quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A questão da educação

Há dois indicadores particularmente eloquentes para retratar a questão da educação em Portugal. Refletindo o atraso estrutural neste domínio, eles expõem de forma clara os principais problemas e desafios com que o país se confronta e que se avolumam quando projetados no quadro europeu. De facto, como mostra o gráfico seguinte, Portugal é não só o país da União Europeia com a maior percentagem de adultos que apenas terminaram o 9º ano mas também, ao mesmo tempo, aquele que regista na UE a mais elevada percentagem de alunos que reprovaram pelo menos uma vez nos 6 primeiros anos de escolaridade. Mais: quando correlacionados, os valores obtidos distanciam-nos de modo significativo da Europa, incluindo os países que também se encontram acima da média obtida nas duas variáveis.


Estes dois traços estruturais da educação em Portugal são tanto mais relevantes em termos de política educativa quanto se sabe, como se sabe, que a escolaridade dos pais continua a condicionar fortemente o percurso escolar dos filhos. É o que demonstra, por exemplo, o estudo «Reproduzir ou contrariar o destino social?», de 2015, que conclui que «a classe social de origem e a educação dos pais» explicam «uma parte substancial das diferenças no desempenho educacional», propiciando a persistência «de mecanismos de desigualdade de oportunidades num quadro geral de democratização da educação». Outras análises, como as desenvolvidas no âmbito do Projeto Aqeduto (ver aqui e aqui, por exemplo), vão no mesmo sentido, mostrando que o sucesso escolar está estreitamente relacionado com as habilitações escolares dos pais e a situação económica das famílias.

Contrariar esta situação de partida implica a adoção de medidas que assegurem, de facto, o direito a uma educação de qualidade para todos. Isto é, políticas que garantam, por exemplo, o acesso e a equidade no acesso (promovendo a universalização da cobertura no pré-escolar e impedindo mecanismos de seleção de alunos), uma adequada organização pedagógica das escolas (assegurando a constituição de turmas heterogéneas e ajustando a sua dimensão ao perfil dos alunos e aos contextos em que os estabelecimentos de ensino se inserem), ou medidas que apostam no combate ao abandono e o insucesso escolar (reforçando o apoio a alunos com maiores dificuldades, promovendo a flexibilização curricular e valorizando a avaliação formativa e o desenvolvimento de competências, em vez da simples memorização de conteúdos). Isto é, um conjunto de medidas de política educativa como as que estão a ser seguidas pelo atual Governo e que reúnem amplo consenso junto da maioria parlamentar que o suporta.

Aliás, talvez deste modo se perceba melhor, considerando a situação de partida e as questões que a mesma suscita, por que razão as propostas políticas da direita, orientadas para a contração da oferta pública e para a erosão do papel regulador do Estado (como ficou claro no caso das moradas falsas), apenas agravam, em vez de resolver, os nossos défices e problemas. De facto, a liberalização da educação, associada ao reforço das lógicas de «liberdade de escolha» e «autonomia competitiva» das escolas, favorece o acentuar das dinâmicas de divergência cumulativa entre elas, fomentando assim a exclusão e a segregação de alunos em função do perfil socioeconómico das famílias.

10 comentários:

Jose disse...

«assegurando a constituição de turmas heterogéneas e ajustando a sua dimensão ao perfil dos alunos e aos contextos em que os estabelecimentos de ensino se inserem» - a doutrina dos coitadinhos em acção.
Os não problemáticos sempre postos ao serviço dos coitadinhos.

E nada mais interessante do que discutir os problemas do apoio doméstico com filhos de grunhos à mistura com filhos de académicos; e reuniões de pais interessantíssimas...
ajustando ao perfil e contexto, naturalmente, pela mais perfeita conversa da treta esquerdalha.

Alice disse...

José, vejo que continua empenhadíssimo em defender o dever dos pobres de continuarem a ser pobres, como ainda defende o "nosso" direito de que o sejam, mas bem longe da nossa vista e das "nossas" imaculadas toalhas de crochet.

Jose disse...

Alice, sem surpresa, usa exactamente a linguagem que releva o trágico pseudo idealista da ideologia dos coitadinhos, associando-lhe os símbolos mais ridículos.

Todo o esquerdalho acredita que se não organizar um qualquer modo de influir a vida dos outros esses nada alcançarão e tudo ficará como dantes.
O mundo evoluiu ao longo de milénios sem esquerdalhos, mas agora, sem que estes montem os seus enredos idiotas nada nem ninguém mudará.
A grande novidade é que sempre haverá ricos e pobres, pobres que ficam ricos e ricos que ficam pobres.
E se a sociedade tem meios de ajudar os pobres, não é pela organização de coctails heterogéneos que uma tal ajuda se tornará mais eficaz.

Anónimo disse...

Alice

Usou a linguagem adequada.

Esse tal Jose usou também a sua linguagem apropriada, a da sua classe. A linguagem dum patrão grunho, a defender o privilégio de grunhos e classificando os demais como grunhos.

E com pavor de não haver pobrezinhos para uso de mão-de-obra barata.

Porque geralmente os grunhos patronais necessitam destes para a obtenção dos seus proveitos.

Basta ver o medo a escorrer-lhe das faces Con esta linguagem patibular, a espremer-se invocando grumhos e esquerdalhos desta forma desconexa.

Anónimo disse...

Quanto aos coitadinhos em uso na linguagem deste Jose Mais ou Menos.

Trata-se apenas da bajulice habitual deste para com Passos Coelho.

Desde que Passos usou o termo no início da sua governação criminosa este Jose não tem feito outra coisa senão repetir o estribilho.

Agora a bajulice a que se associam a admiração e devoção habituais nestas coisas vai ao ponto de promessas de voto e tudo

Confirmando que o voto dos saudosistas da PIDE e de Salazar prefere o PSD que temos. Sob a chefia dum traste criminoso sem escrúpulos que cumpre a agenda neoliberal da ordem

Anónimo disse...

«a classe social de origem e a educação dos pais» explicam «uma parte substancial das diferenças no desempenho educacional», propiciando a persistência «de mecanismos de desigualdade de oportunidades num quadro geral de democratização da educação»

Nem mais.

Quanto aos filhos de académicos e aos filhos de grunhos... O que dizer desta miséria?

Anónimo disse...

A ignorância de quem se arroga ao direito de chamar de grunhos os demais tem também destas coisas.

Parece que antes era o paraíso: não havia "esquerdalhos" como regista Jose Mais ou Menos, naquele seu pulsar cego de baba raivosa com os ditos.

Uma pena que o paraíso já o não seja.

Sabe-se como o antecessor de Jose Mais ou Menos tratava o tema vertente há meia dúzia de séculos:

"A grande novidade é que sempre haverá escravos e senhores"

O esclavagismo foi posto em causa. Para mágoa profunda dos Joses mais ou menos e dos seus interesses de classe.

Vieram alguns depois e acenaram com os mantras religiosos. E nos seus púlpitos proclamaram trovejantes que "pobres sempre os houve e haverá".

Percebe-se porquê.

Num espectacular mortal â rectaguarda este Jose Mais ou Menos tenta dourar a pílula acrescentando esta sua nova máxima:
"pobres que ficam ricos e ricos que ficam pobres"

Momentos antes tinha dito, naquele seu jeito de defensor da casta e da honra nobiliárquica que " filhos de grunhos à mistura com filhos de académicos" ...

Adivinham-se os ais suspirosos e os sais inalados, os olhos revirados e os trejeito de mão ...

Alice disse...

"O mundo evoluiu ao longo de milénios sem esquerdalhos, mas agora, sem que estes montem os seus enredos idiotas nada nem ninguém mudará."

Os seus comentários demonstram que o mundo pouquíssimo evoluiu e que, por alguns, até voltávamos à escravatura.

A sua ignorância histórica é que é trágica.

Jose disse...

A coragem com que o Cuco desafia o ridículo tem-se por notável...até que se considere que sem os seus mantras o mundo é-lhe incompreensível.

Anónimo disse...

Cuco?

Que inquietação esta?

Mas porque em vez de se refugiar no seu cuco, como se fosse um Tina pessoal e fantasmagórico, este Jose não responde ao que se debate?

Os seus grunhos agora foram convertidos nesta espécie de mamar doce hipócrita e cobarde?
Para ver se passa o seu apurado sentido cívico e arte de rapinagem?