Ao contrário do que se quis fazer crer (ver por exemplo aqui, aqui, aqui ou, mais recentemente, aqui), o encerramento das escolas, a 22 de janeiro, não foi o fator decisivo para a melhoria da situação pandémica em Portugal. De facto, a redução do Rt (Índice de Transmissibilidade) inicia-se a 18 de janeiro, antes portanto do fecho das escolas e pouco depois da adoção das primeiras medidas de confinamento, no dia 15 (como já demonstrado aqui).
Dados recentes publicados pelo INE, sobre níveis de mobilidade, vêm reforçar esta ideia, sendo de realçar, isso sim, o impacto das primeiras medidas de confinamento, adotadas a 15 de janeiro. De facto, entre os dias 15 e 22 a percentagem de pessoas que «ficou em casa» passa, em sete dias, de 21,6% para 28,2%, sugerindo que é esse impulso que se prolonga para lá de 22, até 31 de janeiro, data em que se atinge o máximo de pessoas em casa (33%). Ou seja, não só o encerramento de escolas não foi decisivo para a diminuição do número de contágios, como nem sequer parece ter vindo a reforçar essa tendência através de um esperado contributo, indireto, para a redução da mobilidade.
Na altura, Marcelo Rebelo de Sousa justificou o fecho das escolas com a necessidade de dar um «sinal político» capaz de reforçar, junto da população, a consciência da gravidade da situação pandémica e a premência de reduzir ao máximo a mobilidade e os contactos sociais. Isto é, reconhecendo que o problema não era o de as escolas serem focos de contágio relevantes (que não são), mas sim a necessidade instrumental (e por isso sacrificial, como bem refere Susana Peralta), de reter as crianças em casa para reforçar o confinamento dos pais. Reforço esse que, de acordo com os dados da mobilidade, não aconteceu.
Ora, sabendo que o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino se tornou na altura inevitável, mas reconhecendo hoje que o seu efeito poderá ter sido irrelevante para a melhoria da situação, importa com redobrado sentido não desvalorizar os impactos brutais do prolongar dessa medida (nas aprendizagens, no agravar das desigualdades e na saúde das crianças, sobretudo das mais desfavorecidas), e começar portanto a reabrir as escolas, o mais rapidamente possível.
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21 comentários:
Conversa de treta!!!!!
Como a percentagem de pessoas em casa subiu apenas mais um bocado é óbvio que o encerramento das escolas não contribuiu para as pessoas ficarem em casa? Oh Serra, se viessem com esta lógica numa cadeira de licenciatura nem deixavas o gajo ir a recurso.
A contribuição do fecho de escolas a diminuir o R está bem estudado. Como outras coisas, por si só não resolve, mas é mais uma medida necessária para chegar ao efeito pretendido. É de notar que quanto mais baixo for o R mais depressa podemos voltar à normalidade. E um R de 0,9 é um universo de diferença de um R de 1,1.
Aqui está o que as várias componentes de um confinamento contribuem:
https://science.sciencemag.org/content/371/6531/eabd9338?fbclid=IwAR1HFRoRM5K40Z8Ltv8xZBSUINkKIEeyveLjlf8hdLDMPtzxPxMlhfwRJJI
Veja lá bem se não tem importancia.
Foram as eleições e a movimentação de milhões de pessoas ao longo do mês sem qualquer controlo. É incrível como vêm pequenos nadas e ninguém fala desse monstruoso movimento que atirou com milhões de pessoas para o desconfinamento homogéneo espalhado por todo o país em mais de 3.000 freguesias. Se tal excedente tivesse acontecido durante o período da Festa do Avante e toda a gente apontaria o fenómeno aos comunistas.
As escolas já deviam estar todas abertas.
A abertura podia ter sido feita de modo faseado, começando pelas creches e primeiros ciclos, mas, neste mês de março, já deviam estar todas abertas.
A inconsistência deste governo é impressionante. Aqui há uns meses, as escolas não poderiam fechar de maneira nenhuma, agora até parece que não podem abrir de maneira nenhuma.
Um ano depois, o governo ainda não tem definidos oficialmente critérios para desconfinar. Algo que, como primeira proposta, se faz, com papel e lápis, em meia-hora. Nem é preciso inventar muito, basta, como fez o Carmo Gomes, averiguar o que recomendam a literatura científica e as propostas internacionais. Depois admite-se algum estudo e discussão para adaptação à situação nacional. Mas meses e meses nisto?
Se os critérios saem para constatar que já se poderia desconfinar, obrigadinho mas já sabíamos. Se saem para justificar a impreparação da reabertura das escolas, é deplorável a perda de um trimestre inteiro, pelo segundo ano consecutivo, em especial para as crianças de meios desfavorecidos, pois compromete a aquisição de ferramentas intelectuais básicas imprescindíveis para o resto da vida.
O governo deixou descontrolar gravemente a situação em janeiro, adiando nesse mês o inevitável confinamento (com ou sem fecho de escolas), gerando muitos óbitos evitáveis, comprovadamente por covid-19 e eventualmente outras doenças não tratadas. Possivelmente o maior excesso de mortalidade mensal desde a pneumónica há mais de um século. Transformando Portugal num dos países com mais mortos por covid em relação ao número de habitantes, bastante pior que o Brasil de Bolsonaro, pior que os EUA de Trump agora Biden.
Demorou a confinar, agora demora a desconfinar. Tira fotografias estáticas à situação, número de contágios, mortos, ativos, internamentos gerais e críticos, coeficiente de reprodução (R), e desatende à dinâmica da epidemia, que, para além das legítimas incertezas, visivelmente não compreende de todo.
Com os critérios que parece querer propor, as escolas praticamente nem teriam aberto em setembro. Com uma diferença, na altura os números da situação epidémica estavam a aumentar, agora, cerca de 900 contágios registados por dia, estão a diminuir. Não há motivo para manter as escolas fechadas. Como disse alguém com ironia, devem estar de luto. Pelos mortos que o Governo não evitou em janeiro e fevereiro.
A desculpa agora são as variantes (británica, sul-africana, brasileira, californiana, seja o que for, que nunca faltarão, só o Costa é que acha que pode «eliminar» o vírus), mais contagiosas e, por isso, mesmo com letalidade semelhante, mais perigosas. Mas a progressiva imunidade da população, natural - os infetados são no mínimo o dobro do total acumulado oficial - ou artificial - com a vacinação dos idosos, nos grupos etários mais vulneráveis -, bem como a saída da fase crítica do inverno, diminuem de tal forma o coeficiente efetivo de reprodução que até variantes mais agressivas não invertem a tendência ou pelo menos a manutenção de números baixos. É de bom senso que o desconfinamento se faça gradualmente e monitorizado de perto, mas já devia estar lançado, a começar pelas escolas.
A outra desculpa são as ocupações em UCIs, já reduzidas a menos de metade do máximo alcançado, que refletem os contágios de há semanas atrás e que, por isso, haja ou não desconfinamento, continuarão necessariamente a diminuir ao longo de grande parte do mês.
A incompreensão e desprezo pela dinâmica da epidemia levou o governo a atrasar o confinamento e a causar milhares de infeções e de mortes evitáveis. A mesma incompreensão e o mesmo desprezo levam agora o governo a prejudicar a educação de uma geração de crianças e jovens, a situação social de centenas de milhares de trabalhadores e respetivas famílias e a viabilidade económica de dezenas de milhares de micro, pequenas e médias empresas.
Lamento constatar, mas a impreparação, o improviso e a incompetência do governo são criminosas.
Caro Nuno Serra,
Os dados que apresenta apenas demonstram, indirectamente, que ha factores para alem do encerramento das escolas que tambem tem efeito na reducao do valor R. Isto nem e novo, nem e disputado por ninguem, pelo menos aqui nestas caixas de comentarios.
Nao quantifica efeitos e concerteza nao demonstra de forma alguma que:
"o seu efeito [encerramento das escolas] poderá ter sido irrelevante para a melhoria da situação,"
Esta passagem do seu texto e pura desonestidade intelectual e fica-lhe imensamente mal.
Subscrevo inteiramente o comentario do Joao a 3 de março de 2021 às 00:42
O Nuno Serra não pode ignorar este estudo se quiser continuar a dar palpites sobre o tema do encerramento das escolas. Palpites.
Só há uma solução que verdadeiramente funciona na ausência de uma vacina e é o confinamento. A Nova Zelândia ordenou um confinamento de vários dias em Auckland por causa de um caso apenas, e é o País que melhor tem controlado a pandemia.
Aquilo que se pretende com o prolongamento do atual é não só baixar o Rt para se ter margem suficiente para este necessariamente aumentar quando o desconfinamento ocorrer, como partir de um patamar inferior de casos ativos, o que atrasa uma nova onda se esta tiver lugar (porque o Rt ultrapassa 1 a dado momento).
Numa situação de crescimento exponencial, como também é referido no artigo, os recursos, nomeadamente os de rastreamento de contactos (e os de testagem), são rapidamente ultrapassados pela realidade e não há volta a dar a isso.
Como o Nuno Serra não dá qualquer estimativa da irrelevância do fecho das escolas, tirando uma leitura de gráficos que não significa nada, creio que é preferível confiar apesar de tudo nos especialistas, por muitos erros que estes cometam.
É sempre preferível errar pelo lado da prudência. E se os efeitos do fecho das escolas são terríveis, pior será um terceiro confinamento que obrigue a fechá-las mais dois ou três meses, o que arruinaria todo o ano letivo.
O que quer dizer que temos todos que ter paciência e aguentar mais algumas semanas até podermos abrir em segurança...
Escrever "Lamento constatar, mas a impreparação, o improviso e a incompetência do governo são criminosas" é pura desonestidade intelectual, como se houvesse forma de preparar quem quer que fosse para decidir numa situação excepcional como esta e que praticamente nenhum dos vivos alguma vez passou por algo parecido. Mesmo que o argumento seja a Gripe Espanhola, há que pensar que seria o mesmo que saber o que fazer numa guerra atómica por ter havido a 2ª guerra mundial, quanto a mim, puro disparate.
Quanto ao fecha\abre escolas, o que vejo não é a preocupação com os estudante, é a preocupação com a imagem dos progenitores, esses sim, a ficarem mal na foto, já que revela que nunca foram pais, limitaram-se a ter filhos e a serem taxistas dos mesmos. Romper as vestes por causa dos meninos desfavorecidos é como tentar vender pirite por ouro, só enganam os tolos. A escola não é instituição assistencial, a escola é uma instituição para instruir (educação dá-se em casa), confundir os conceitos é prolongar a agonia em que vivemos.
E repito-me uma vez mais. As vezes que for preciso:
Quem diz que quer equilibrar saude publica com economia/sociedade/educacao e nao acautela a manutencao do R sustentadamente abaixo de 1 nao esta a equilibrar absolutamente nada.
Um R sustentadamente acima de 1 significa eventual confinamento. Tando mais longo e severo quanto mais tempo se deixa correr a situacao.
Caro João (comentário das 00h42, do dia três de março),
Eu limito-me a constatar, neste post e no anterior (também sobre a questão das escolas), duas coisas muito simples, que os dados disponíveis evidenciam:
- Os níveis de permanência em casa (INE) não aumentaram, em ritmo, com o encerramento das escolas (como se esperava e é intuitivamente expectável que acontecesse);
- Que a descida dos contágios se inicia antes do encerramento das escolas (até o próprio Manuel Carmo Gomes o admitiu).
Em suma, e no mínimo, isto significa que não poderá de facto dizer, sem a devida demonstração disso mesmo, que as escolas foram o «fator decisivo» (e é exatamente nestes termos que alguns especialistas se pronunciam) para a melhoria da situação pandémica.
Os dados, entre nós, não parecem de facto suportar essa tese (e já nem me refiro ao consenso de que as escolas são um dos contextos comparativamente mais seguros, em termos de difusão do vírus).
Cumprimentos
- Os níveis de permanência em casa (INE) não aumentaram, em ritmo, com o encerramento das escolas (como se esperava e é intuitivamente expectável que acontecesse);
De acordo!
- Que a descida dos contágios se inicia antes do encerramento das escolas (até o próprio Manuel Carmo Gomes o admitiu).
Embora, o mesmo Manuel Carmo Gomes concorresse para a decisão do encerramento de escolas. Recordo que as escolas foram encerradas com o parecer favorável deste epidemiologista, senão mesmo com o seu juízo absoluto (apareceu em todas as aberturas dos telejornais e no jornal «i»).
Se Manuel Carmo Gomes admitiu que a descida dos contágios se iniciou antes do encerramento das escolas, então, é porque este epidemiologista é um irresponsável e o seu contributo na decisão do encerramento das escolas, foi mais uma ajuda à destabilização do governo, como também tentativa de derrubar a ministra da saúde.
JN
Por último, o pensamento de Nuno Serra sobre o tema irrita muitos «treteiros», como AJCHenriques, cujo o contributo para o debate é nulo.
Ao que parece, o estado de pânico bloqueou o próprio pensamento de muitos que simplesmente deixaram a comunicação social intervir por eles.
O Nuno Serra faz bem em debater e em duvidar deste problema.
JN
Querer tirar conclusões a partir dos detalhes finos de séries temporais que estão sujeitas a ruído e flutuações - e sem sequer incluir barras de erro - é um exercício bastante fraco e que tresanda a demagogia.
«Querer tirar conclusões a partir dos detalhes finos de séries temporais que estão sujeitas a ruído e flutuações - e sem sequer incluir barras de erro - é um exercício bastante fraco e que tresanda a demagogia.»
Miguel, o medo ou o pânico diante da epidemia não ajuda e nunca ajudará a uma explicação séria, honesta, coerente e lúcida. Deixe de viver diante de uma televisão e de consultar as capas dos jornais da imprensa deste país.
O das escolas com campo de forças antivírus persiste? E se explicasse por que mecanismo físico ou fisiológico não haveriam contágios em escolas? Se não tem explicação então admite que são local de contágio, e como é que o fecho pode não contribuir para derrotar este vírus? As coisas não se explicam com especulações sobre gráficos de agregados de dados, explicam-se determinando os mecanismos concretos causa-efeito.
Sabe onde as crianças sofreram nesta pandemia um impacto reduzido na aprendizagem? Nos países que cedo tomaram medidas para suprimir mesmo o vírus. Medidas que negacionistas de diversos tipos na Europa impediram que fossem tomadas. Temos que salvar a economia. Temos que salvar o turismo. Os negócios. O emprego. As crianças, pensem nas crianças. Ao fim de um ano a dar ouvidos a esta gente continuamos de onda em onda sem nada salvo. As crianças australianas e chinesas essas andam a ter aulas normais.
Estamos como estamos e não como os australianos e chineses estão graças a pessoas com a atitude do Nuno Serra.
A pressa em reabrir e a insistência em não impor quarentenas a sério e sem excepção nas fronteiras já se experimentou antes. O resultado só poderá ser o mesmo. Reduz-se o vírus, não se suprime. Ao fim de um par de meses estamos à beira de nova paragem geral. E já importamos ou deixamos desenvolver novas variantes, a luz da vacina torna-se comboio.
Pior que ser-se ignorante é não aprender com os erros. Ou não querer aprender para não admitir o erro.
São inacreditáveis os dois últimos comentários. Um quer fazer comparações com as crianças chinesas e australianas; outro acha que um vírus pode ser suprimido (ou seja, acredita em que podemos conseguir e chegar zero contágios e zero mortes).
Há que ter um pouco mais de senso, antes de escrever um comentário. Talvez, escrever um rascunho e ver se alguma coisa que foi escrito bate certo com aquilo que os outros pensam; e não com aquilo que é transmitido na televisão todos os dias e lançado nos jornais todos os dias.
JN
Dr JN Pangloss, certamente vivemos no melhor dos mundos possíveis e o vírus não pode ser suprimido. Os telejornais não falam de aplicar uma política de supressão, logo não é possível. A Austrália, China, Taiwan, Nova Zelândia, etc são paises de fantasia que não existem neste mundo real dos telejornais. Nada para ver lá.
Como é bom viver neste continente onde os limites das políticas são definidos pelos comentadores políticos e jornalistas amestrados que selecionam o noticiavel. Já agora fechem este blog, não é preciso e estraga a unanimidade.
Ao anónimo que escreveu o comentário de 5 de março de 2021 às 15:54, o blog não precisa de ser fechado, porque é firme e porque tem convicção.
Deixe de ver os telejornais da fantasia e tente suprimir a depressão das suas palavras. Há que tentar uma mensagem melhor e que transmita mais ânimo.
Eu nao percebo como é que o confinamento coemça a ter efeitos em apenas tres dias,até acho que em tres dias o efeito seria o oposto, pelas contaminaçoes em família,em casa. Alguém me explica porque é que nao é válido pensar que o confinamento nao teve efeito nenhum no dito Rt? Que provas, em concreto, existem de que o confinamento está relacionado com a queda desse indíce?Ou isto é só achismos???
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