sábado, 6 de março de 2021

Parabéns


uns anos, dei conta de um panfleto de 1997 e da análise premonitória que o acompanhou. Distribuí este panfleto à porta do ISEG há quase um quarto de século. Não sou muito de guardar coisas, mas conservo um. 

Sempre gostei de distribuir panfletos e de falar com as pessoas, aqui e ali, sobre o seu conteúdo, real ou imaginário. Outros o fizeram, arriscando tudo, não o esqueçamos. E a militância também é feita destas tarefas, aparentemente simples e nem sempre monótonas, que dependem da certeza que outros, algures, a estão a repetir, até porque outros as repetiram e outros as repetirão. 

Como assinala Jodi Dean, num livro sobre a forma de pertença política associada à palavra camarada, que prolonga a sua reflexão sobre a importância da forma partido, “um camarada é alguém com quem contas, com quem partilhas uma ideologia, um compromisso com princípios e objectivos para lá do que é momentâneo, numa luta que todos sabem ser longa”. E sublinha a importância da “semelhança dos que estão do mesmo lado”. Não há política sem clivagem e sem homogeneização numa época em tudo conspira para a singularidade feita de aparências. 

No início de 2021, tinha ido buscar livros e papeis a uma faculdade demasiado vazia logo pela manhã. Pairava o espectro de um novo confinamento. Dois estudantes, com todos os cuidados, distribuíam panfletos da candidatura de João Ferreira à saída. Já não recebia um panfleto há imenso tempo. Nem imaginam como fiquei subitamente alegre num dia que prometia ser triste. Trocámos duas ou três palavras de cumplicidade: força, boa sorte, obrigado. “Junta a tua à nossa voz”. O sol brilhava e ainda não tinha reparado nisso. 

Há cadeias que não se quebram ao longo do tempo e que podem ser redescobertas de formas novas: afinal de contas, devemos evitar terminar em nós mesmos, já que sozinhos não valemos nada, como nos lembram dois escritores imortais, dos que souberam destilar a essência da acção colectiva, em verso ou em prosa

Enquanto houver camaradas nos locais onde se trabalha, onde se cria tudo o que tem valor, há esperança. É simples, creio, e tudo parece tão complicado no dia 6 de Março de 2021. 

Tudo isto para dizer: parabéns de um amigo ao Partido que faz hoje cem anos.

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