Às vezes, dá jeito conhecer o passado para reduzir a ansiedade com que vivemos o presente.
Vem esta tirada a propósito do debate recorrente e cada vez mais presente na comunicação social sobre que vida se irá viver quando as máquinas nos roubarem o trabalho. E como vamos nós poder viver - e esse é outro tema recorrente, que vem logo atrás - recebendo um rendimento universal incondicional, dado pelo Estado, com o qual teremos de pagar tudo, tudo porque já não haverá trabalho.
Na verdade, nada disto é novo.
O Observatório sobre Crises e Alternativas, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, divulgou recentemente dois estudos de José Castro Caldas e Nuno Teles sobre essa problemática que será debatida na próxima 4ª feira em Lisboa (Ver inscrição gratuita aqui).
O primeiro caderno questiona os fundamentos das narrativas mais correntes acerca do tal futuro do trabalho. Mostra que o debate académico sobre os ritmos, a direção e os impactos da inovação tecnológica sobre o emprego e o trabalho está longe de ser conclusivo. Depois de passar em revista abordagens convencionais na teoria económica, argumenta-se que, em mercados capturados por um punhado de empresas tecnológicas financeirizadas, é diminuto o incentivo à inovação promotora de ganhos significativos de produtividade. Algo que se torna particularmente visível na emergência das plataformas digitais monopolistas, ditas colaborativas, cuja principal inovação se encontra na promoção de novas formas de desqualificação e desvalorização do trabalho.
No segundo caderno, aborda-se a tal invasão do espaço mediático sobre o futuro papel das máquinas. Nomeadamente, regressa-se aos primórdios da Revolução Industrial, relembram-se debates acalorados entre posições contrastadas que exprimiram as inquietações e as dúvidas de quem as experimentavam a partir de posições sociais diversas.
Se esta leitura incentiva e espicaça a sua imaginação, apareça na próxima 4ª feira, no CIU de Lisboa, no Picoas Plaza, pelas 17h30.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
A mecanização da produção tem que ser utilizada pela esquerda de forma a minar os interesses capitalistas.
Capitalismo vai (está) utilizar os meios de produção mecanizada contra os interesses da população não capitalista, ou seja, a esmagadora maioria...
O mundo que está a ser construído hoje é um mundo onde a larga maioria não tem lugar, a larga maioria não tem razão de existir!
Espero ter sido claro o suficiente...
Pegando na dica do Geringonço, reforço que se pode vir a colocar o "problema" de uma grande fatia da humanidade se tornar "excedentária" e "descartável" por não ser indispensável ao conforto dos ultra-ricos.
A larga maioria dos que nos lêem nunca se deve ter posto a questão de qual é a função ideológica dos filmes de zombies. Menos ainda pensam que a arraia-miúda é, na verdade, a massa de zombies de um futuro apocalipse em que serão inúteis, indesejados, uma chatice, dispensáveis e sobretudo "não-humanos". Alvos legítimos e justificados, portanto.
S.T.
«plataformas digitais monopolistas, ditas colaborativas, cuja principal inovação se encontra na promoção de novas formas de desqualificação e desvalorização do trabalho.»
Se me explicarem a relevância do parágrafo acima para a desvalorização da ameaça da automação, provavelmente ficarei curioso de saber mais sobre o assunto.
Caro José,
Nada como aparecer no debate ou ler os textos apensos...
Enviar um comentário