própria vontade).
"

Isto num contexto em que eu estava a descrever onde acho que o poder deve residir (indepedentemente de concordar com o que esse poder faz).

Tenho todo o gosto (real gosto) em discutir opiniões diferentes (sobretudo apresentadas de uma forma inteligente) mas não tenho nenhum quando a discussão começa a deixar de ser honesta.

Tiago disse...

"Quando o Estado Intervém, Regulamenta, Proíbe, Restringe, em suma interfere de toda e qualquer forma no mercado, traz sempre consequências adversas e efeitos secundários piores do que o pretenso malefício inicial que se propunha corrigir."

SEMPRE. Não fazes isso por menos? Sempre, sempre, sempre. Não há uma excepção à regra? Sempre.

Reparas que em termos de estilo és mais radical que o Álvaro Cunhal? Mesmo o Cunhal disse: "foram cometidos alguns erros" quando se referia à URSS.

Para ti é um absoluto: sempre.

E que tal substituires o "SEMPRE" por "POR VEZES"? Ou, se preferires, "NA MAIORIA DAS VEZES".

Falando em crises financeiras, não é engraçado que os EUA tenham recuperado economicamente após o crash de 29? Precisamente com o presidente mais regulador de todos: FD Roosevelt? Como é que explicas o melhoramento da situação económica nos EUA precisamente durante os anos de regulação em larga escala? Uma anormalidade estatística?

Filipe Melo Sousa disse...

Qual é a parte da palavra sempre que não entendes?

Tiago disse...

"Qual é a parte da palavra sempre que não entendes?"

Aquela parte em que achava que estávamos a falar da realidade e não de um jogo de computador. Claramente equivoquei-me

Filipe Melo Sousa disse...

Obviamente, sendo uma lei universal, aplica-se o sempre. Não é preciso nenhum computador da mossad para entender isso.

Tiago disse...

Podes-me elucidar porque é que é uma lei universal? É que leis universais eu só conheço uma mão cheia (tipo a lei da gravidade). E nenhuma me resolve os meus dramas existênciais.

Depois alguns grupos têm "leis" "universais" próprias. A mais comum é a noção de deus. Mas não são leis universais, são actos de fé (invariavelmente perigosos para quem não pertence ao grupo de iluminados - os infiéis).

Filipe Melo Sousa disse...

Uma lei universal é aquela que se aplica em todos os casos.

(duhhh...)

Tiago disse...

Eu não preciso de grandes explicações sobre o que será uma "lei universal", obrigado.

Queria apenas saber porque é que essa coisa do estado SEMPRE fazer asneira é uma lei universal?

Acordou para aí virado e resolveu dizer isso?

Devo vê-lo como um grande profeta inquestionável?

Ou tem algum argumento racional a oferecer? Note, uma "lei universal", como a da gravidade ou coisa do género não basta um argumento ténue, é preciso algo 99.99% irrefutável.

É que eu posso-me lembrar de decretar uma lei universal que toda a caca cheira a rosas. Mas não basta. Tenho que me justificar. A não ser que me substitua ao papel de deus e declare que é uma lei porque sim.

Donde: argumentos para promover a ideia fôfa e engraçadinha que o estado é sempre mau a uma lei universal como a da gravidade?

...Para além de uma fé cega acessível apenas a iniciados?

Filipe Melo Sousa disse...

Podes-me elucidar porque é que é uma lei universal?

30 min depois:

Eu não preciso de grandes explicações sobre o que será uma "lei universal", obrigado.

Tiago disse...

"Podes-me elucidar porque é que é uma lei universal?

30 min depois:

Eu não preciso de grandes explicações sobre o que será uma "lei universal", obrigado.
"

Ah... problemas de portugues, OK. Isso explica alguma coisa.

Uma coisa é perceber o que é um conceito.

Outra coisa é querer ser elucidado porque é que certo objecto pertence a certo conceito.

Percebes a diferença? Não que seja de uma grande nuance...

Em termos matématicos, caso isso ajude: Eu posso saber o que é o conjunto A. Mas não compreender se o objecto x pertence a A ou não.

Logo (NÃO FUGINDO À QUESTÃO CENTRAL): Porqué é que o estado é sempre mau com política económica e isso é uma "lei universal" igual à lei da gravidade?

Podes continuar a chamar-me burro, eu não me importo. Mas não uses isso para fugir a uma perguntinha simples, tá bem?

É que parece que essa questão, que eu acho não passar de um argumento adolescente autoritário, é a pedra central do argumento que aqui usaste.

Logo: prova inequivoca e ao nivel da lei da gravidade que o estado é sempre mau com financa? Sai ou não sai?

Filipe Melo Sousa disse...

É por demais óbvio porque o estado trata mal do dinheiro dos outros. São 17h, e um estúpido qq paga a conta, vou-me embora.

Tiago disse...

Eu sabia onde esta conversa ia chegar. Conheço, há muitos anos, vários Ayn Randers, e são todos uma cópia uns dos outros (chamo-lhe individualismo de rebanho).

Há sempre esta coisa do "racional", e tal. Mas quando se argumenta racionalmente são dos mais fáceis de expor. Acaba sempre da mesma maneira:

"O céu é cor de rosa. Só um ignorante é que não vê"

Eu sei que não vale a pena dizer-lhe que esta forma de argumentar é completamente autoritária ("é assim porque eu digo").

O padrão é sempre mais ou menos o mesmo: "Eu sei tudo, eu sei tudo, os outros são burros". Mas o que é engraçado é que os Ayn Randers, sendo convencidos que são melhores que os outros são dos poucos que são trivialmente expostos de uma forma intelectual e racional.

Dead boring and intellectually average (to put it in a polite way).

Filipe Melo Sousa disse...

Para além do óbvio deixei uma pista, mas nem isso quiseste agarrar. É melhor desistir.

Tiago disse...

Tás à vontade de desistir, eu estou a gostar.

Leis universais não se provam com pistas altamente subjectivas (a caso de exemplo, na minha vida, vi pessoas a trabalhar o menos possivel foi no privado holandês). Esse é o problema.

Estás à vontade para argumentar com as tuas leis universais que quase ninguém reconhece. A verdade é que é rísivel manter uma argumentação nessa base.

Em última análise o argumento é autoritário: "X porque eu digo X".

A terra é plana, eu já andei muito, mas nunca lhe conseguir dar a volta. Está provado.

Filipe Melo Sousa disse...

Um liberal será a última das pessoas a usar argumentos de autoridade. Não confundas autoridade com incapacidade de encaixe do interlocutor. Se não percebes a lei universal, não sou eu quem ta vai explicar.