A edição portuguesa do Le Monde diplomatique de Março traz a recensão que fiz do livro do Ricardo Noronha "A Banca ao Serviço do Povo". Segue abaixo um excerto:
"Ricardo Noronha encontra na intervenção em massa dos trabalhadores a chave para desvendar um dos grandes enigmas do PREC: a nacionalização do sistema bancário em Março de 1975 e a sua longevidade. Note-se que a nacionalização da banca não constava no programa do MFA. E que Assembleia Constituinte que inscreveu a irreversibilidade das nacionalizações na Constituição de 1976, já depois de ultrapassada a fase revolucionária, era composta em mais de 85% por deputados eleitos pelo PS, PPD/PSD e CDS. Ainda assim, a propriedade pública da banca foi assumida como eixo fulcral do novo regime. Só uma década e meia mais tarde e após duas revisões constitucionais a banca comercial voltaria a mãos privadas, servindo então de base à reconstituição dos grupos monopolistas. Nas palavras do autor, foram as lutas sociais que criaram o plano inclinado para que a “transição socialista” se tornasse o único programa concretizável.
“A Banca ao Serviço do Povo” põe assim em causa dois vícios habituais nas narrativas sobre o 25 de Abril e o PREC: a focalização excessiva nos “pais fundadores da democracia” e nos processos políticos institucionais; e a menorização do envolvimento de centenas de milhares de pessoas sem rosto que fizeram a revolução portuguesa. Este é o grande contributo deste livro. A forma vivida como descreve este período único da história portuguesa é só mais uma boa razão para o ler."
domingo, 10 de março de 2019
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5 comentários:
"...focalização excessiva nos “pais fundadores da democracia”..."
Melhor: "...de esta democracia...".
Na verdade mais tarde ou mais cedo perceber-se-á até que ponto se fundou uma, esta "democracia", tudo bem, mas "desde que seja eu a mandar".
Pois é, é assim mesmo.
O tal MFA e um ano de minagem esquerdalha dos quartéis, a sua Assembleia dominada por um bando excitadíssimo pela recente ameaça de verem a sua imbecilidade devolvida aos quartéis, não tiveram nada a ver com isso.
Foi a clarividência das massas trabalhadoras que discerniu a importância do controlo da Banca e a entregou a um bando de bancários auto-promovidos a gestores, que por anos sustentaram fulgurantes nacionalizações e, mediante módicas comissões, mantiveram largos sectores de quase-médias, pequenas e pequeninas empresas a funcionar, enquanto que a economia, estimulada por uma generosa impressão de papel, afanosamente tratava de se desequilibrar.
Gostaria de saber porque e que não bloqueiam este troll.
Percebo a importância de ter aqui (como em todo o lado) opiniões diversas mas, se fosse frente a frente, este tipo de discurso não seria permitido e também não o deveria ser aqui.
Tem esperança Ó das 10:42, já não é raro que alguns o façam, e com a proximidade de eleições é bem possível que te façam a vontade e te reconduzam ao doce apascento da uniformidade.
José, o melhor é mesmo ler o livro. As suas críticas serão certamente mais certeiras.
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