sábado, 12 de janeiro de 2019

A «narrativa do caos» e o acesso à saúde

Na apresentação da proposta de Lei de Bases da Saúde do PSD - e para defender nas entrelinhas (ou mesmo fora delas) - o reforço da contratualização do Estado com o setor privado, Ricardo Batista Leite considerou não ser aceitável a situação atual, em que, segundo o deputado, «temos o governo a vangloriar-se com um aumento do número de idas aos serviços de urgência dos hospitais», quando esse aumento «é um reflexo de que as pessoas estão mais doentes e não têm as respostas de que precisariam por exemplo ao nível dos cuidados de saúde primários».

Percebe-se a ideia: segundo a direita, o «caos» em que o governo mergulhou o SNS é de tal ordem, que a insuficiência e a degradação da capacidade de resposta dos Centros de Saúde e USF está a entupir as unidades hospitalares, tornando o sistema disfuncional e evidenciando a necessidade de contratualizar, numa lógica de proximidade, o equipamento de saúde que estiver mais perto, seja público ou privado.

Sucede porém que é no tempo do governo PSD/CDS-PP que este retrato, traçado por Batista Leite, tem adesão à realidade. De facto, é na rede de proximidade (centros de saúde e USF) que se regista, entre 2011 e 2015, a maior quebra no número de consultas (-7,0%), em contraste com o seu aumento ao nível das unidades hospitalares (+7,8%), num quadro de redução global da resposta (-3,2%). Pelo contrário, é com o atual governo, suportado no parlamento por uma maioria de esquerda, que não só aumenta o total de consultas (+2.1%), como esse aumento se regista tanto ao nível dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) como à escala das unidades hospitalares.


Deve aliás recordar-se que foi o com o atual governo e com a atual maioria de esquerda que se reduziram montantes e se alargaram as isenções de pagamento de taxas moderadoras, isentando por exemplo os encaminhamentos efetuados na sequência de contacto através da Saúde 24, contribuindo para uma maior racionalidade no sistema e redução da pressão sobre as unidades de CSP (e, numa segunda linha, das urgências hospitalares). Contudo, e apesar dos problemas que persistem, esta melhoria no acesso e funcionamento do SNS não serve, naturalmente, os interesses de uma direita ávida pelo aumento da «cooperação» com o setor privado, a expensas do Estado. Como bem assinalou Jerónimo de Sousa no debate de ontem na AR, a direita «tem desenvolvido uma campanha contra o SNS que visa, em última análise, a sua destruição. São horas de noticiário, páginas de jornais, como se os problemas do SNS fossem uma fatalidade. Como se não estivessem em causa eles próprios, como grandes responsáveis pela situação criada».

8 comentários:

Jose disse...

Valham-nos as estatísticas!

Jose disse...

E o que dizem as estatísticas sobre horas trabalhadas dos prestadores de serviços de saúde?

Tavisto disse...

A destruição do Serviço Nacional de Saúde com a emergência do dito sistema de saúde, não serve nem a “pobres” nem a “ricos”. Uns por não terem quem os trate os outros porque todos os querem tratar.

S.T. disse...

Se o senhor José tem alguma coisa a objectar em relação às matérias do post cabe-lhe fornecer as estatísticas em apoio das suas teses.

Como parece não ter nada de concreto, fica-se patéticamente pelas insinuações patetas.

S.T.

Jose disse...

O negacionismo da esquerdalhada com a questão das 35 horas é só mais uma das negações sobre que constroem o seu mundo imaginário.
Não aumentará custos dizia o inteligente máximo da geringonça.
Conduziu a melhoria do SNS dizem estatísticas avassaladoras.

Alice disse...

Com 350h por semana, então, José estaria no paraíso prometido.
E lá continua o espectáculo de um palerma bafiento a tentar defender práticas soviéticas.

Jose disse...

Só tens isso para dizer, Alice?
É poucochinho...

Al disse...

Hum... O retomar da atividade económica a partir de 2015, com o provável fim (ou estagnação) do exodo migratório, não terão nada a ver com estes numeros? Sem discordar da análise, tendo a pensar que mais fatores devem influenciar a utilização de serviços públicos, para além de factores "endogenos" ao setor, por assim dizer.