domingo, 24 de fevereiro de 2008

O início da bola de neve?

No início, a estratégia do Governo na área da Educação consistiu em tentar colocar o país todo contra a classe docente. Era apresentada como uma classe pouco empenhada, preguiçosa, faltosa, desqualificada, que progredia sem ter de dar provas de mérito. Havia que limitar a progressão na carreira e sujeitá-la a momentos de avaliação, obrigar os docentes a estar mais tempo nas escolas, responsabilizá-los pelo sucesso ou insucesso educativo. O discurso soava quase razoável para quem desconhecia a realidade das escolas - e quase pegou.

Mas a pouco e pouco foi-se percebendo que a estratégia de difamar o conjunto da classe - menorizando os efeitos devastadores que tal estratégia produziria na motivação dos muitos milhares de professores que o são por vocação e paixão, e que sustentam a escola pública em Portugal - ao mesmo tempo que se exigiam mais horas efectivas de trabalho, que se congelavam salários e progressão nas carreiras, que se aumentava a dimensão das turmas, que aumentava a proporção de docentes contratados (o grupo mais mal-tratado e injustiçado da classe), que se esperava de cada professor que fosse cada vez mais não apenas docente mas também psicólogo, assistente social, monitor de actividades de tempos livres e gestor de organizações, era uma estratégia arriscada.

Em contextos como estes, os erros burocráticos a que a 5 de Outubro nos habituou ao longo dos anos e de vários governos - trapalhadas nos concursos, nos exames nacionais, na avaliação dos professores - só poderiam aumentar o clima de insatisfação nas escolas.

As manifestações de professores que aconteceram ontem em várias cidades do país não devem espantar ninguém, a não ser por só terem lugar agora. Se o retrato que tracei acima é minimamente fiel do que se passa nas escolas, o que aconteceu ontem é o início de uma bola de neve cujo final provável é a demissão de Maria de Lurdes Rodrigues - apesar do inglês no 1º ciclo, das aulas de substituição ou dos outros tópicos que o 1º Ministro escolha para referir nas entrevistas.

Se acertar nesta previsão, não vou festejar. Vou lamentar terem-se perdido mais 3 anos no trabalho que é necessário fazer para pôr a funcionar o sistema mais crucial para o desenvolvimento deste país.

16 comentários:

José Manuel Dias disse...

É, s.m.o., uma leitura redutora. Os resultados conseguidos por Portugal no domínio da Educação têm sido péssimos. Mais professores, mais recursos financeiros, menos alunos e a mesma taxa de insucesso. Temos a pior taxa de conclusão da escolaridade obrigatória da Europa. As medidas que o Governo tomou conduziram ao reforço de prestígio dos professores, como um estudo recente comprovou. O absentismo reduziu-se em mais de 50% e a disponibilidade e dedicação dos bons professores aumentou. Falo, apenas, pelo universo com que contacto que são as escolas dos meus filhos. Os professores devem ou não ser avaliados? Pode ou não haver avaliação sem prévia fixação de objectivos? Devem ou não estabelecer-se critérios que permitam distinguir os bons professores dos menos bons? E se sim, quais? Este texto é, na minha modesta opinião,o repositório de um conjunto de lugares comuns que poderia ser decalcado de qualquer manifesto sindical de defesa de "direitos adquiridos". Todas as mudanças criam desconforto, é dos livros. Se perguntarem alguém se quer um pão de ló ou mais trabalho, a larga maioria não tem dúvidas em responder. A contestação feita por alguns resulta da noção que existe maior responsabilização, mais trabalho sem compensação imediata. O desconforto é tanto maior quanto maior é a impreparação e/ou desmotivação.É natural por isso a existência de franjas de descontentes. Passará com o tempo. A Escola precisa dos professores mas não visa satisfazer os professores mas a sociedade. Todos os stakeholders têm o direito (e o dever) de exigir melhor gestão dos recursos financeiros que são afectos à Educação. Esperamos que o Governo ( este ou outro)tenha sucesso. Precisamos de uma educação que inculque nos jovens a necessidade de maior exigência. O futuro é dos melhores. Para concluir: esperamos mais deste blogue.
Cumps

Anónimo disse...

sou professora há mais de trinta anos e estou completamente de acordo com o comentador João Manuel Dias Helena sem blog

Ricardo Paes Mamede disse...

Caro José Manuel Dias,

para não cairmos numa linha de argumentação baseada em insinuações e acusações gratuitas, deixo-lhe algumas questões concretas para tentar aprofundar o debate:

- está mesmo convencido que o congelamento de salários e da progressão na carreira são factores que contribuem para o aumento da motivação do profesores? pode explicar-me qual o mecanismo que tem em mente?

- acha que os professores não devem ser incluídos no leque de 'stakeholders' que a política educativa deve ter em consideração? se não acha, explique-me qual foi o esforço empreendido por esta equipa do ME para envolver a classe docente como 'stakeholder' a considerar na implementação das reformas?

- considera que as refomas que estão a ser implementadas premeiam ou dão melhores condições de trabalho aos docentes mais empenhados no bom funcionamento do sistema (nomeadamente aqueles que acompanham os alunos com carências financeiras e/ou emocionais, que procuram lidar com as situações mais extremas da adolescência - anorexias, bulimias, depressões, riscos de toxicodepedências, tendências suicidas, disfunções familiares - combatendo caso a caso o abandono e o insucesso, seja porque a escola não tem outros recursos para o fazer, seja porque são os adultos mais expostos a este tipo de situações, pela relação de proximidade e confiança que estabelecem com cada aluno e não se furtam a essas 'tarefas')? pode dar-me exemplos dessas medidas?

- acha que o aumento do peso dos professores contratados (pessoas que não progredidem na carreira, que estão sempre a prazo em cada escola que passam, que vêem as suas opções de vida constrangidas pela incerteza permanente) contribui para a motivação dos docentes e para o bom funcionamento do sistema?

- parece-lhe razoável que não sejam abertos lugares no quadro mesmo no caso de escolas que necessitam permanentemente de vários professores em várias áreas disciplinares? acha que isso é justo para os docentes em causa e útil para o bom funcionamento das escolas?

- acha que a dimensão das turmas é uma questão indiferente para a qualidade do ensino e para o atingir de outros objectivos fundamentais (como o combate ao abandono precoce ou o insucesso)?

- acha que para além das 22 horas de tempo lectivo e das 13 horas de tempo presencial (onde é suposto, segunda a lei e as orientações do ME, os professores prepararem aulas, terem reuniões de turma, reuniões de grupo, reuniões de departamento, reuniões com encarregados de educação, reuniões nos órgãos de gestão, resolverem problemas administrativos, darem aulas de apoio, darem aulas de substituição, preparar relatórios disciplinares, participar em juris de avaliação) e do restante tempo que os professores possam empregar na sua auto-formação, os docentes devem ser avaliados pela dedicação à escola fora do horário normal (como deixa em aberto o regime de avaliação proposto)?

- e, já agora, pode indicar-me o estudo que refere, o qual comprova que as «medidas que o Governo tomou conduziram ao reforço de prestígio dos professores»? e qual é a fonte que lhe permite afirmar que o «absentismo reduziu-se em mais de 50% e a disponibilidade e dedicação dos bons professores aumentou»?

- finalmente, devemos mesmo assumir que um professor tem obrigação de trabalhar mais do que os outros profissionais, abstendo-se de contestar, sob o risco de ser tratado como mais um caso de resistência à mudança, como «é dos livros»? porquê?

Espero muito mais do seu próximo comentário.

Pedro Sá disse...

Resta saber em que consistiria para o RPM o "trabalho que é necessário fazer para pôr a funcionar o sistema mais crucial para o desenvolvimento deste país".

Anónimo disse...

Mal será se um ministro é demitido por pressão dos interesses de uma classe corporativa como é a dos professores, por muitos sms que troquem e por muitas manifs que o braço armado do PC, a Fenprof, organize .

Não estamos no PREC pelo que, a contunidade ou não de um ministro não pode depender dos gritos da turba vindos da rua.

Uma coisa é certa : como diz, e muito bem, o José Manuel Dias, foi necessário que a ministra tomase medidas para que o absentismo dos professores se reduzisse em 50% !

Para a Esquerda, a Esquerda conservadora, reaccionária, a que que se auto-intitula de "progressista", estas coisas óbviamente que interessam, porque lhe interessa a desestabilização, a politica da terra queimada, o "quanto pior melhor". Mas o país já teve disso que chegue e a prova é o estado a que chegámos...

Anónimo disse...

"a contunidade ou não de um ministro não pode depender dos gritos da turba vindos da rua."
Veja o Correia de Campos. Ou recorde-se do Marecelo Caetano. A turba deu cabo das ideias a este,coitado, não é? Ponha os pés na terra em vez de chamar nomes. A turba somos nós?
Chamar nomes é fácil, resolver problemas é mais difícil.
Braço armado? Está a gozar ou quê?

Anónimo disse...

Ontem vi o "Prós e Contras". Fiquei mais próximo das posições do Ministério. `Sou pai e quero o melhor ensimo para os meus filhos.

Anónimo disse...

Mas há quem acredite que o ensino (as competências, os conhecimentos, a cultura científica e humanística dos alunos) melhorará com estas medidas? Com professores desmotivados, esgotados, entregues ao sistema, soterrados em trabalho burocrático e tarefas multidisciplinares - e com grelhas e grelhas e grelhas e mais: grelhas?
Alguém acredita que estas reformas trarão o espírito de mais ‘exigência’, para citar o primeiro e extraordinário destes comentários, para os alunos? Repito: para – os alunos?
Leram bem os decretos, os novos estatutos, quer dos professores quer dos alunos, sabem o que se passa, sabem dos que se fala, estiveram numa escola, numa sala de aula, visitaram todos os espaços, permaneceram lá algum tempo, nos últimos meses, nos últimos anos?
Alguém acredita honestamente que os resultados escolares em Portugal são piores dos que nos outros países europeus apenas – e sobretudo – por causa dos professores? Os professores portugueses são tão piores que os espanhóis, os franceses, os suecos, os noruegueses?...
Quer dizer: e a herança histórica, a mentalidade, os arquétipos sociais, a dimensão das turmas, as condições físicas da escola, a carga lectiva, toda a carga não lectiva, a cultura cívica, a remuneração, os programas, os modelos sociais valorizados, o investimento humano, as reformas escolares, as compensações, temporais, financeiras ou outras, a existência ou ausência de equipas pluridisciplinares nas escolas (assistentes sociais, psicólogos, terapeutas, tutores de formação), a organização social, os estímulos familiares e sociais à curiosidade intelectual das crianças?…
Nada disso importa, pouco disso pesa?
Mas onde é que ‘estamos’ e onde é que os outros ‘estão’?
Alguém duvida que muitos dos professores portugueses teriam melhores resultados e seriam pedagogicamente mais consequentes se trabalhassem numa escola espanhola, irlandesa ou sueca? E que muitos dos professores suecos, irlandeses ou espanhóis, por inversão de razões, não teriam resultados muito diferentes dos que nas escolas portuguesas se registam se por cá trabalhassem? Por que será? Saberá toda a gente que quando os professores portugueses circunstancialmente têm que dar aulas a alunos estrangeiros obtêm muito melhores e mais compensadores resultados com alunos oriundos de países europeus ou do leste do que quando encontram alunos brasileiros ou de países africanos – mesmo e apesar do obstáculo da língua? … Por que será – mesmo e apesar de se passar numa escola portuguesa?
É tudo o mesmo?
Se é, nessa linha de raciocínio, é muito provável que muitos professores portugueses gostassem de ser ‘finlandeses’ (leia-se: ter as condições de trabalho e a qualidade de vida dos finlandeses)? Exactamente como todos gostaríamos de ter jornalistas ‘ingleses’, governantes ‘espanhóis’, agentes culturais ‘franceses’, autarcas ‘holandeses’, fiscalistas ‘suecos’, arquitectos ‘italianos’, engenheiros ‘dinamarqueses’, construtores ‘alemães’ …
Ou não? Estarei enganado? Viveremos no melhor dos mundos, onde tudo funciona e é competentíssimo, apenas a classe dos professores, quando comparada com o ‘estrangeiro’ (esse mito provinciano a que se acrescem os números, os números…), resvala para um mediocridade visível?
Pensam o quê; que os professores são mágicos ou santos milagreiros?... Ou que só não são melhores, e não obtêm resultados melhores, muito melhores, porque não querem, não lhes apetece, não estão para isso?... E depois: que, sozinhos, conseguirão tudo – a formação, a qualificação, a educação, a responsabilização, a elevação deste agregado cultural a um país decente e civilizado – assim, mal pagos (sim, muito mal pagos, à excepção, e agora apenas para alguns, dos anos da pré-reforma), socialmente desprestigiadíssimos, em escolas muitas vezes deprimentes, onde germina subterrâneo um sopro de facilitismo patrocinado por instâncias superiores, maioritariamente impreparadas, geladas no Inverno e muitas vezes decrépitas?
Do que é que estão à espera para, também, apontarem a objectiva para outro lado e verem as coisas em perspectiva?... Como é que se chegou aqui – apenas porque os professores são maus, muito maus; e o país é óptimo, magnífico, sobreexcelente?

Anónimo disse...

O comentário anterior é excelente. Dá justamente razão às medidas do Governo. Se os outros são melhor do que nós - e são - tal não resulta de uma qualquer medida do governo mas do envolvimento de todos. Responsabilidade é o que falta a muita gente, designadamente a muitos responsáveis políticos e a muitos dirigentes sindicais. O diploma de avalaiação de desempenho visa incutir essa responsabilidade.
O anterior comentador esquece-se, porém, dum "pormaior". A escola não visa responder aos alunos, nem aos professores mas à sociedade. O aluno e a sua preparação é apenas um produto que visa satisfazer necessidades colectivas. Claro que podemos falar em benefícios individuais mas o que sobreleva e justifica o investimento são as externalidades positivas. É este o erro de alguns sindicalistas. A Escola não é deles é de todos. Sou accionista do estado, pago impostos, tenho o direito e o dever de exigir o melhor desempenho. Acho, por isso, muito bem, que se caminhe no sentido da avaliação das escolas e dos professores. Só os medíocres é que não gostam de ser avaliados. também, no sector privado, existem situações dessas mas o empressário resolve-as bem.

Anónimo disse...

Também é verdade que os professores vivem afogados em burocracia inútil. A avaliação é burocrática, dá pouco valor à sabedoria (dos professores). O conhecimento científico dos professores quase não interessa. Não se lhes dá autonomia: são considerados atrasados mentais e interiorizaram isso. Pouco decidem sem directivas e orientações do Ministério, desde os métodos pedagógicos à escolha dos manuais...Têm pouca autoridade na escola, têm de dar contas (excessivamente) aos pais dos meninos, não podem decidir as notas a dar, etc.
A chamada avaliação não dá valor à Ciência dos professores. Por acaso acho que se desse teria a oposição deles e dos Sindicatos. É uma faco que não querem ser avaliados e querem garantias de que todos chegarão a titulares. O argumento de que com Titulares haverá professores de primeira e de segunda não pega. Já há distinções na Universidade (Catedráticos, associados e auxiliares) e ninguém se sente de segunda.
Fianalmente a influência do que se chama eduquês dá cabo da escola. Sobre isto a Ministra nada diz. Apesar de ter ganho o debate no prós e contras.

Anónimo disse...

A avaliação que está a ser feita consiste em bombardear os professores com montanhas de papéis que devem preencher e pedidos de relatórios cuja principal função é serem arquivados em dossiers de capas bonitas. Felizmente, diga-se, pois obrigar alguém a lê-los seria demais além de caro.
A vida de um professor é fazer relatórios e actas, reuniões inúteis e etc. Se um professor de Matemática sabe Matemática ou se um professor de português leu os livros que se vão publicando interessa pouco. É que o que os alunos dizem está, por definição, certo...

Anónimo disse...

O comentador anterior fez toda a sua vida no sector público, não foi? O que diz revela um profundo desconhcimento da realidade. Hoje, todos prestam contas do que fazem e claro têm que ser polivalentes. Vivemos numa época em que temos ter flexibilidade e adaptar-mo-nos. Caso contrário acontece-nos o que aconteceu aos dinossauros.
Uma opinião de quem trabalhou no sector público 5 anos e no privado 25...e agora trabalha por conta prória e, para recreio, "vende aulas".

Anónimo disse...

Escrevi o ante ante antepenúltimo, e longo, comentário (já está lá para trás mas só agora pude responder) - e queria, porque teve resposta no comentário seguinte, esclarecer esse comentador (deduzo, espero bem, que os dois seguintes sejam da mesma pessoa – se assim for, fico contente que tenha sido capaz de reflectir noutras questões, as do segundo comentário, que vão muito mais de encontro ao meu texto).
Em primeiro lugar: dizer-lhe que se engana e tresleu diametralmente o que eu quis dizer.
Em segundo: os professores também pagam impostos e pertencem à comunidade. Julga que são parte desinteressada? Não são. Só se fossem todos imbecis e idiotas é que não gostariam também de ter nas suas escolas, no seu país e com os seus alunos melhores resultados. Por isso nunca entenderei a insistência das pessoas na “exigência de melhor desempenho” dos professores quando nunca os vejo reclamar melhores condições de trabalho para os mesmos. Se os preocupa os alunos, então por que raio também não os preocupará as circunstâncias a que os mesmos alunos estão sujeitos – além da exposição aos professores - nas escolas. Porque nunca oiço nenhum desses contestatários aos professores reclamar por salas de aulas com aquecimento, por espaços limpos e decentes, salas de estudo apropriadas, por programas, avaliações e procedimentos mais exigentes, por turmas mais pequenas, por melhores condições de apoio pedagógico, por melhores remunerações aos profissionais - como esperam afinal conseguir para as escolas, seja professores, spicólogos ou funcionários auxiliares, pessoas capazes, qualificadas, sérias, competentes e empenhadas se não lhes derem boas condições e não lhe pagarem decentemente? Estão à espera de quê? De loucos, missionários, masoquistas, o quê?
Finalmente, em terceiro: pedir-lhe o favor de não dizer que os meus argumentos “dão razão às medidas do governo” – senão será o mesmo que dizer que o abate das embarcações visa o fortalecimento das actividades pesqueiras ou que se tira a roupa a uma pessoa para ela ficar mais quentinha. Ou qualquer contra-senso do género. Obrigado

Anónimo disse...

A título de resposta ao comentador anterior, gostaria de invocar um diatdao popular: "Quando faz vento...uns levantam muros outros constroem moinhos".
Conhecer o ambiente externo é essencial. Agradeço, no entanto, o faxto de ter argumentado de forma diversa da minha. Testei a validade da minha posição. Dou razão à Ministra quanto aos objectivos, já em relação às estratégias está visto que podem ser melhoradas.
Cumps

Anónimo disse...

Já agora perrmita que lhe diga que " a falta de condições nas escolas" é um problema recorente, bem como a falta de motivação dos professores...Já ouvi isso, em 1980quendo fui professor durante 3 anos. Um discurso estafado. Tempos doces...

Anónimo disse...

Muito bem.
Agradeço, também, a resposta e a cordialidade.
(diga-me apenas, no entanto, se é também o autor daquele segundo comentário - para ficar, se for, um pouco mais descansado e pensar que afinal até concordamos em algumas matérias destes domínios…)
Como ambos já percebemos que dificilmente sairemos do ponto de partida, deixo-lhe aqui apenas mais duas perplexidades:
a) Sem quer, evidentemente, meter-me na sua vida (a questão aqui é meramente retórica), pergunto-me o que o terá levado a largar o ensino – uma vez que era um tempo “tão doce”… Afinal, se é – ou era – uma profissão assim tão apetecível, tão compensadora, tão bem-tratada, tão bem paga, por que será que não atrai mais gente competente, capaz e valorosa? Que é feito dos nossos profissionais mais habilitados, qualificados, empenhados e sérios que tão depressa e desde sempre fugiriam do ensino secundário? A falta de vocação não explicará tudo – nem mais de metade dos professores, aqui ou em qualquer parte do mundo, o é por vocação, nem mais de metade das pessoas, aqui ou em qualquer parte do mundo, tem a profissão que tem por gosto ou vocação – a maioria das pessoas faz o que faz não por gosto mas fundamentalmente por tudo aquilo que o que faz lhes traz em qualidade de vida…. Assim sendo, como explica que, sendo a profissão tão recompensada e compensadora, isto aconteça? …
b) Se considera depois em absoluto o preconceito, sempre implícito nos defensores destas medidas ministeriais, segundo o qual trabalhar mais implica necessariamente trabalhar melhor; será capaz de aceitar que este amontoado de tarefas, encargos, grelhas, burocracias, sobreactividades lectivas e não-lectivas retirará muita disponibilidade àqueles professores que ainda a teriam? E compreender que os professores medíocres e incompetentes (e há muitos, garanto-lhe) poderão trabalhar mais, claro, à força, mas isso não os levará, seguramente, a trabalhar melhor; enquanto que os bons professores (e há alguns, asseguro-lhe, mesmo se nunca encontrou nenhum na sua vida escolar) de tanto lhes exigirem, em tarefas cíclicas, esgotantes, burocráticas, sisíficas. de tão cansados, esgotados e desmotivados, trabalharão pior – muito pior.
É isso que quer? Então se for, retiro o meu caso.
cumps