sábado, 17 de agosto de 2019

O país pode parar

Choraminga alguma esquerda a propósito da greve dos motoristas que "o país não pode parar". Mas é claro que o país pode parar.


As únicas classes que têm medo de ruínas são as que, como nunca levantaram uma parede, por isso ficam com muito medo de como vai ser se caírem as que estão de pé. A classe operária levantou cada tijolo, cada parafuso, cada fio eléctrico, cada pormenor do mundo que temos. Se o deitar abaixo, sabe muito fazê-lo de novo. E o mais certo, sem mandantes a dar palpites nem patrões a lixar-lhe a vida, é que faça um mundo muito melhor que o que estava.

João Vilela

39 comentários:

Jaime Santos disse...

O problema, Paulo Coimbra, não é tanto o derrubar de paredes, mas das vidas que se podem perder entre as ruínas. Não conheço revoluções sem sangue... Prefiro antes o derrubar de muros e de cercas, como o derrubar do Muro de Berlim, que de facto deu origem a um mundo, que por muito imperfeito que seja, é bem melhor do que o que existia antes...

Assumindo, claro, que quem assim escreve fala a sério e está disposto a fazer os sacrifícios necessários. Quem pode contemplar as ruínas do conforto de um gabinete universitário ou da posição confortável de funcionário público que sabe que irá ser preciso quando acabar a crise, pode dar-se ao luxo das atoardas e das fanfarronadas eloquentes...

Quem trabalha uma vida e depende das poupanças, por exemplo, não pode... Os mesmos que levantam tijolos, pregam pregos e instalam fios elétricos, aqui e lá fora... Tenha cuidado que um dia destes os Portugueses, também podem, como dizia Miguel Sousa Tavares, acordar virados para a Direita e o resultado irá fazer o consulado de Passos-Portas parecer um piquenique...

Anónimo disse...

Há muito que não lia nada do João Vilela

Paulo Coimbra disse...

Jaime Ramos,

Não me conhece de lado nenhum. Faça o favor de não ter a pretensão de conhecer os detalhes da minha vida privada.

Um Jeito Manso disse...

Caro João Vilela,

Lamento dizer-lho mas acho que o que escreveu parece revelar que nunca passou pelos sacrifícios que a construção de alguma coisa pode comportar. É que quem passa por isso dificilmente aceita que um qualquer grupo de pessoas venha, de ânimo leve, destruir o fruto do seu trabalho.

Note que nada tenho contra o direito à greve mas tenho tudo contra a banalização da greve em que outros que nada têm a ver com os motivos de descontentamento (porventura legítimos) sejam reféns de uma luta contra terceiros.

Anónimo disse...

Jaime santos,ao menos um pouco mais de nível por favor

Jose disse...

« E o mais certo, sem mandantes a dar palpites nem patrões a lixar-lhe a vida, é que faça um mundo muito melhor que o que estava.»

Ler mais..? Para quê?
Está tudo dito; em duas linhas, a História da Humanidade vista de patas ao alto.

Anónimo disse...

"A classe operária levantou cada tijolo, cada parafuso, cada fio eléctrico, cada pormenor do mundo que temos. Se o deitar abaixo, sabe muito fazê-lo de novo. E o mais certo, sem mandantes a dar palpites nem patrões a lixar-lhe a vida, é que faça um mundo muito melhor que o que estava."

Também eu acreditava nisso quando ocupei herdades, camarada. E teimei em acreditar até ao dia em que a assembleia geral da UCP me mandou vender as vacas ( as vacas reprodutoras, repare ) ao desbarato para pagar salários. Nesse dia aconteceu-me aquela queda no mundo que nos leva a ver a vida tal qual ela é e não apenas e sempre como gostavamos que fosse.

Cump.

MRocha

Anónimo disse...

Não me pareceu ser “alguma esquerda” a que choraminga mas sim toda a “esquerda” eleita para o parlamento... sobram MRPP, Livre, PTP e MAS que ainda não sei qual foi a sua posição perante o sucedido

Mário Reis disse...

Apesar de concluir que os chamados partidos de esquerda, dado que o PS há muito pela pratica recusa essa classificação, não conseguiram passar a mensagem sobre o quadro de problemas que se colocam a este violentado grupo de trabalhadores e a uma greve em que não faltou arrivismo e arrogância, não sou dos que carrega entulho para disfarçar depressões patológicas e melancolias. Esta entrada no blog é bem sintomática da deriva da esquerda, da luta e da falta dela para hegemonizar um processo que seja coerente e consequente no combate ao capitalismo selvagem à democracia burguesa com que convivemos que é berço de praticas fascistas, que dia a dia mostra por onde vai e o que pretende. Nesta madrugada, trump falou em ilegalizar a Antifa que combate os grupos de "supremacistas brancos"
É típico ainda, nestes momentos de crise, surgirem os oportunistas, sem exceção, Na verdade, em todos estes momentos há períodos nos quais predomina um "romantismo da ilegalidade", na linha de infinitos pardais que tudo sabem e tudo sobrevoam como Raquel Varela, Joana Amaral Dias, da catrafada de ex-MRPP's, de Paulo Morais e de muitos outros. É uma coisa antiga que, quem anda pelo sindicalismo consequente e de classe sabe bem distinguir. O que desejavam, que todos entrassem num processo aventureiro e de encurralamento? Que perante este "atos espontâneos" se não atendesse a quem, como e em que altura os "instrumentaliza"? Que perante a avalanche de socos (do Governo e da Antram) o lutador sofra juntando ao queixo os punhos esperando que parem de socar?
É verdade que é necessário responder criativamente a problemas novos, mas com a razão e a análise correta das situações em vista. Retirar lições deste importante acontecimento histórico é urgente para construir uma esquerda que responda aos novos problemas.

Francisco disse...

Creio que nos encontramos, por múltiplas e profundas razões, naquele tempo histórico em que como dizia Gramsci, o velho ainda não morreu e o novo ainda não pode nascer, consistindo nisso a crise que atravessamos. A disseminação planetária do modelo de organização económico-social do capitalismo, agora na sua versão neo-liberal, coincidindo nas últimas três décadas com a implosão do denominado Bloco de Leste, viabilizou também e como decorrência natural e intrínseca daquele primeiro processo a disseminação da ideologia do mercado (apolítica, como lhe chamou certeiramente Boaventura Sousa Santos), com a consequência inerente de que no contexto do mercado (dos múltiplos e heterogéneos mercados) ao indivíduo todas as liberdades são possíveis e todas as possibilidades se lhe oferecem, excepto a possibilidade de construir um modelo de sociedade alternativo e desmercantilizado. Esta narrativa ideológica entra quotidiniamente na consciência de milhões de indivíduos seja por via sub-liminar seja mesmo através de processos e mecanismos institucionalizados, que capturaram de resto e em larga escala o próprio meio académico. Naturalmente que sendo o capitalismo uma "civilização das desigualdades" (A. Nunes), os impactos do nosso "modus vivendi" sobre o sistema por um lado e os impactos e consequências desse mesmo sistema sobre a vida de cada um de nós, são profundamente assimétricos: são assimétricos no interior de cada país (Portugal é um exemplo objectivo do fosso abjecto entre os que mais possuem e os que menos têm) e são assimétricos no próprio face a face dos vários países, com a subsistência de mecanismos directos e indirectos de colonização e subserviência de nações, territórios e povos inteiros, como condição para a manutenção do (insustentável) modo de vida do "norte desenvolvido".
Sabe-se de à muito e pelo menos desde que Marx o evidenciou, que o sistema capitalista depende para a sua subsistência e com carácter nevrálgico, de um consumo permanente, como elemento nuclear para a multiplicação e ampliação do capital.
Quer a finitude dos recursos quer a alteração da composição orgânica da capital, quer o desenvolvimento sem precdentes das forças produtivas, apresentam-se hoje como elementos que mais evidenciam as contradições de um sistema que atinge a uma velocidade inaudita todos os seus limites históricos. Subsistem ainda contudo, as caducas e perigosas visões da social-democracia, as quais, assegurando até ao limite das suas forças a gestão do capitalismo, mascarando a sua verdadeira face com soluções de compromisso e de pouco mais ou menos, vão adiando as mudanças necessárias (e que são profundas, todos o pressentimos) e alavancam, objectivamente, o ascenso de forças extremistas de direita das quais e sem pudor o capital se serve hoje do mesmo modo que o fez ontem, desde que tal assegure o manietamento e silenciamento dos povos e da sua vontade. Por conseguinte, faríamos todos bem em nos libertarmos das velhas roupagens imbecilizantes e percebermos que estamos de facto naquele tempo de crise em que o velho ainda não morreu e já é imperativo fazer com que o novo possa nascer

Anónimo disse...



Faz-me confusão a ideia que o progresso tenha de nascer, obrigatoriamente, do confronto e de reduzir tudo a cacos.

Parece aliás ideia filha da fixação capitalista na ideia de concorrência.

Não vai sendo altura de começarem a usar o que é suposto terem dentro das cabeças ?

Mário Reis disse...

Para quem tiver acesso ao Público, é de ler a "chapada" na D. Raquel Varela, especialista em "realidade" e interesse pelo mundo dos explorados....
https://www.publico.pt/2019/08/18/politica/opiniao/raquel-varela-ma-fe-mistificacao-pura-ignorancia-1883683?fbclid=IwAR099UO-3gw-3MnHJxxxV4BNOQnAzdJYyOAVaMuk6eglRDiEN1_lNtIKbMg

Anónimo disse...

Já o Durruti dizia em 1936: Nós sempre vivemos na miséria, e nos acomodaremos a ela por algum tempo, mas não esqueça que os trabalhadores são os únicos produtores de riqueza. Somos nós, os
operários, que fazemos marchar as máquinas nas indústrias, nós que extraimos o carvão e os
minerais das minas, nós que construimos as cidades. Porque não iríamos reconstruir, e ainda
em melhores condições, aquilo que foi destruído? A ruína não nos dá medo.

Anónimo disse...

Excelente a contribuição de Mário Reis.

Luis disse...

Isto de poderem viver sem patrões ,é como no tempo da reforma agrária ,mas totalmente diferente ,os trabalhadores não podem viver sem patrões e vice versa ,quando se começa a pensar assim é muito perigoso,e o resultado é trágico .

Carlos Duarte Magalhães disse...

Que falta nos faz o Zeca! com os indios da meia praia que a dada altura...
Muitas obras embargadas
Mas nao por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz

...
Não Luis, não há uns que nasceram para reinar e outros para servir. A história da humanidade, que no que toca a conquistas e direitos sociais é um horror e de horrores, revela que perigoso é a aceitar a realidade como imutável sem a enfrentar. E é por essa razão que gente intransigente, mas coerente e consequente é tão importante que se empenhe no combate à exploração, racismo, colonização e guerra eminente.

Anónimo disse...

Os trabalhadores não podem viver sem patrões?

Porquê? Isso revela um certo espírito de alma penada, subserviente e bem mandado

Quem vende a força do seu trabalho é quem trabalha. Os patrões apropriam-se do trabalho alheio

MANOJAS disse...

Já leram o artigo do David Dinis, do Expresso, sobre o E-mail do motorista Fernando Frazão, aquele que transportou o presidente Marcelo, a ameaçar com uma greve que provocaria uma revolução civil? A PGR e o SIS desvalorizaram o documento, mas já leram? Vale a pena nem que seja por desfastio.

Anónimo disse...

Tantos intelectuais , a arrotarem postas de pescada, sobre a classe operaria, enfim, voltamos a ter grandes educadores da classe operária, para gozo dos operários.

Marco disse...

O PC nada mais representa do que uma mão cheia de sindicalizados e muitos reformados, mas será que ainda representa "O Operariado" ou não passa do que sempre foi: um comité central ?. O Bloco representa mais a esquerda burguesa, com as suas lutas internas e o vislumbre do poder. Nunca representou "O Operariado". Sendo que o PS há muitos anos deixou de representar "O Operariado", afinal, quem o representa ?

Relembro a crítica de Kropotkin a Lenin: "Vladimir Ilyich , as tuas acções concretas são completamente desmerecedoras dos ideais que pretendes deter."

Augusto disse...

Caro Marco o operariado não é uma coisa abstracta , são homens e mulheres com as mesmas qualidades e os mesmo defeitos dos restantes portugueses. Há operários no PCP, como há no BE, no PS , no PSD e até no CDS. Por isso meu caro é pura perca de tempo procurar quem represente o operariado, isso do partido da classe operária foi chão que deu uvas, afinal o partido era dos intelectuais , os operários estavam lá para compôr o ramalhete.

Anónimo disse...

"E o mais certo, sem mandantes a dar palpites nem patrões a lixar-lhe a vida, é que faça um mundo muito melhor que o que estava."
Podem fazer isso já amanhã sem terem de destruir nada. Basta despedirem-se e criarem a sua própria empresa ou, melhor ainda, associarem-se numa cooperativa. Já amanhã. Porque não o fazem Paulo Coimbra? Porque preferem trabalhar para patrões. Está completamente enganado Paulo Coimbra. Nem o sindicato gerem preferindo andar às ordens do advogado Pardal Henriques.

Anónimo disse...

A questão não são os intelectuais a arrotarem postas de pesca.A questão é o projecto que se pretende em alternativa a este modelo de sociedade. E aqui vale a pena introduzir o que Francisco escreve aí em cima

Porque a frase sobre as postas de pescada parece uma vacuidade de um intelectual também ele a arrotar postas da dita.

Com algum incómodo pelo rumo que a discussão está a ter

Paulo Coimbra disse...

Acerca do texto da Direcção nacional da Fectrans, transcrevo um comentário de um camarada que, previamente autorizado, faço meu, embora, para não elevar desnecessariamente o tom da discussão, amputando-o* da sua afirmação inicial:

“(...) Bem sei que o rigor nos pormenores não é o forte da Raquel. Mas, e eis o ponto a que chegámos, acho o equívoco dela mais acertado do que o esclarecimento que os teus camaradas acharam por bem dar ao Público. Assinar um acordo com o patronato enquanto há grevistas intimados a trabalhar pela GNR e militares a conduzir camiões da Antram é mau demais até para um revisionista pequeno-burguês do meu calibre.”

A 'conversa' que suporta o comentário, aqui: https://www.facebook.com/ricardo.noronha.526/posts/10157709280497941.

*Perdoa-me, Ricardo. Dou comigo ainda mais revisionista pequeno-burguês do que tu.

Anónimo disse...

A prova concreta do incómodo da situação (para alguns) é o que agora se assina como "Marco" escreve

Uma manifestação típica de quem está atrapalhado. Ou não fosse ele outro senão o nosso conhecido aonio eliphis Jcat pedro pimentel ferreira.

De repente, salta em direcção ao PC. Parece que são uma mão cheia de sindicalizados.

Aqui denota o seu ódio de classe. Os tais trabalhadores, sindicalizados ou não, são afinal do PC?

Mas há mais manifestações de tralha neoliberal. Parece que no PC há também muitos reformados

Faz ou não lembrar a trampa daquele sacana do PSD a falar sobre a "geração grisalha"?

Anónimo disse...

Se o que diz o comunicado da Fectrans é verdade estamos perante uma imensa manipulação de Raquel Varela. Que se associa assim a um sujeito como Pardal Monteiro. A mitificação de greves assim parece mesmo coisas de pequeno-burgueses, embora não goste do termo

Jose disse...

Pouco a pouca a esquerdalhada recupera de quase 4 anos de esforço de racionalidade e lança-se, aliviada, na tradição do entusiasmo por lutas, sarilhos e disparates desde que lhes sejam aplicáveis os chavões que são o ser de esquerda.
O coral aumenta a todo o momento e a sua sonoridade embala a doce irracionalidade do reviralho.

Anónimo disse...

Jose insiste

"Esquerdalhada e reviralho".

Outras formas de dizer "lutas" (tremelica jose só com a palavra).
("Os sarilhos e os disparates" mais a "sonoridade irracional" são por conta da casa. Da dele claro)

Dado curioso. O termo reviralho terá sido inicialmente utilizado pelos apoiantes do regime fascista, com um sentido claramente depreciativo, como aliás o sufixo indicia.

Do léxico particular de jose ficaram estas pérolas.

estevesayres disse...

Aguardamos que seja publicada a resposta ao V/ Anónimo (1)

Como foi abordado por um Anónimo, qual seria a posição, do MRPP, qui vai:

Triângulo da traição contra luta dos motoristas!

O memorando assinado entre a federação de sindicatos – a FECTRANS -, afectos à CGTP, constitui mais uma miserável traição, não apenas pelo que se revela no documento entretanto divulgado, designado por “Memorando de Entendimento” , mas, e sobretudo, pelo que nele se não diz.

Não disseram no supracitado memorando, mas disseram-no, quer os dirigentes da FECTRANS, quer os representantes do patronato, através da sua associação de classe, a ANTRAM, ontem, ao princípio da noite, à saída da DGERT onde foram anunciar ao governo a “boa nova” da traição a todos os motoristas profissionais em geral, e aos motoristas de matérias perigosas em particular.
Continuação

estevesayres disse...

Continuação (2)
Porém, uma simples leitura deste memorando revela-nos de imediato que a verdadeira intenção desta federação de sindicatos traidora, a FECTRANS – que trai os trabalhadores há mais de 30 anos – e da ANTRAM, era furarem a greve dos motoristas de matérias perigosas, fazendo crer que, com “negociação civilizada”, as “partes” podiam chegar a acordo, sendo de condenar toda e qualquer tentativa de empunhar espadas contra os patrões e exercer tamanha pressão sobre os “coitados”!
Ao ler o documento, qualquer trabalhador, por mais distraído ou iletrado, poderá constatar que o mesmo não vale nada. Trata-se, uma vez mais, de um roteiro de intenções daquilo que as “partes” – FECTRANS e ANTRAM – prometem implementar ... num futuro próximo!!!
Ora, foi precisamente por isto, pelo facto de a ANTRAM, em Maio transacto, ter assinado protocolo semelhante com o SNMMP para, semanas mais tarde vir afirmar que o sindicato estava a alegar matéria de acordo que a associação patronal tinha condicionado à aprovação dos seus associados - o que não veio a ocorrer, como é público - que o sindicato está a levar a cabo esta greve.
Continuação

estevesayres disse...

Continuação(3)
Aconteça o que acontecer, a máscara de “democrata” deste governo caiu definitivamente. Em todo este processo é notório o seu apoio aos patrões da camionagem, contando com o apoio canino da FECTRANS, uma federação de sindicatos que tem um historial de traição às lutas dos seus associados – os motoristas -, inscrito no contrato colectivo de trabalho que ainda hoje está em vigor e que tem sido o cerne desta luta.
Prosseguindo na senda da traição a FECTRANS alinhou no espectáculo da vitória da conciliação e da “concertação social”, prestando-se a ficar na fotografia de um acordo contra os motoristas em geral, e motoristas de matérias perigosas em particular.
Hoje, os trabalhadores portugueses puderam constatar a aliança entre os que, em 1974, fizeram aprovar a Lei da Requisição Civil – o PCP/Intersindical (CGTP) –, o patronato reaccionário que apenas pretende exponenciar a acumulação de capital à custa da mais intensa exploração de quem trabalha e um governo que tem aceite todos os ditames que Berlim, Paris e Bruxelas lhe têm imposto para que os acordos colectivos de trabalho apenas favoreçam os capitalistas e nunca quem só possui a sua força de trabalho para vender.
Ficou claro para todos os trabalhadores que não se deixaram alienar nem manipular pela barragem “informativa” de todos os órgãos da chamada “comunicação social “– que sempre esteve ao serviço do patronato e do governo -, que a FECTRANS e o governo levaram ao colo a ANTRAM, proporcionando-lhe um “pré-acordo” que vale o que vale. NADA! A não ser intenções que, poderão ou não, vir a concretizar-se. E, diz a experiência de muitas décadas de acção sindical que desta associação de patrões os trabalhadores nada mais poderão esperar do que golpes baixos e o permanente alimentar dum quadro em que tudo se discute – nas costas dos trabalhadores -para nada se alterar, ou para tudo se manter ou agravar.
Continuação

estevesayres disse...

Continuação(4)
Uma vez mais, o governo utiliza a técnica do “polícia bom” e do “polícia mau”. Logo a seguir às declarações de representantes da FECTRANS e da ANTRAM, à saída da DGERT, vem o ministro das infraestruturas, Pedro Nuno Santos, elogiar o “sindicalismo responsável” para concluir que os grevistas devem compreender que a greve “morreu” e que, portanto, devem abandonar aquela forma de luta e sentar-se, como os sindicatos da traição, à mesa das negociações com uma associação patronal que se caracteriza por empatar, ganhar tempo, para nada negociar e tudo manter ou agravar.
Enquanto o seu colega de governo, o ministro da escravatura, Vieira da Silva, vem verberar os motoristas de matérias perigosas que se têm negado a submeter à requisição civil fascista imposta pelo governo PS, com a cumplicidade activa das suas muletas do PCP/BE/Verdes, por estarem a apresentar baixas médicas para não realizarem os serviços que lhes querem impor.
Continuação

estevesayres disse...

Continuação (5)
Ou seja, Vieira da Silva, que se presta a fazer o papel de “polícia mau”, vem afirmar que os serviços governamentais competentes cairão com mão pesada sobre a “ilegalidade” alegadamente cometida pelos motoristas em greve, mas nada diz quanto aos atropelos que os patrões da camionagem praticam todos os dias, das quais elencamos apenas os mais gritantes:
· Desrespeito pelo horário de trabalho legal de 8 horas diárias ou 40 horas semanais
· Desrespeito pelo intervalo mínimo de 11 horas de descanso entre serviços exigido por lei
· Nenhuma inspecção da ACT ou outra entidade às condições de trabalho e de segurança a que os camionistas estão sujeitos para poderem cumprir as 15 e mais horas de trabalho escravo diário que lhes é imposto
· Fuga generalizada aos impostos por parte do patronato, denunciada pelo sindicato de motoristas de matérias perigosas, sem que qualquer investigação tenha sido levada a cabo ou qualquer sanção aplicada
· Ausência total de fiscalização dos tacógrafos, cuja manipulação permite que um camião cisterna ultrapasse de largo o limite de velocidade permitido, garantindo assim maior número de serviços e, logo, maior lucro para os patrões da camionagem
O governo mente sem vergonha quando afirma que não é “normal” na Europa um caso de negociações entre sindicatos e patrões, em “contexto de greve”. Esta mentira escandalosa, coloca definitivamente o governo como aliado dos patrões da ANTRAM.
Todos se lembrarão de como o governo Costa recorreu a todo o tipo de manobras fascistas para furar a greve dos estivadores do porto de Setúbal, quando a sua luta comprometia severamente a operação de exportação de veículos produzidos pela Autoeuropa.
O acordo então alcançado entre o SEAL e os operadores portuários de Setúbal – que também se negavam, inicialmente, a “negociar” com a “espada na cabeça”, isto é, com a greve em curso - , em Dezembro de 2018, e que colocou um ponto final na paralisação daquele porto, foi mediado pelo governo de Costa, através da sua ministra do mar, Ana Paula Vitorino – também ela com entradas de leoa e saídas de sendeiro – em pleno “contexto de greve”.
Luta exemplar a dos estivadores que demonstrou que, apesar de serem um pequeno sindicato, inesgotável em combatividade, coerência e resiliência, estando a defender uma causa justa, podiam vencer um inimigo de classe aparentemente poderoso. Na época, tal como agora acontece com o SNMMP, os estivadores, sob a direcção do seu sindicato - o SEAL - também tiveram que enfrentar uma “coligação” de TODOS os partidos do “arco parlamentar” - PS, PSD, PCP, BE, CDS, Verdes e PAN - contra a sua justa luta.
A greve é um instrumento que se destina a ferir a produção capitalista, não é um convite para dançar e, muito menos, “amigar” posições antagónicas quanto à distribuição da riqueza. É um instrumento de que a classe operária e os trabalhadores se valem para fazer ajoelhar a burguesia, o patronato.
Colocando-se em bicos de pés para ficar na foto de família dos traidores e fura-greves, aparece ainda o PAN, o tal que se preocupa mais com os animais e a natureza do que com as pessoas, a “esconjurar” o governo de Costa por este não estar a aproveitar o “dinamismo” que tem demonstrado com a imposição da requisição civil para, aproveitando o “balanço”, levar a cabo a “descarbonização” da sociedade!!!!

Então, ainda há dúvidas de que são todos um Putedo?!

Texto de Luis Júdice e assinada por baixo por mim

Anónimo disse...

Caro Esteves Ayres,
Muito obrigado pela sua resposta esclarecedora!
Excepto as brejeirices no final a minha posição pessoal tendo em conta a informação que conheço está bastante mais próxima do MRPP do que do PCP.
Irei ler o programa eleitoral para as legislativas com redobrada atenção.

Anónimo disse...

Ahahah

O “anónimo” pensa que isto é campanha eleitoral. E coloca-nos ao seu nível. Com interesse redobrado.

Sempre a tralha neoliberal de mãos dadas com a brejeirice instituída, não é verdade?

Anónimo disse...

Isto são posições que determinados partidos tomam sobre determinados assuntos que me interessam. O meu dever é informar-me sobre qual a atuação dos partidos e no momento do voto escolher aquele que melhor me representa. Não faço essa avaliação apenas durante a campanha eleitoral.

Marco disse...

Caro Augusto, os operários que lá estavam para compôr o ramalhete são a entidade abstracta. É que, em política, pode ter a certa que ela existe. Aliás, é por aí que "O Operariado" começa por ser explorado. Da direita, à esquerda.

Outro anónimo diz que sou este e sou aquele. Quer colar a mensagem ao mensageiro, como se tal fizesse muito sentido. Pergunto, para quê ? Se postasse como Anónimo, como você, isso faria de mim o quê, concretamente ?

Neo-liberal ? Sou tão neo-liberal quanto o Kropotkin era.

Quanto ao que me acusa, sem sequer me conhecer e ao ler as poucas palavras que escrevi sobre o assunto, você deve ser algum tipo de cartomante mas daqueles em que não acerta uma. Meu caro, com as suas suposições vivo eu muito bem.

Reitero. O PCP faz uso do seu poder no universo sindical a seu belo prazer e muitas vezes por motivos políticos próprios, não por uma questão de representação dos trabalhadores e das suas aspirações. Isto é uma análise factual. Não uma crítica. Outro facto é o do PCP representar uma faixa da sociedade realmente envelhecida. Mais uma evidência. Não uma crítica. Se com isto acha que não gosto do meu avô ou da minha avó, está a por-me palavras na boca. Assim a cru, até pode parecer um zeitgeist politico-apocalíptico para si mas é a verdade. Temos pena ... Olhe, lute contra a realidade, que é a cada vez maior falta de militância, não contra mim. Faça uma indulgência e diga-me o quão é fácil a juventude aderir a qualquer coisa que "cheire" a política nos dias de hoje. Isto é transversal a BE e PCP e se não sabe, devia.

Agora pode acusar-me de ser o rato mickey ou o papão, ou de não gostar de pessoas grisalhas - como eu - ou lá quer que seja. Não vá eu criticar outra vez o seu belo PC do coração e ficar sem uma leitura das cartas.

catarro disse...

Meu caro Marco o raciocínio que produz é muito cheio de empenho e boa vontade, mas na verdade é um bocadinho circular. Ao ignorar os factores determinantes da produção ideológica e ao não estabelecer as necessárias relações de causa e efeito entre essa mesmo produção e os seus impactos sobre as escolhas dos indivíduos numa qualquer sociedade concreta, ilude um problema central e, desse modo, ilude-se a si próprio ou tenta iludir terceiros.
Naturalmente que o liberalismo e o neo-liberalismo - suportes ideológicos do sistema capitalista - não encontram mais do que indivíduos e famílias e direito de livre escolha por todo o lado. Por conseguinte tudo o que cheire a elementos estruturais do funcionamento orgânico da sociedade, está para tais cavalheiros como o toucinho para Maomé. Que importa que o controlo da comunicação social e das redes digitais esteja cada vez mais centralizada em monopólios imperiais? Nada. Afinal, não são as televisões que determinam (também) a maior ou menor influência dos actores políticos, pois não? Ou influenciarão? O melhor talvez seja perguntar ao Prof. comentador Presidente, que foi fabricado dia após dias, tecido e retocado com fios de filigrana até chegar onde era suposto chegar.
Quanto aos efeitos do discurso apolítico sobre a juventude, não é ele precisamente uma condição para a sua sujeição à precariedade, à falta de futuro compensada pelo hedonismo mais medíocre e imbecil? Como vê, isto anda de facto tudo mais ligado do que parece.

Anónimo disse...

Marco faz lembrar aquele facinora neo- liberal que falava na geração grisalha da forma como o fazia

Embora fale assim do jeito do Pedro aonio eliphis Ferreira. Assim daquele jeito como o Pedro, que desapareceu em combate depois de se ter provado quem era

Vamos então ver as cartas? Parece que agora está numa de cartomante este marco