sexta-feira, 22 de abril de 2016

Exames e aferição: regressar à Europa, regressar ao futuro

A Maria João Pires tem razão: ainda persiste, no discurso da direita, a ideia de que o fim dos exames constitui uma regressão e um sinal de facilitismo. No momento em que a discussão esteve mais acesa, Paulo Rangel chegou mesmo a referir-se a um «grande desastre educativo», qualificando a eliminação dos exames do 4º e 6º ano como um regresso do «eduquês» e do «laxismo», que rompiam com a suposta cultura do «rigor» e «exigência» de Nuno Crato. O eurodeputado até sugeriu que, com a substituição de exames por provas de aferição, Portugal passava a ficar isolado face aos «países mais desenvolvidos», ao não permitir que as crianças portuguesas competissem com as suas congéneres, num «mundo global altamente competitivo».

Se tivesse reparado nas tendências europeias ao nível da avaliação nos primeiros seis anos de escolaridade, Rangel teria contudo percebido que já ninguém faz exames precoces na Europa. Ou seja, as tais crianças dos «países mais desenvolvidos», melhor preparadas para enfrentar os desafios do mundo global, «altamente competitivo», afinal não fazem exames mas sim... provas de aferição.


De facto, era no início deste ano lectivo - antes da eliminação dos exames no final do primeiro e segundo ciclo do ensino básico - que Portugal se encontrava «orgulhosamente só» na Europa, apenas parcialmente acompanhado pela Bélgica francófona, que realiza exames e provas de aferição. E é ao diversificar as áreas disciplinares sobre as quais as provas de aferição incidem, para além de eliminar os exames, que Portugal regressa, num duplo sentido, à normalidade: no conjunto de países da OCDE em que é possível estabelecer comparações entre 2009 e 2015, aumenta não só o universo dos que recorrem à aferição, mas também o número e diversidade disciplinar de provas.


Tratou-se pois, ao contrário do discurso persistente da direita, de abandonar a ideia da avaliação como um fim em si mesmo e de regressar a um modelo que assume o seu valor pedagógico e a necessidade de identificar e corrigir atempadamente os problemas, de modo a melhorar as aprendizagens. É deste modo, recusando a obsessão precoce pelos exames, que uma sociedade se prepara verdadeiramente para os desafios do tal «mundo altamente competitivo» a que se referiu o eurodeputado Paulo Rangel.

16 comentários:

Anónimo disse...

E Nuno Crato, o campeão do rigor, lá encontrou o seu tacho no JRC, intituição que é suposto fazer a investigação que dá suporte às políticas europeias... Quo vadis credibilidade!

Stardust disse...

Uma prova de aferição vale 0% para a nota final, e um exame vale mais do que 0%.
No caso Português valia uma pequena percentagem da avaliação e como foi demonstrado tinha um pequeníssimo impacto na reprovação dos alunos.

O facto de ser considerado para a avaliação faz com que os resultados obtidos sejam mais fiáveis do que uma prova que "não conta", pois há um maior empenho de pais, professores e alunos.

Jose disse...

Os 'progressistas' indígenas caracterizam-se por sempre ignorarem o real e partirem para míticos futuros que os libertam de tratar do presente e os colocam sempre mais além, no terreno da irresponsabilidade que os conforta na sua imbecilidade.
Gabam-se os progressistas de através de uma propaganda de 'direitos' e 'progresso' terem agido sobre gente ignorante e rude levando-os de um conservadorismo estático para um universo de novas incompreensões e radicais libertações.
Conservadores eles mesmos, reacionários a toda a mudança de discurso, imaginam poder instituir modelos exigentes sem que as noções de 'dever', 'disciplina', 'sacrifício' conflituem com as propagandeadas libertações.
Os exames é a mensagem mais curta e eficaz de ultrapassar esse reacionarismo cultural que infesta o discurso público.

António Pedro Pereira disse...

José(zito):
Pobre(zit0) de espírito e de massa cinzenta.
Só não percebo é como é que tu, que foste sujeito ao rigor dos exigentes exames salazaristas, que te deram o diploma de licenciatura em analfabeto que te permitiu ser emigrante em França e apoiante da Front National, de Jean Marie Le Pénis, continuas tão ignorante como os hipotéticos ignorantes que tu descortinas nos que são (serão) sujeitos às incompetentes provas de aferição.
A bota não dá com a perdigota, José(zito).
Nem sabes ler um mapa e distinguir as cores?
Trocas o azul com o vermelho.
Cegueta, ainda por cima.
Irra!

Trata-te, que bem precisas.
Para ver se deixas de fazer aqui figuras ridículas todos os dias.

Anónimo disse...

cagalhão zé

mais uma vez, perante o óbvio e o demonstrado preferes vir com a tua cartilha de cagalhão que se resume sempre ao mesmo
uns perdigotos, uns insultos, uns axiomas não demonstrados,zero de argumentação e pronto, está feito !

grande cagalhão zé
na senda da libertação sempre a caminho do rio

Jaime Santos disse...

'Os exames é (sic) a mensagem (sic) mais curta e eficaz de ultrapassar esse reacionarismo cultural que infesta o discurso público.' Respire fundo e engula o ódio, e vai ver que consegue escrever um Português que lhe permitirá passar no exame de nono ano da disciplina. Realizado o exame e tendo ingressado no antigo Ensino Complementar e depois quem sabe no Ensino Superior, irá provavelmente adquirir o conhecimento necessário que lhe permitirá libertar-se do seu próprio reacionarismo cultural e ideológico e também da tendência para repetir sempre os mesmos chavões...

Anónimo disse...

O Paulo Rangel tem a mania que percebe de tudo e mais alguma coisa e por isso bota discurso e diz coisas sem qualquer apoio na realidade da vida, como é o caso.
Nem vale a pena estar a gastar latim com o fulano.
Claro que o seu compincha residente, o "Zéquinha das asneiradas" não podia deixar de, mandar mais umas quantas bacuradas a que já nos habituou. Com este também não vale a pena gastar latim porque o homem não percebe. Que o senhor lhe perdoe porque tanta asneira porque aqui já ninguém pode com o fulano.Adeus ó Melga.

Anónimo disse...


Em tempos que já la vão, logo apos a 2ª Guerra Mundial, fiz provas de aferição mensal e exames fim de ano letivo, mais tarde, (anos 60) como militar (da Marinha), fiz provas de aferição mensal e exames finais, fim de curso.
Tem graça, em tanto tempo decorrido nunca vi nem vejo agora, que uma prova seja superior (melhor) ao exame, e ou quais as vantagens do não-exame. Enfim, fico-me por aqui lamentando a minha ignorância…
Mas ainda la´ vou com esta tirada: O nosso atraso pouco tem «ou nada tem» a ver com os exames. Terá mais a ver com a pobreza (em todo o sentido) das famílias. E da avareza do homem rico mas pobre de espirito. E o normal ate aqui tem sido os filhos dessa avareza os governantes deste país… de Adelino Silva

Jose disse...

Boa, Adelino!
O terceiro parágrafo mantem-te dentro dos limites mínimos da tolerância progressista, mas safas-te por pouco!

António Pedro Pereira disse...

Caro Adelino Silva:
Tempos houve (no salazarismo/marcelismo) em que havia exames praticamente a todas as disciplinas (excepto Educação Física, Trabalhos Manuais, Canto Coral, Lavores, nos ciclos em que estas disciplinas existiam). Nem o Desenho escapava ao exame.
E na 3.ª classe do ensino primário (hoje 3.º ano do 1.º ciclo do ensino básico),
na 4.ª classe (hoje 4.º ano do 1.º ciclo do ensino básico)
no final do 1.º ciclo do ensino secundário (hoje 6.º ano do 2.º ciclo do ensino básico),
no final do 2.º ciclo do ensino secundário (hoje 9.º ano do 3.º ciclo do ensino básico),
no final do 3.º ciclo do ensino secundário (hoje 12.º ano ensino secundário).
Nem por isso ficávamos a ganhar na comparação com os restantes países da OCDE, espaço político e económico onde nos inseríamos.
Só ficávamos no pódio nas taxas de analfabetismo: em que tínhamos a medalha de ouro.
Um bom sistema educativo, com bons resultados, é uma obra que demora a construir, pacientemente, e para a qual contribuem vários factores.
Não se constrói com discursos puramente ideológicos, muito menos com actuações ao sabor dos donos temporários do poder.
Ainda menos com fanatismos do tipo do que o Crato pôs em prática, que varreu o sistema educativo à pedrada. Só foi generoso para com o ensino privado, cuja última tranche foi de 102 milhões de euros.
Os exames não são tudo, nem determinam a qualidade dos sistemas educativos, como se pode ver no mapa.
Mas os daltónico do tipo José(zito) não conseguem ver o azul dominante no mapa: dentro do qual há sistemas educativos com qualidade muito diferente uns dos outros.
Se a maioria destes países tivesse exames, o mesmo se passaria.
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P. S. Na lógica do José(zito) e seus amigos, antigamente é que era bom, os exames, só por si, é que davam sabedoria.
Então que me respondam: porque é que hoje tanta gente com muito mais de 50 ou 60 anos, muito deles até académicos bem conhecidos, que aprenderam na boa escola dos exames exigentes, fala e escreve tão mal?
Que grande enigma.

Anónimo disse...

A pesporrência sobranceira de quem acusa outrém de estar nos "limites mínimos da tolerância progressista", no que à sua escrita diz respeito, é sumamente reveladora.

Quem assim procede é quem há cerca de 12 horas escrevia esta pérola:
"Mas onde há poder à conta-poder"

Um exemplo chapado dum chapado exemplo

Anónimo disse...

'dever', 'disciplina', 'sacrifício' ...
ah, este gemibundo discurso tão cristalinamente salazarento, envelhecido, podre, a lembrar um "deus, pátria, autoridade" atroz e sebento

Mas mudai o tema e falai na "subsistência de quem corre riscos de investimento" ... E logo se invertem os temas do dever ou da disciplina ou do sacrifício e, irado ,carrancudo, tremebundo e adunco, proclamará a liberdade da indisciplina sem sacrifícios nos braços dos offshores corruptos.

Anónimo disse...

Desculpem, mas não embarco nem nunca embarcarei nessa do Deus, Pátria e Autoridade.
Quero crer que existe um grande equívoco e a argumentação apresentada não me satisfez…
Dizer que não vejo vantagem alguma em acabar
com os exames, não passa de uma opinião meramente pessoal, que embora não seja aceite por outros, não merecia lembrar o que padecemos com a “Negra Noite Fascista”.
Dessa forma, alguém tem de ficar em último lugar…não quero esse lugar para Portugal.
De qualquer jeito a imposição do novo tipo que seja profícuo. Digo imposição porque nesta democracia, a que eu trato por “Ditadura da Burguesia” este assunto importantíssimo da vida dos portugueses foi tratado tal qual a Camara Corporativa tratou. De Adelino Silva

Jose disse...

Adelino, estás meio esquecido, o dito é: Deus, Pátria e Família (https://pt.wikiquote.org/wiki/Salazar)

Anónimo disse...

O tipo das 19 e 05 bem tenta escolher as citações do seu ídolo de acordo com os seus interesses de propagandista do dito.
Está completamente esquecido, pobre coitado

"Deus, Pátria, Autoridade” representa uma crítica à ideologia fascista através de três dogmas fundamentais que Salazar estabeleceu num discurso de 1936: “Não discutimos Deus e a virtude. Não discutimos a Pátria e a Nação. Não discutimos a Autoridade e o seu prestígio”.

Confirma-se:
'dever', 'disciplina', 'sacrifício' ...
ah, este gemibundo discurso tão cristalinamente salazarento, envelhecido, podre, a lembrar um "deus, pátria, autoridade" atroz e sebento

Anónimo disse...

Anónimo (22 de abril de 2016 às 09:35), será importante referir também que a mulher de Nuno Crato, Luísa de Sousa Araújo, trabalha também no JRC. Será coincidência?