segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Avisos à navegação

A edição desta semana do The Economist traz avisos à navegação nos mercados financeiros: há "ansiedade" e "inquietação" entre os investidores, à medida que a economia global parece caminhar para uma nova recessão.

"Procurar sentido nos mercados financeiros é como procurar padrões num mar revolto. A informação que emerge é produto de compras e vendas feitas por pessoas, com todas as suas contradições. Os preços refletem um misto de emoções, enviesamentos e cálculos racionais. No entanto, de um modo geral, os mercados dão pistas sobre o estado de espírito dos investidores e sobre o temperamento de um dado período. Habitualmente, o sinal mais atribuído aos mercados é o da complacência. Os perigos são geralmente ignorados até ser demasiado tarde. Contudo, o estado de espírito atualmente dominante, à semelhança de grande parte da última década, não é de complacência, mas antes de ansiedade. E tem aumentado todos os dias."

O artigo lista alguns riscos dos tempos que atravessamos: taxas de juro e custo do crédito historicamente baixos, recuo da produção industrial e das trocas entre países, e, sobretudo, imposição de novas tarifas aduaneiras com a guerra comercial entre os EUA e a China. No entanto, de todos os motivos para a instabilidade dos mercados financeiros, a incerteza é o mais relevante: "Os limites da disputa [entre os EUA e a China] foram alargados, passando das importações de alguns metais industriais para uma categoria mais abrangente de bens de consumo. Outras frentes de combate, incluindo cadeias de fornecimento de tecnologia e, este mês, as flutuações cambiais, foram abertas. É difícil prever o que poderá estar em causa no futuro."

Numa altura em que o crescimento das economias ocidentais tem abrandado, o que se traduz em reduzidos níveis de investimento e procura agregada, empurrando os bancos centrais para novas injeções de liquidez, é de esperar que os juros se mantenham baixos. Estes, por sua vez, fomentam a concentração do capital em aplicações financeiras e a especulação, aumentando a instabilidade dos mercados. Daí que a política monetária não seja solução para a incerteza dos tempos. Encontra-se uma resposta possível na política orçamental - os Estados têm capacidade para impulsionar os salários e a procura através da despesa pública, contrariando as tendências recessivas. Noutras palavras, é necessário enfrentar o consenso neoliberal das últimas décadas. Teremos capacidade para travar o caminho para o abismo?

4 comentários:

Anónimo disse...

Um post que é também um aviso à navegação por outros motivos. Já era tempo do LdB deixar um pouco a monotonia informativa do Público e das TVs

Jose disse...

«é necessário enfrentar o consenso neoliberal das últimas décadas»

Estranho liberalismo em que os problemas são resultado de acções de governança estatal, desregulando, regulando, criando dívida gigantesca, determinando juros, tarifas, barreiras ao comércio…



Anónimo disse...

Um bom e oportuno texto.

Muito em breve veremos se as escolhas irão no sentido do uso das capacidades do Estado para desfomentar a concentração do capital e aumento da especulação, reduzindo as brutais desigualdades.

O que é também necessário para enfrentar o consenso neoliberal das últimas décadas é combater a formação desse consenso no país.

Anónimo disse...

O resultado da herança de Passos está à vista de todos. Uma trampa criminosa que o devia meter na cadeia mais as suas negociatas em prol do troikismo caceteiro e da revanche sobre Abril.

O apetite liberal pela desregulacão também está por aí patente no discurso de josé. A contribuição para a dívida dessa desregulação e os custos que tem acarretado para o país o transferir dinheiro do erário público para cobrir os desmandos dos banqueiros e afins são assunto que levam ao frenesim apoteótico negacionista dos liberais em trânsito

Há sempre quem fique a ganhar com o “consenso neoliberal”. Parece que são bem poucos, mas trabalham muito para esconder a realidade. E têm aliados poderosos ou não estivessem a ganhar nesta guerra sem tréguas entre a classe que explora e a classe que trabalha