quinta-feira, 31 de março de 2022

Incentivos estrangeiros


Era perceptível que forçar a entrada da Ucrânia e da Geórgia [na NATO] poderia desencadear uma crise geopolítica com esta gravidade. A responsabilidade política em tudo o que tem a ver com a violência, com o uso da força é sempre incontornável, mas a responsabilidade das lideranças políticas das grandes potências no desencadeamento de uma crise geopolítica é muitíssimo maior. Se há crise que é preciso evitar é uma crise entre grandes potências. (...) [A China] não me tem surpreendido pela forma muito cautelosa com que tem abordado o tema.
  

Há várias passagens da entrevista de Luís Amado ao Público surpreendentemente razoáveis, tendo em conta que, na linha de Jaime Gama, seu mentor, já foi um peixe de águas profundas do Atlântico Norte, do Consenso de Washington, o do fim da História. Mais recentemente, parece que mudou para as águas do Pacífico, para o emergente Consenso de Pequim, o do reinício da História num quadro multipolar mais sadio. 

Afinal de contas, Amado está na EDP, sendo presidente do Conselho Geral e de Supervisão de uma empresa estratégica nacional, hoje controlada pelo Estado chinês e que nunca devia ter sido privatizada, claro. Os chineses não o fizeram, porque sabem que sem empresas estratégicas nas mãos do Estado não há estratégia de desenvolvimento: da banca à energia, passando pela ferrovia. 

Com esta burguesia compradora, fórmula de Mao, é simples: os incentivos estrangeiros explicam tudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Era perceptível que forçar a entrada da Ucrânia e da Geórgia [na NATO]...". O diplomata acredita mesmo no que diz?.
Quem "forçou" a entrada da Ucrânia na NATO foi o desejo de um eleitorado, em formato de referendo constitucional. Sabia da necessidade de se proteger de um agressivo governo vizinho, o da Federação Russa. E bem informados estavam.
Segundo este diplomata um eleitorado não pode fazer escolhas quanto à sua forma de oraganização social.

Anónimo disse...

Elogio a Amado, por escrever direito por linhas tortas ou de como somos todos banqueiros (até de argumentos). O capitalismo é, mesmo, irresistível!

Francisco disse...

Lamentavelmente, não consigo alimentar qualquer expectativa de regeneração qualitativa do Luís Amado. Tem aquele discurso calculado e calculista, todo feito de uma certa gravidade conventual, mas em que a conveniência do momento suplanta a consistência e a substância, dizendo por conseguinte o que for (entenda-se: o que lhe for) mais conveniente, de acordo com a relação espaço-tempo em que tenha que intervir, a que somará esse elemento imaterial, que na na sua infinita sabedoria a linguagem popular tão bem sintetizou: dirá o que tiver que ser dito, conforme a cara do freguês.

Jose disse...

«Era perceptível que forçar a entrada da Ucrânia e da Geórgia [na NATO]»

A força foi tanto que nunca entraram... e bem tentaram por boas razões como bem se vê.