quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A ponta do golpe em curso

O discurso do Pontal de Passos Coelho foi uma defesa encapotada de um Bloco Central com um PS de direita. Foi uma chamada às armas para dentro de um certo PS e uma manobra de envolvimento de um certo PSD que habitualmente faz frente a Passos Coelho, como o próprio Presidente da República, e que trabalha arduamente na criação de um novo Bloco Central entre PS e PSD.

Uma jogada de antecipação - antes que as eleições autárquicas de Outubro de 2017 levem Passos Coelho - e de esvaziamento dessa ala do PSD que deverá se afirmar pós-eleições, em 2018. Mas foi uma tentativa sem muito jeito.

Daí as críticas à direita: para a próxima, Passos Coelho devia trazer um discurso escrito, o que é o mesmo que dizer que Passos nunca poderá ser a cara desse projecto de isolar a esquerda do PS e a esquerda à esquerda do PS. Mas o programa desconchavado desse envolvimento foi traçado. 

Delimitação de sectores. Passos quer um golpe constitucional (mais uma vez!) e obrigar o Governo a atar as suas mãos, como forma de impedir a “estatização", a "nacionalização”, sem que que haja uma maioria qualificada (leia-se, com o PSD) no Parlamento. Essa é a reforma do Estado que Passos (e não só ele) defende, mas que não teve coragem de assumir. Para colmatar as suas debilidades, tentou galvanizar os comentadores políticos e jornalistas que, de 2011 a 2013, o incentivaram - em vão - a ser mais célere na reforma do Estado: “Porque é que não se avançou nada na reforma do Estado? Por que não é reclamada no espaço público”.

Uma reforma laboral ao nível da empresa. “Era muito importante que nas empresas se chegasse a entendimentos entre quem lá trabalha e quem gere as empresas”. Até defendeu o papel da comissão de Trabalhadores da AutoEuropa... mas que, num “mau prenúncio”, “não conseguiu resistir à pressões dos grandes sindicatos”. A ideia nem é nova nem vem da ala do PSD. O actual ministro das Finanças  defende-a. Emmanuel Macron aprovou-a recentemente em França. Até Temer no Brasil, Que tudo se passe ao nível da empresa – onde a relação de forças é mais desequilibrada a favor da parte patronal. Tudo em detrimento de uma contratação colectiva. Ai esta palavra “colectiva” faz tanta comichão!

Reforma da Segurança Social. “Nós estamos disponíveis para dar confiança...” Claro que estão: contas individualizadas (proposta no programa de governo PSD/CDS), fim da solidariedade intergeracional, plafonamento de contribuições (Passos defende-o), redução das prestações sociais, aumento dos valores dos apoios às instituições não públicas, como o terceiro sector e o sector social...

Reforma educativa. Não se sabe muito sobre o que defende Passos, apenas o que o seu Governo fez e da guerra levantada aos cortes aprovados pelo actual governo aos apoios públicos a escolas privadas... 

Reforma da Saúde. Para Passos Coelho, a reforma que ele acha que fez foi... pôr as contas em dia com os fornecedores do SNS! O resto – a desarticulação e asfixia financeira do SNS, com redução de pessoal e contratação externa de especialistas através opacamente de empresas fornecedoras de trabalho (muitas vezes, contratando médicos que nem sabiam falar português...). Políticas que dificultam agora a actual governação, enquanto Passos Coelho quer cavalgar – desavergonhadamente – as críticas à realidade que ele contribuiu para aprofundar!

Pelo caminho de todo este programa de revisão do programa eleitoral do PS e de um golpe no acordo parlamentar, ficou mais uma vez aquela – má – técnica de criticar sem ter a coragem de dizer o que se quer.

Subida do emprego. Passos acha que a subida do emprego e a descida do desemprego se deve às reformas laborais feitas em 2012. Mas – integrando no seu discurso uma crítica feita à esquerda - achou por bem criticar que o emprego cresce, mas é um emprego de baixos salários, esquecendo-se que essa foi precisamente a finalidade essas reformas! Até na subida do desemprego, só que foi além do esperado... E agora essa política está de facto a dar frutos: mais emprego, com menos salários! E isso acontecendo mesmo dos contratos permanentes. Porque é que, na sua opinião, isto acontece? Não disse! Para Passos, se os salários não crescem, isso deve-se ao facto de o actual Governo... não fazer mais reformas laborais. “O que fazer para termos rendimento a crescer? Era necessário prosseguir reformas”, disse. Mas quais? Não disse!


Modelo de economia: Passos criticou António Costa por ter defendido na oposição uma economia de salários altos, quando na realidade, com Costa no Governo, o emprego apenas tem subido, sem crescimento de salários. “São os baixos salários que estão a sustentar a economia”. Mas fica-se sem se saber se Passos critica mais Costa de falta de coerência ou de defender REALMENTE um modelo de baixos salários, que o deveria encher de contentamento porque essa foi precisamente a finalidade das reformas de 2012 e seguintes: uma desvalorização interna (salarial) e que concretizou, entre outras medidas, através de um corte nas remunerações extraordinárias, no fim de descanso compensatório (transformado em tempo de produção), no fim de feriados e dias de férias (transformados em dias de produção), no corte nas compensações por despedimento e no subsídio de desemprego, na desarticulação da contratação colectiva e na demonização do papel dos sindicatos. Passos deveria, antes, abraçar Costa por estar a trabalhar num objectivo de direita... Mas como tem vistas curtas, não o faz. 

Capacidade reformista. Passos criticou Costa de não fazer reformas na segunda metade da legislatura. Talvez Passos devesse olhar para a sua própria segunda legislatura, quando a partir de 2013 e com o apoio da Troika - borregou tudo o que era suposto fazer. Reforma do Estado? Zero. Reforma da Segurança Social? Promessas para Bruxelas de cortes que nunca disse nem assumiu.

Passos Coelho - e nisso tão-pouco Assunção Cristas - nada disse do que defende. Mais uma vez, conviria que a comunicação social lhes perguntassem como faria se estivessem no Governo. Mas no concreto, que medidas adoptariam.

Passos esbraceja, mas afoga-se a cada dia. Outro - mais competente e envolvente - virá. Como vai o PS responder?

35 comentários:

Jose disse...

1) Reforma do Estado
Os reaccionários são atacados de urticária sempre que o tema é enunciado. O 'a caminho do socialismo' convoca essa comunada e anexos a um estado de negação! Tanta mama já alcançada...

Jose disse...

2) A empresa – onde a relação de forças é mais desequilibrada a favor da parte patronal.
Como podem os coitadinhos organizarem-se e aguentarem-se perante os horrorosos capitalistas sem os seus pastores?
E haveriam os coitadinhos de serem desiguais, de não fazerem parte de um só rebanho?
E o que seria dos pastores? Ainda acabavam a ter que trabalhar.

Jose disse...

3) Fim da solidariedade intergeracional.
E os esforçados revolucionários de Abril, que já parasitaram três gerações? Haveria lugar a uma tal injustiça a tão sacrificadas vítimas da pesada herança.
Empurrar a dívida é o desígnio nacional, assim os credores compreendam a justiça de uma política sem alternativa (TINA em língua para credor entender).

Jose disse...

4) Educação - como pode alguém duvidar que o papel de Grande Educador do Povo compete aos agentes do Estado?
E se a Constituição for lida como deve ser lá se pode encontrar esse pensamento do grande Timoneiro.

Jose disse...

5) Saúde
A geringonça é vítima das políticas desse maléfico Coelho mais as suas "Políticas que dificultam agora a actual governação".
Vá lá que repuseram as 35 horas e voltaram a atrasar pagamentos aos fornecedores e assim conseguiram salvar alguma coisinha!

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
Está a ter um mau dia?

Jose disse...

6) Emprego
O maléfico PPC desatou a seduzir turistas para pôr os portugueses de bandeja na mão a ganhar poucochinho.
A extraordinária confiança criada pela geringonça no empresariado nacional e internacional fica assim travada por falta de mão-de-obra qualificada convertida às delícias da convivência intercultural.
A geringonça ainda não teve tempo, mas logo que o tenha, vai acabar com os contratos precários e vamos ser felizes para sempre com salários que vão crescer por decreto.

Jose disse...

Caro João
Ainda está muito calor para ir regar o pomar.
As peras estão excelentes e as maças e os figos já estão a chegar.

Jose disse...

7) Modelo de economia
Há que dar alguma compreensão ao PPC.
Pois não é que o tiram do poleiro para manter o essencial da sua política e fazer a festa com uma pequena parte daquilo que ele disse que ia fazer?

Convenhamos que a decepção por não ver a alternativa tão pomposa e seguramente anunciada pela élite esquerdalha pode levar qualquer um, quanto ao Costa, a suspeitar que está a lidar com um charlatão.

Anónimo disse...

Ahahahah

Um excelente resumo do dia do Jose

Que se passa então com Jose?

Que destrambrelhamento é este? Que inquietação esta? Que desassossegos estes?

Há algo aqui de verdadeiramente pavloviano na forma como este jose reage quando lhe falam em Passos Coelho.


"Passos esbraceja, mas afoga-se a cada dia"

Jose esbraceja mas apoiará o próximo, da mesma forma esbracejante. E se for ainda mais à direita, ainda mais esbracejante.
E de bracejo em bracejo até ao 24 de Abril de 1974 em portugal ou a Maio de 1933 na Alemanha



Geringonço disse...

Passos Verme Coelho defende aquilo que ele e a sua quadrilha sempre defendeu, o empobrecimento da maioria e a concentração de riqueza e poder nas mãos de uns quantos.

Passos Parasita Coelho mantém-se fiel à seita de Milton Friedman e Salazar!

Passos Psicopata Coelho chegou a dizer para as câmeras que Portugal tinha que empobrecer, hoje já não diz isto, mas não diz não é porque não acredita é porque a paciência da generalidade da população para este tipo de retórica é pouca ou nenhuma.

Os media não confrontarem Pedro Facho Coelho com os resultados miseráveis da sua governação e com as mentiras que vai contando não surpreende, a cumplicidade dos media com o neoliberalismo é mais que evidente...

José Fontes disse...

Caro João Ramos de Almeida:
Engana-se, o troll João Pires da Cruz, vulgo José (às vezes JGMenos), é sempre assim.
Os dias do cromo são sempre iguais.

Jose disse...

Muito feio sistema de publicação à la carte!

José Cruz disse...

Chamar pastores aos gestores, CEOs e outros senhores.Oh,homem isso não se faz!É desprestigiante e custa um dinheirão, muitos digitos acima da inflação.

José Cruz disse...

Desconheço qualquer tratado em que seja referida a paralisia geracional,como doença ou mal crónico e social,sabe?Agora se estiver atento à delapidacao de património que os empresários,gestores e outros senhores têm vindo a cultivar,chegará e depressa a perceber o significado de parasitismo nacional.

José Cruz disse...

A educação,ou a falta dela,depende pouco da Constituição, como atestam muitas intervenções públicas e muitos comentários.

Jose disse...

José Magalhães às 9:50.

Quanto à delapidação, tudo o que conheço ou é consentido/promovido por agentes do Estado ou são puras vigarices generosamente acolhidas no texto e espírito da lei, começando pelo 35º do CSC, que suspenso à nascença, renasceu transfigurado para manter o mesmo efeito, se resolverem roubar, roubem tudo!

Jose disse...

Quanto à paralisia geracional, não é esse o diagonóstico: a propaganda à TINA é um sucesso de tal monta que só os credores a podem suster - aconteceu no tempo da troika, e com grande resistência - e só na próxima edição voltará a acontecer.

Jose disse...

Pastores de um só rebanho...sai-lhe o desentendido exagerado.

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,

Se assim é que gosta de ser chamado, não tenho nada contra.

Tem razão, quanto ao facto de parte da política de PCC ter sido mantida. Se bem que parte da própria política de PCC não foi mantida - até pela troika - porque estava a correr mal, com um desemprego acima do "esperado"...

Portanto, pode dizer-se que a parte que está correr bem não é já bem fruto da política de PCC (que foi forçado a mudar, até pelo TC) e que até poderia correr melhor se o Governo não aceitasse tão bem défice nulos (com cortes ao investimento público e manutenção de um elevado peso da dívida pública) e pacotes laborais degradantes.

Mas essa é precisamente a parte de que PCC se deveria orgulhar. Mas que convém não dizer muito alto porque é parte mais errada e ineficaz da actual política: cortes de investimento público, degradação de serviços públicos e salários baixos...

Jose disse...

Caro João,
O que reconheço no PPC é uma mais elevada propensão para encarar a realidade do que o resto da manada. E na miséria da choldra isso é de enorme importância.
Que não são brilhantes a dar resposta aos contorcionismos gerigonços parece-me claro, mas o coral geringonçoso não é despiciendo nesse resultado.

José é um dos meus nomes e o g em JgMenos é um dos meus apelidos.
O Menos tem uma origem simples: nos inícios da www subscrevi uma conta de email; ofereceram-me mais uma, chamei-lhe Mais; subscrevi uma terceira chamei-lhe Menos.
O LdB haveria de dar um nº de ordem, que manteria, a todo o email que se declarasse Anónimo.
Temos o ridículo de idiotas sempre Anónimos a especular com nicks e trolls enquanto cobardemente se multiplicam em comentários sem qualquer identificação.

Anónimo disse...

A paciência do João é de louvar.
O seu sentido de ironia também.

Permite por exemplo apanhar um verdadeiro troll a empurrar com a barriga a designação de trolls para os demais.

A empurrar com um tom que se assemelha, verdade seja dita à de Passos Coelho, ou seja entre o crispado e o lamuriento. O que como ze sabe contraria logo os mandamentos do próprio ex- primeiro-ministro

Jose disse...

Cuco, és o exemplo da cobardia do anonimato.
Entre a bajulice aos postadores do LdB e baboseira continuada vais empestando o que poderia ser um espaço de debate.

Anónimo disse...

Não passa.

"O que reconheço no PPC é uma mais elevada propensão para encarar a realidade do que o resto da manada. E na miséria da choldra isso é de enorme importância"

A elevada propensão para encarar a realidade de PPC tem algo a ver com "o conhecimento directo de casos de suicídios" em Pedrogão Grande?

Anónimo disse...

A expressão "manada" pode estar emparelhada com "a elevada propensão para encarar a realidade de PPC", segundo o alto critério de Jose ou de JgMais ou mesmo de JgMenos.

Ambas definem um estilo e um argumentário.

(Tal como o termo "choldra". Mas este tem créditos literários.

Parece estranho todavia esta lembrança de Eça por um tipo que o detestava...

Estranha muleta de facto).

Anónimo disse...

Chama a atenção a espécie de queixume de Jose ou JgMenos ou JgMais ou tudo o que ele quiser, a propósito da "falta de números de ordem" para os comentários de "anónimos".

Este queixume é recorrente. Mais uma vez se relembra que o importante é o que se discute e que se aborda, a troca de ideias e o confronto de opiniões. Não propriamente quem diz, o seu estado civil ou o volume do seu abdómen. Registe-se que o anonimato se mantém atrás de Mais e de Menos. Que a utilização de vários nicks não "anónimos" é hábito regular no meio em que Jose ou JgMenos, ou JgMais se move ( já lá iremos). Que o primado do tom civilizado deve ser um hábito, embora se reconheça que por vezes a contenção é necessariamente ultrapassada.
Sabe-se que as regras do jogo são públicas e que, embora variando de blog para blog, mantém-se regra geral estáveis ao longo do tempo.

Sabe-se que Jose ou JgMenos ou JgMais ou o que ele quiser sempre gostou desta estória de números de ordem. Para manter a Ordem. José é um apologista da Ordem. Logo dos seus números

Outros também o foram. Era habitual dar um número de ordem aos prisioneiros dos campos de concentração. Um número e um símbolo com uma determinada cor

Anónimo disse...

Sabemos hoje que a utilização de vários nicks não "anónimos" é hábito regular no meio em que Jose ou JgMenos, ou JgMais se move.

Porque interessa desmontar a tese da mantida honorabilidade de quem agita um nick, porque interessa saber um pouco mais quem é Passos Coelho, juntemos estes dois elementos para ficarmos a conhecer a "elevada propensão" de tais personagens.

Ouçamos um pouco a história digital dos bastidores da chegada de Passos Coelho ao poder e da queda do Governo socrático na rede. Onde se fala de manipulação de fóruns das rádios e TV´s, de condicionamento de debates. Pela voz de um dos seus mentores.

Consultor de comunicação, Fernando Moreira de Sá,(FMS), regionalista ferrenho, foi um dos "voluntários" que, nos bastidores, trabalhou a caminhada política do ex- primeiro-ministro na blogosfera e nas redes sociais, estratégia efetuada com recurso a informação privilegiada e campanhas negras contra adversários. Rosto das empresas Comunicatessen e da Callaecia, parceiro da Nextpower (a que estão ligados Rodrigo Moita de Deus, da Comissão Política Nacional do PSD, e João Paixão Martins, filho de Luís Paixão Martins, da LPM), Moreira de Sá foi mais longe e desvendou alguns segredos do caminho que levou Passos Coelho ao Governo

Pergunta (P):A comunicação digital foi decisiva, na ascensão de Pedro Passos Coelho?

FMS: Em 2009, o PSD era o mais digital dos partidos. Nessa época, os blogues estavam no auge, o Twitter já tinha alguma força e o Facebook engordava. Os principais blogues de política tinham uma audiência média diária de 30 mil pessoas. Blogueres como Carlos Abreu Amorim ou Daniel Oliveira tinham saltado para as televisões e o PS e o PSD começaram a credenciar blogueres para os congressos. Tudo estava maduro para se fazer o que se fez. Nos jantares de blogueres que Passos promoveu na campanha interna, dizia-se que tudo o que viesse acima de 40% a 45% de votos era devido à malta dos blogues. Ele teve 60 por cento.

P: Quem definiu essa estratégia?

FMS: Não posso provar, mas desconfio que o mentor foi Miguel Relvas e tiro-lhe o chapéu. O António Nogueira Leite, o Carlos Abreu Amorim, o Rodrigo Saraiva, o João Villalobos, o Fernando Moreira de Sá, etc.

P: Havia um núcleo duro em Lisboa e outro mais voluntário no Porto?

FMS: Sim, mas isso já muito mais próximo das eleições diretas no PSD. O pré-diretas é a criação do blogue Albergue Espanhol.

FMS: fomos o braço armado para, dentro do PSD, e através do digital, desgastar Manuela Ferreira Leite e os adversários do Passos. Até fizemos de bombeiros do Aguiar Branco. Queríamos que ele fosse até ao fim..."

(Cont)

Anónimo disse...

P: Albergue, estratégia digital, projeto político. Como funcionava, no dia-a-dia?

FMS: Por exemplo: existia um mail acessível a um grupo fechado, através do qual recebíamos informações, linhas gerais, provenientes de quem estava a preparar o programa do Passos. No início, nem sabíamos quantos éramos. Cada um desenvolvia aquilo, nas redes sociais e na blogosfera, à sua maneira. Utilizávamos isso no Fórum da TSF, no Parlamento Global, da SIC, no Twitter, etc. No último confronto televisivo entre os três candidatos à liderança [Passos, Aguiar Branco e Rangel], condicionámos o debate. Só eu tinha três computadores à minha frente, em casa, além do telemóvel. Antes do debate, já tínhamos tweets preparados para complicar a vida ao Rangel. Nos primeiros minutos, começámos a "tuitar" como se não houvesse amanhã, dizendo que o Rangel estava nervoso e mais fraco do que o esperado. Criou-se um ambiente negativo que se propagou rapidamente. Ao fim de cinco minutos, ríamos até às lágrimas! Até opinion makers repetiam o que dizíamos! E o debate tinha apenas começado...

P: Conquistado o PSD, o que seguiu?

FMS: As coisas melhoraram. O leque de blogueres foi alargado. Nas diretas, tinha havido um call center, que quase todos os partidos usam, para telefonar aos militantes, em Lisboa. Para as legislativas, foi no Porto. Nessa altura, o Nogueira Leite torna-se muito influente no Facebook e o Carlos Abreu Amorim no Twitter. Havia voluntários a defender as posições do Passos, mas sobretudo a atacar o Governo PS, no Fórum da TSF, na Antena Aberta, da RDP, e nos debates dos canais por cabo. Alargou-se a influência mediática.

P: O mail "fechado" manteve-se?

FMS: Sim. Com mais força e mais filet-mignon informativo.

P: Quem fazia chegar essas informações?

FMS: Não vou dizer. Essa pessoa também não diz quem lhe fazia chegar a ela. Mas não sou parvo: por trás disto tinha de estar Miguel Relvas, um visionário quanto à importância das redes sociais para levar o Passos aonde chegou. Não éramos anjinhos. Sabíamos bem ao que íamos.

P: Como se trabalhou a campanha contra Sócrates?

A contrainformação era a praia do grupo à volta de Sócrates. Tínhamos nick names para as redes sociais, perfis falsos no Facebook e por aí adiante... Não há virgens nisto: em qualquer campanha eleitoral, existem centenas de perfis falsos, mas perfis com "vida", que incluem fotografias de "família", "clube de futebol", "gostos", etc. O segredo é ir pedindo "amizade" a pessoas da política e alargar os círculos de "amigos". Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo.

P: Os fóruns da rádio e da televisão são facilmente manipuláveis?

FMS: Completamente. Se for preciso, provo. Existem equipas só para isso, nos partidos e nas consultoras de comunicação que fazem assessoria política. As juventudes partidárias são uma boa base de recrutamento. Em 2011, o Sócrates foi ao Fórum da TSF. Decidimos entalá-lo e descredibilizar a coisa, exagerando nos elogios. Deu um bruaá enorme. O diretor da TSF teve de explicar-se por causa das críticas dos ouvintes, que consideraram aquilo uma coisa do tipo Deus no céu e Sócrates na terra. Deu-nos um gozo tremendo!
(Cont)

Anónimo disse...

P:O que aconteceu quando o PSD ganhou as legislativas?

FMS: Como os blogueres tinham sido muito importantes para a chegada ao poder, chamaram alguns para o Governo e suas imediações. Foi um erro.

P: Nomes?

FMS: Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias, e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o AICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc. Apenas o Aventar ficou imune."


Pode-se dizer que cobardemente multiplicam-se em comentários com identificação. Confessado pelos próprios. Com PPC mais a sua elevada propensão.

Anónimo disse...

Sabe-se todavia que há múltiplas causas para o anonimato, lastimado aí em cima por Jg Mais ou Menos. Umas mais compreensíveis do que outras, umas que podem ser consideradas como aceitáveis, outras reprováveis, umas até meritórias, outras nem tanto.

A primeira razão é todavia o direito de um indivíduo, respeitando as regras do jogo, o poder fazer. Dispensando-se as/os falsas beatas/beatos a pedir a identificação como noutros tempos ou a catalogação numérica para conforto das almas propagandisticas

Sabe-se também que o poder económico, o poder político, o poder do dinheiro têm o braço longo e que costumam estar vigilantes perante as ovelhas tresmalhadas que ousem perturbar o seu status quo.

Os exemplos são abundantes. O próprio autor da posta deste blogue poderia falar na sua experiência pessoal.

O que é cómico todavia é que o personagem que se agita inquieto perante os comentários anónimos, ele próprio considerado por variadíssimos bloggers como um verdadeiro troll, é à esquerda que se vai queixar quando se sente vítima da mínima censura.

Por vezes num tom que oscila entre a pusilanimidade e a quase choraminguice ( o que se torna mais desconfortável quando o ouvimos falar depois em "cobardia" e nos "piegas")

Quando foi pura e simplesmente removido um seu comentário no Aventar(!) por fazer a propaganda do fascismo aonde pensam que se foi queixar logo de imediato?
A um blog filo-comunista.
E o mesmo se passa/passava quando se sente/sentia ofendido pelos comentários mais virulentos dos bloggers que lhe respondiam à letra.

Um que ficou célebre, porque a queixa de JgMenos foi espalhada pelo próprio avidamente pela blogosfera (numa tentativa de vitimização, mais do que denúncia) referia-se a Aristides de Sousa Mendes (ASM) tido veja-se lá como um mártir esquerdista.

E rezava assim:

"A ameaça a um recém beatificado mártir da ‘esquerda’(ASM) desenterrado à pressa para impedir que o concurso televisivo do Maior Português de Sempre ( ou algo parecido) elegesse Salazar como de facto aconteceu, é assunto da maior gravidade!
Tanto maior é o perigo, e consequentemente o ruído, quanto a probabilidade maior é de cair do altar o santo e emergir a acção humanitária de Salazar!"

Temos agora assim três elementos para a elevada propensão para encarar a realidade




Jose disse...

Cuco às 23:57

D. Carlos consagrou a choldra, não como figura literária, mas como ajuntamento de gente ordinária com arroubos de pais-da-pátria.

Anónimo disse...

Cuco?

Que nos interessa o cuco ou os cucos perante a informação aqui disponível neste espaço de debate?

As questões permanecem. A gravidade do denunciado também.

Nem a fuga idiota para os braços de D Carlos, utilizador do léxiço queirosiano permite esconder as malhas que um tal Jose, ou JgMais ou JgMenos vai tecendo e se entretecendo.

Nem ocultar as bajulices a Salazar ou a postura de gente ordinária a saudar a acção humanitária do dito.

Anónimo disse...

(Quanto ao espaço de debate assim "chorado" dessa forma expressa pelo próprio Jose Mais ou Menos...

atente-se na leitura da série de "comentários" manhosos do sujeito. A postura de troll e a postura do ventre. O espaço de debate aparece assim traduzido em tanta inquietude e inquietação, em tanto destrambelhamento e idiotice que a pergunta surgiu imediata

"Está a ter um mau dia?")

Anónimo disse...

A culpa das gargalhadas é fundamentalmente de quem posta isto de um só fôlego, em perturbada missão missionária:

"Os reaccionários são atacados de urticária sempre que o tema é enunciado. O 'a caminho do socialismo' convoca essa comunada e anexos a um estado de negação! Tanta mama já alcançada...Como podem os coitadinhos organizarem-se e aguentarem-se E haveriam os coitadinhos de serem desiguais, de não fazerem parte de um só rebanho?E o que seria dos pastores? Ainda acabavam a ter que trabalhar.E os esforçados que já parasitaram três gerações? Haveria lugar a uma tal injustiça a tão sacrificadas vítimas da pesada herança.Empurrar a dívida é o desígnio nacional, assim os credores compreendam a justiça de uma política sem alternativa como pode alguém duvidar que o papel de Grande Educador do Povo E se a Constituição for lida como deve ser lá se pode encontrar esse pensamento do grande Timoneiro.A geringonça é vítima das políticas desse maléfico Coelho.Vá lá alguma coisinha!O maléfico PPC desatou a seduzir turistas.A extraordinária confiança criada pela geringonça no empresariado nacional e internacional fica assim travada convertida às delícias da convivência intercultural.A geringonça ainda não teve tempo.Ainda está muito calor para ir regar o pomar. As peras estão excelentes e as maças e os figos já estão a chegar. Pois não é que o tiram do poleiro Convenhamos que a decepção por não ver a alternativa tão pomposa e seguramente anunciada pela élite esquerdalha pode levar qualquer um, quanto ao Costa, a suspeitar que está a lidar com um charlatão.Muito feio sistema de publicação à la carte!Quanto à delapidação, tudo o que conheço ou é consentido/promovido por agentes do Estado, começando pelo 35º do CSC, se resolverem roubar, roubem tudo!Quanto à paralisia geracional, não é esse o diagonóstico só os credores a podem suster - aconteceu no tempo da troika, e com grande resistência - e só na próxima edição voltará a acontecer.Pastores de um só rebanho...sai-lhe o desentendido exagerado."

Que frenesim neste espaço de debate.

Adivinha-se que a crispação perante a denúncia do golpe em curso deixe desconfortável quem tome Passos como a chave do sucesso do referido golpe.

Ainda para mais quanto se suspeita que a promessa do voto no personagem seja a tradução da bajulice habitual entre tais confrades

Anónimo disse...

Mas alguém ainda ouve o Passos ?