quinta-feira, 18 de março de 2021

Paris, espaço


No dia em que se assinalam 150 anos do início dessa brava tentativa de “assalto do céu”, como lhe chamou Marx, afogada em sangue menos de três meses depois, quero lembrar também a reverberação internacional de um dia inteiro, feriado na Rússia soviética logo a seguir a Outubro. 

Como lembra o historiador Andy Willimott na Jacobin, Lenine dançou na neve no dia em que o poder soviético ultrapassou os 72 dias da Comuna de Paris, aprendendo tudo sobre uma experiência derrotada, “um passado prenhe de presente”; um fragmento de uma bandeira da comuna, oferecida pelos franceses, seria enviada ao espaço, em 1964, e tudo. 

Perde-se e tenta-se de novo, noutras circunstâncias histórico-geográficas, tantas vezes com novos meios e novas bandeiras, com novos fins, claro. Aprende-se sempre, muda-se muito, mas nunca se desiste, até porque, como nos ensinaram, nem os mortos estão a salvo se os inimigos não cessarem de vencer.

2 comentários:

Jaime Santos disse...

Muda-se muito... Deve ter sido por isso que Lenine se encarregou de esmagar toda a oposição possível aos bolcheviques, incluindo a democrática.

O estalinismo (e o trotskismo, que se distingue sobretudo porque perdeu a parada) é simplesmente um filho dileto do leninismo, João Rodrigues.

E se por inimigos se refere à democracia liberal, essa democracia limitada pela Lei, porque a ilimitada não passa da tirania de uma vanguarda cinzenta e sangrenta, venham as suas vitórias...

Anónimo disse...

Jaime Santos, o rei das platitudes, oferece-nos mais uma análise iluminada de eventos que desconhece. Associa Lénine ao "leninismo", o que desde logo indica ou charlatanice estalino-trotskista ou ignorância liberal. Não existe tal coisa: a característica mais importante do pensamento de Lénine foi o seu retorno a Marx e a rejeição do dogma da II Internacional (o seu maior defeito foi não ter rompido totalmente com o mesmo dogma social-democrata), nessa altura degenerada e viveiro de nacionalistas. A oposição "democrática", curiosamente agrupada no exército Branco durante a guerra civil e apoiada por todas as potências europeias interessadas no esmagamento da revolução, perdeu a liderança dos principais centros operários para os bolcheviques pelo seu apego a um governo provisório reaccionário, que punha sucessivos entraves ao programa da classe operária e à paz desejada pelo exército. Os bolcheviques, por outro lado, propuseram-se cumprir o programa operário e a paz, o que fizeram até determinado ponto. A perda de poder da classe trabalhadora deveu-se à sua própria posição minoritária num país ainda subdesenvolvido, maioritariamente camponês, e à derrota da revolução na Europa, absolutamente crucial. Pouco teve a ver com Lénine pessoalmente e ainda menos com a sagrada democracia.

Mas enfim, tudo isto é muito complicado. Para quê cultivar a honestidade intelectual quando basta uma boa dose de arrogância e uma completa falta de espinha dorsal para comentar todo e qualquer assunto político à base de slogans, à maneira de um adolescente que acaba de ler o 1984?