quarta-feira, 20 de abril de 2016

As estranhas correlações do SMN

A Comissão Europeia insiste numa ligação entre o aumento do salário mínimo nacional e a subida do desemprego de longa duração (ver pag.28).

É mais ou menos o que vem traçado no gráfico ao lado. Para lá de os valores do desemprego pós 2011 não serem comparáveis com os anteriores (quebra de série do INE), o gráfico até está subavaliado: não tem em conta os desempregados que emigraram, os desempregados desencorajados, os desempregados ocupados (que são considerados estatisticamente como empregados). O número de desempregados seria, pois, muito mais elevado. E o papel negativo do SMN seria ainda mais gravoso.

Isso é o que se concluirá olhando para as linhas do gráfico. E para explicar aquela mimetismo de tendências, arranja-se uma teoria que em nada justifica a realidade: a subida do SMN estaria a puxar para cima os salários, dificultando o emprego de novos empregados, o que se traduziria em desemprego prolongado. Na realidade, o peso do SMN no conjunto da massa salarial é bastante reduzido. Não é isso que faz desincentivar o emprego e fazer crescer o desemprego de longa duração. O desemprego sobe desde 2000 por causas que são bem mais profundas e que a Comissão Europeia não quer ver porque não lhe convém: o projecto do euro não está a funcionar e alarga os fossos entre as economias do centro e da periferia.

Mas se é a simetria das linhas que torna convincente a teoria oficial, parecendo estabelecer uma relação de causa-efeito, arranje-se uma outra, que nada tem - igualmente - a ver com a realidade:


E então não é que o SMN favorece a competitividade externa das nossas exportações? Mas como, se as exportações apenas dependem do mercado externo? Arranje-se então uma tese: os trabalhadores estão mais contentes com mais rendimento, tornam-se mais produtivos e conseguem produzir melhor e com maior eficiência. Produzem mais, o custo salarial por unidade desce, o que se traduz em preços mais baixos. Irrealista?

10 comentários:

Anónimo disse...

Detonem com esta "União" Europeia de uma vez por todas!!

Já chega de tantas malfeitorias, os eurocratas são um bando de verdugos que infligem torturas à maioria da população!

Quantas mais vidas vão ter que destruir estes fanaticos para que se diga um basta definitivo?!

Anónimo disse...

Não, não e´ irrealista.
O problema e´ o egoísmo do explorador que a tudo se faz, agora descaradamente, para chegar ao topo da “pirâmide”. E pela ignorância do explorado…Que teima em ser explorado!
Logo apos a 2ª guerra mundial, o Topo das elites anglo-saxonicas, com apoio do Plano Marshall, diga-se, milhões de dólares made in USA, mais tarde o Eurodólar, para travar o avanço da cultura Soviética…criaram em ROMA a tal CECA-CEE da nossa desgraça. Implementaram na Europa uma cultura baseada na Hipocrisia.
E, e´ neste caldinho cultural que vivemos – ser Xico-esperto, ir a´ escola para que se eu nem sei ler-- viver a custa do parceiro. Cultura essa, que atingiu as camadas ditas superiores da sociedade portuguesa. Desculpem qualquer coisinha…de Adelino Silva

Anónimo disse...

Arranje-se?*

Paulo Marques disse...

Eu defendo que o SMN como está causa muito desemprego e problemas económicos no nosso país. Mas não é o nosso SMN, é o da Alemanha, que devia ser 30% ou 40% mais alto, senão também não se exporta nada porque não há quem compre.

Jose disse...

Ai as estatísticas, são tão interessantes, têm um ar tão científico!!
!
Longa duração é tendencialmente pouca qualificação ou qualificação desajustada ao mercado - nada que o aumento do salário mínimo favoreça em termos de emprego.

Para os empregados o aumento do salário ou dá desemprego, ou aumento de produtividade ou aumento de preços.

Em resumo, nunca o aumento de salário mínimo favorece o emprego!

Anónimo disse...

Pois as estatísticas são o que são.

Mas a sua confrontação com o pensamento religioso/neoliberal expõe de forma cruel os axiomas deste.

Ou seja a actos contrapõem-se "mantras ou "tretas" assentes em palavras de ordem saídas da estarrecedora ignorância em questões do Trabalho ou da pesporrência ideológica assumida.

Já sabemos que para este o que dá aumento do emprego é mesmo a colocação do dinheiro nos offshores

Anónimo disse...

A justificação do desemprego de longa duração é algo penosa:: pouca qualificação ou qualificação desajustada no mercado.
São uns malandros estes desqualificados ou estes qualificados que não olham para o mercado, esse deus todo poderoso que nos querem vender a todo o custo.
A crise sistémica deste modelo de sociedade é assim silenciada e escondida.Repare-se como daqui se parte para uma conclusão abstrusa. Enquanto se faz esquecer a condição de dignidade de quem trabalha, chulado de forma indigna que todos conhecemos.

Anónimo disse...

Atente-se neste mimo:
"Para os empregados o aumento do salário ou dá desemprego, ou aumento de produtividade ou aumento de preços".

(Não se riam mas aposta-se que é de quem diz estas nulidades que devem sair os "especialistas em trabalho ", "convidados" para fazerem o papel de evangelizadores junto das almas ignaras)

Sobra o resumo que não é resumo nenhum mas uma frase perfeitamente avulsa sem qualquer correspondência com as afirmações desconexas ditas acima pelo das 20 e 56. Isto é a prova provada por um lado do pensamento mágico entre as hostes neoliberais, mas por outro do assassinato em público da lógica mais banal.

Em resumo o que favorece o emprego é a manutenção da indigência e da pobreza, às escancaras ou em segredo, para se ter um exército de mão-de-obra barata.

Que diacho há que permitir que o capital acumule dinheiro suficiente para poder empatá-lo nos offshores. Esse sim é o verdadeiro desgraçado e não os pobres miseráveis que aspiram apenas a um punhado de moedas a mais para fazerem face às agruras da vida.

E ainda há quem diga que não há luta de classes


Anónimo disse...

correlation doesn't imply causation.

Jaime Santos disse...

Mas aquilo que está a mostrar nos dois gráficos é a subida nominal do SMN, não é? O que deveria ser mostrado é a subida real (que creio ser nula ou mesmo negativa desde os anos 70) do SMN. Depois, relativamente às exportações, qual é a proporção de trabalhadores dentro dos setores exportadores que realmente recebe o SMN?