quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Regresso aos mercados

O ministro das Finanças de Portugal, Vítor Gaspar, pediu aos ministros das Finanças dos 27 países da União Europeia uma extensão dos prazos dos empréstimos assegurados pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira. A Comissão Europeia e o Eurogrupo preparam-se para aceitar o pedido de prolongamento dos prazos de empréstimos que venceriam entre 2014 e 2016.

Desta forma conseguir-se-á reduzir a elevada concentração de refinanciamentos previstos para esses três anos e facilitar o regresso aos mercados. O governo tem assentado a sua narrativa no sucesso da sua governação no regresso aos mercados e na saída da troika do nosso país. Primeiro importa lembrar que a possibilidade de o país regressar aos mercados para obter financiamento em nada se fica a dever ao trabalho do governo português.

Ficará a dever-se, exclusivamente, ao novo papel que o BCE decidiu assumir, na senda daquilo que foi sempre defendido pelo Partido Socialista mas nunca pelo governo PSD/CDS. Foi apenas a decisão e o anúncio do BCE da sua intenção de comprar títulos de dívida pública no mercado secundário que retirou pressão sobre as taxas de juro cobradas aos países em dificuldades. E será essa mesma decisão do BCE que permitirá o regresso aos mercados a taxas de juro mais baixas que as cobradas nas vésperas do pedido de resgate financeiro.

Segundo, importa também lembrar que o BCE só apoiará o regresso aos mercados mediante condições. O que isto quer dizer é que a receita da troika continuará a ser implementada em Portugal, mesmo depois de ela se ter ido embora. Olhemos para Espanha. Tem-se financiado nos mercados, não tem a troika fisicamente presente, mas está igualmente afundada numa austeridade imposta de fora. O país pode regressar aos mercados e a troika ir-se embora, mas isso não significar nada no que ao fim da austeridade e da espiral recessiva diz respeito.

(crónica publicada às quartas-feiras no jornal i)

9 comentários:

Anónimo disse...

And yes, I guess we can give it to him in terms of 80% foreign participation and yes, we can give it to him in terms of a well-bid auction, but basically these auctions are prearranged sales. They are not really auctions. They are bought by domestic banks within euro land and then they're rediscounted to the central bank. So it is internal buying. There are claims of Japan and China and so on, but they're really looking for the private institutions like PIMCO and other insurance companies to buy, and we just have not done that yet."


Bill Gross em 2011 sobre os leilões Sócrates.


Nada mudou. A mesma farsa.


Não há acesso aos mercados.

Anónimo disse...

"...Ficará a dever-se, exclusivamente, ao novo papel que o BCE decidiu assumir, na senda daquilo que foi sempre defendido pelo Partido Socialista mas nunca pelo governo PSD/CDS..."
.
Por favor, que o tribalismo ideológico não turve a mente e que não tome os leitores por estúpidos. Claro que fica a dever-se ao papel do BCE, às medidas para a união bancária e à politica do governo que conduziu ao controlo do defice e ao equilíbrio das contas externas. Com as políticas "desenvolvimentistas" e de mais endividamento reclamadas pelo PS nunca se teria aqui chegado.

Anónimo disse...

Há algum acesso, por parte de empresas por exemplo, coisa que não acontecia há largos meses.
E são empréstimos a mais de três anos.

ASMO LUNDGREN disse...

um bocadinho parcial

Anónimo disse...

O governo falhou completamente.


Agora só nos resta o default.


Pode pois o governo vir acenar com esta farsa que a realidade da insustentabilidade da dívida portuguesa se mantém.

Anónimo disse...

Algumas empresas acedem mas são casos especiais e estão a pagar spreads brutais face aos peers.

Anónimo disse...

Mas qual foi o verdadeiro motivo para se ir aos mercados? Em entrevista á TVI a secretaria do estado do tesouro á pergunta concreta se Portugal estava a necessitar de financiamento ela disse NÃO. Fomos pedir 2500 milhões agora a juros de 4,861 se quando mais tarde necessitarmos podemos pedi-los a menos 1 ou mais pontos percentuais. Estamos a pagar mais uma jogada politica?

ASMO LUNDGREN disse...

não referia-me a empresas que se financiam na banca internacional sendo nacionais...a juros inferiores a 5 e por vezes inferiores a 4...

de qualquer modo o déficit continua nos 8 mil milhões

e garante déficits futuros do mesmo jaez

embora o de faulte in pays de viejos seja um morticínio para as velhas gerações a rendimento quase nulo

o actual acumular de déficits também não augura nada bom para as gerações mais garotas

Rogério G.V. Pereira disse...

Fiz link