Uma ironia política pouco sublinhada deste momento histórico é a aliança dos apoiantes do PCP com destacados militares afetos ao Grupo dos Nove e/ou hoje conotados como próximos do Partido Socialista.
É notável o número de partilhas que apoiantes do PCP fazem das posições de militares como Carlos Matos Gomes e Rodrigo Sousa e Castro.
Estão juntos na necessidade de contextualização histórica da guerra e na necessidade do diálogo para a sua superação. É que neste conflito são os militares, de quase todas as afinidades políticas, a sublinhar que defender uma guerra aberta com uma potência nuclear só pode resultar de impulsividade emocional por oposição à frieza estratégica.
Uns como outros têm sido vítimas das mais rasteiras infâmias. Dizer "condenamos mas é preciso ver que (...)" ainda não significa o mesmo que dizer "apoiamos (...)". A política baseada em processos de intenção é desinformação. Mesmo que discordemos profundamente, como eu discordo, da forma como o PCP coloca a expansão da NATO como o elo primeiro de uma cadeia causal que desemboca na invasão russa. Nunca a justificando ou apoiando, é preciso sublinhar.
São ironias da história que eu não esperava viver para contar. Mas que ilustram bem que a rejeição de uma investida bélica para resolver o problema está longe de ser o resultado imediato de uma visão geopolítica desculpabilizadora de Putin - como alguns têm o atrevimento de insinuar - mas antes de uma análise fria do problema que, em última análise, nos poupará sempre muitas vidas civis e sofrimento humano.
6 comentários:
A contextualização histórica em curso dá seguimento aos valores da guerra fria - o mundo dirigido e decidido pelos blocos dominantes.
E sempre se vai até aí em busca da razoabilidade para a dominação de povos, apesar dos Vietname, Afeganistão e Ucrânia.
E acabarão por conseguir que o bloco menos dominador, a UE, venha a ter que seguir um tal modelo armando-se para a guerra e tendo que estabelecer domínios para sustentar o esforço.
O expansionismo imperialista atlantista é uma das causas, o expansionismo oligárquico russo é outra das causas. Daí a ênfase em se sublinhar «que a Rússia é um país capitalista, cujo posicionamento é determinado, no essencial, pelos interesses das suas elites e detentores dos seus grupos económicos, com uma conceção de classe oposta à do PCP» (do comunicado desse partido de 24/1/2022). O conflito interno, especialmente no Donbass, é outra causa que não pode ser negligenciada.
Atenção, Diogo, não confundir, na sua crítica a meu ver parcialmente incorreta, uma descrição factual cronológica com uma descrição causal.
As causas estão ligadas, mas não encadeadas numa sucessão linear de «elos», como parece sugerir a sua interpretação. Cruzam-se, emaranham-se, nomeadamente no presente.
As gravíssimas responsabilidades de instigação dos EUA, da Nato e da UE, não podem ser ocultadas. Muito menos as da Rússia, bem visíveis na, mais que condenável, agressão.
Acho que o PCP tem bem consciência disso.
Carlos Matos Gomes próximo do grupo dos nove?
O amigo está um bocado baralhado.
Do que o PCP tem consciência é de que o maior partido da oposição russo é o Partido Comunista da Federação Russa. Se a isso juntarmos o facto de o Rússia Unida de Vladimir Vladimirovich Putin ser um partido conservador e cristão ortodoxo, entenderemos facilmente os muitíssimos silêncios e as não poucas tergiversações do partido de Gerónimo de Sousa.
São os blocos que se opõem na Ucrânia dois blocos oligárquicos capitalistas? São, no fundo, aquilo que o povo chama "farinha do mesmo saco"? A sério?
Se assim é, por que razão têm Cuba, a Venezuela, a Bolívia e a Colômbia como seu quase único apoio económico, político e diplomático a Federação Russa? E se a operação de desmilitarização e de desnazificação lançada pela Rússia na Ucránia é uma guerra hedionda, onde ficou a voz do PCP (dos outros partidos da cena política portuguesa nem falo...) quando, durante oito anos, 14.000 crianças, mulheres e homens, novos e velhos foram massacrados pelo exército ucraniano no Donbass. E onde esteve essa voz de condenação quando um "putsch" sangrento levado a cabo pelos admiradores de Stepan Bandera financiados pelos EUA e pela UE colocou em Kiev uma Junta fantoche de cleptocratas e neonazis?
Há um facto de que o PCP tem de se convencer: a URSS morreu e não voltará a renascer. O que já está a nascer, isso sim, é um caos totalitário neofascista e neonazi a Ocidente.
Caso me chamem de alarmista, façam o favor de se perguntarem onde procurarão exílio os não poucos neonazis que escaparem à rede de arrasto das Forças Armadas Russas...
Em vez de tentar equilibrar-se no cimo do muro da virtude e de fazer respiração boca-a-boca a um monte de ossos, melhor andaria o PCP se compreendesse que uma nova ordem mundial acaba de dar os seus primeiros passos: uma arquitectura global multipolar onde os Estados são soberanos e são os seus povos que decidem o governos que querem sem terem de obedecer aos caprichos predatórios das máfias económicas e políticas daqueles 14% da população mundial que vivem naquilo a que se soe chamar "Ocidente". E quem fez nascer essa nova ordem mundial foi a República Popular da China, a Federação Russa e a República Islâmica do Irão.
talvez Mozgovoy antes de escrever coisas como
" onde ficou a voz do PCP (dos outros partidos da cena política portuguesa nem falo...) quando, durante oito anos, 14.000 crianças, mulheres e homens, novos e velhos foram massacrados pelo exército ucraniano no Donbass. E onde esteve essa voz de condenação quando um "putsch" sangrento levado a cabo pelos admiradores de Stepan Bandera financiados pelos EUA e pela UE colocou em Kiev uma Junta fantoche de cleptocratas e neonazis?" pudesse ler o histórico da voz do PCP acerca do assunto em
https://www.pcp.pt/ucrania
Anónimo das 18:05, de 06 de Março:
Baixinho, muito baixinho, não vá a coisa ser entendida como benefício da dúvida ao anti-cristo do Kremlin que é a némesis do Partido Comunista da Federação Russa. Quanto a esse peditório de "o Partido nunca tem dúvidas e raramente se engana", haja quem para ele contribua, pois para ele do meu bolso não sai nem um cêntimo furado.
Saudações cordiais (e à esquerda da esquerda que assobia tacticamente para o lado e se mantém salomonicamente em cima do muro).
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