terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O euro do nosso descontentamento

“Em vinte anos, o euro trouxe prosperidade e proteção aos nossos cidadãos”, declarou Jean-Claude Juncker. O Presidente da Comissão Europeia também disse um dia que a mentira é necessária quando as coisas ficam difíceis. As coisas ficaram difíceis nestes vinte anos. E daí que a mentira se tenha tornado necessária também em Portugal.

Este é o mote do artigo sobre os vinte anos do euro que escrevi para a revista Exame. A mentira política, ou pós-verdade, como se diz agora, tal como a pós-democracia, tem também origens monetárias europeias.

8 comentários:

Jose disse...

Não percebi.
O nível de vida deteriorou-se nos últimos vinte anos?

Geringonço disse...

O nível de vida deteriorou-se nos últimos vinte anos? Pergunta o Jose.


Para tipos como tu, que nada produzem e que vivem de rendas, têm sido óptimos anos a viver acima das possibilidades de quem trabalha!

vitor disse...

Se o custo de vida subiu muito mais que os salários...

Geringonço disse...

“Em vinte anos, o euro trouxe prosperidade e proteção aos nossos cidadãos”, declarou Jean-Claude Juncker.


É um misto de mentira deliberada e pura fantasia por parte do fanático europeísta Junker.
Obviamente, Portugal é hoje um país mais pobre, qualquer pessoa que vive do seu trabalho sabe isso.

E se Portugal não fosse hoje um país claramente mais pobre a emigração de centenas de milhar não teria acontecido, a precariedade não era o que é, um cancro social, a taxa de natalidade não teria colapsado (reflexo das vidas precárias daqueles em idade reprodutiva) e outras patologias sociais que uma pessoa minimamente consciente sabe que existem e não nega a sua existência!

Portugal é um país submergido no desalento, os fanáticos europeístas não vêm isto (e não querem ver) porque estão-se nas tintas para a pessoa comum. Os europeístas vivem numa bolha sustentada por aqueles que deliberadamente ignoram!

S.T. disse...

Um outro balanço dos vinte anos do euro:

"Ashoka Mody – On the euro’s 20th birthday, Draghi’s tribute perpetuates long-refuted myths”

"Ashoka Mody - No aniversário dos 20 anos do euro, o tributo de Draghi perpetua mitos refutados há muito tempo"

https://braveneweurope.com/ashoka-mody-on-the-euros-20th-birthday-draghis-tribute-perpetuates-long-refuted-myths

Excertos:

"The Giavazzi-Giovannini empirical finding—as distinct from their preferred conclusion—would not have been a surprise to Otmar Emminger, president of Germany’s Bundesbank, who had noted some years earlier that exporters routinely and inexpensively hedged against foreign currency risk. In 1993, in a now-classic Journal of Literature article on the proposed monetary union, the University of California, Berkeley, economist Barry Eichengreen challenged those who claimed that transactions costs of converting currencies limited international trade."

"A descoberta empírica de Giavazzi-Giovannini - distinta (e oposta!) da sua conclusão preferida - não teria sido uma surpresa para Otmar Emminger, presidente do Bundesbank da Alemanha, que havia notado alguns anos antes que os exportadores rotineiramente e com baixo custo se protegiam (hedging) contra o risco cambial. Num artigo agora clássico do Journal of Literature sobre a união monetária proposta, Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, desafiou aqueles que alegavam que os custos das transações de conversão de moeda limitavam o comércio internacional. "

"Draghi repeats the persistent European mantra that the risk of continuing devaluation of the Italian lira would have deterred German exports to Italy. Well, the evidence is in. The euro fixed the lira’s value vis-à-vis the D-mark, and German exporters lost interest in the Italian market regardless. Draghi further claims that “value-added chains”—the dispersal of intermediate production steps across countries—requires a single currency. Yet, value-added chains are most extensive with the three non-euro countries with whom German trade has grown most rapidly."

"Draghi repete o persistente mantra europeu de que o risco da continuada desvalorização da lira italiana teria desencorajado as exportações alemãs para a Itália. Bem, a evidência está aí. O euro fixou o valor da lira em relação ao marco alemão e os exportadores alemães perderam interesse mesmo assim no mercado italiano. Draghi também afirma que as "cadeias de valor agregado" - a dispersão de etapas de produção intermediárias entre países - exige uma moeda única. No entanto, as cadeias de valor agregado são mais extensas com os três países não-euro com quem o comércio alemão cresceu mais rapidamente."

Enfim, são mitos económicos a serem desfeitos uns atrás dos outros.

Boa leitura!

S.T.

S.T. disse...

É da minha vista ou não se encontra nenhum artigo de João Rodrigues na Exame? :(

S.T.

Lowlander disse...

Excelente artigo caro ST.

S.T. disse...

O interesse do artigo que cito acima é que não é todos os dias que a argumentação de um presidente de banco central é claramente refutada.

Isso vem dar peso à tese de que Dragui presentemente está neutralizado pelos acontecimentos.
Esgotou os truques do reportório e vai-se limitar a manter o status quo até ao fim do mandato.

Coloca-se, evidentemente, desde há algum tempo a questão da sua sucessão. Creio que foi o italiano Tria quem maquiavélicamente reabriu a possibilidade de apoiar a candidatura de Jens Weidmann do Bundesbank, no que pode ser interpretado como uma tentativa de exacerbar os problemas para os levar ao ponto de ruptura. Jens Weidmann, recorde-se, é um genuíno ignoramus de política monetária, espelhando as parvoeiras ordoliberais dominantes na classe politica alemã.

Entretanto as "reformas" do euro recentemente aprovadas garantem a de facto exclusão da Itália do ESM porque as condicionalidades impostas são absolutamente inaceitáveis para o governo italiano.

Desenha-se portanto uma situação em que qualquer acontecimento inesperado pode desencadear um processo irreversível de ruptura.

S.T.