«Os grandes avanços na Física nascem de experiências que deram resultados que não esperávamos», disse Stephen Hawking ao felicitar Peter Higgs pela descoberta do «seu» bosão (a famosa «partícula de Deus») na passada quarta-feira no CERN, em Genebra.
O ministro Vítor Gaspar e a sua equipa - que recentemente se mostraram surpreendidos com o «inesperado» aumento do desemprego - deviam prestar muita atenção a esta frase de Stephen Hawking. Talvez assim, em vez de continuarem a insistir em teorias fracassadas (que perseguem com fanatismo e obstinação, por mais que a realidade os desminta), pudessem tirar as devidas ilações e arrepiar caminho. Mas não, toca é de encomendar mais um estudo, que não passe de um acto de fé (e cujo delírio o João Rodrigues já aqui assinalou), para que se mantenham com todas as forças no conforto trágico da sua cegueira. Aprender com os erros não é com eles.
Durante séculos (sobretudo até Heinsenberg e o seu «princípio da incerteza»), a Física foi considerada a mãe das «ciências ditas exactas». Mas já há muito tempo que são os próprios físicos quem recusa caracterizar o seu domínio científico como modelo de infalibilidade, exactidão e previsibilidade. Na ânsia de imitar e alcançar esse supremo estatuto com que ainda encaram, equivocadamente, as «ciências ditas exactas», economistas como Vítor Gaspar e Santos Pereira enclausuram-se na pureza imaculada dos seus modelos: se os «resultados por que não esperavam» (para voltar à formulação de Hawking) os confrontam (na sequência das suas experiências tresloucadas), é porque é a realidade que está a falhar, nunca a teoria.
Contudo, como lembra José Reis (com um propósito epistemológico mais vasto), «o mundo está cheio de imprevistos. As trajectórias do desenvolvimento não são marcadas pela previsibilidade e a emergência de circunstâncias inesperadas são a regra, mais do que a excepção». Pense nisto Dr. Gaspar (e ponha os olhos na Física).
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13 comentários:
Embora eu perceba a intenção, se há coisa que me arrepia quando se fala de Economia é que se diga "ponha os olhos na Física". É que essa é a mãe de todos os disparates (em geral, que não aqui em particular).
Embora eu perceba que a intenção é outra aqui, se há coisa que me arrepia quando se trata de Economia é que se mande olhar para a Física. É que está aí a mãe de (quase)todos os disparates.
Lembro o que parece ter dito uma vez Murray Gell-Mann, prémio Nobel da Física em 1969 pelos seus trabalhos sobre partículas elementares: «Imaginem como seria difícil a Física se os electrões pudessem pensar».
A questão é tão simplesmente que nem sequer a Física, ou o Processo Científico em geral, têm a arrogância de ajustar o mundo aos seus modelos Bem pelo contrário, um modelo que é ou passa a ser inconsistente com a realidade é derrubado e, como consequência, há a necessidade criar novos modelos mais exactos. A Ciência em geral, destroi dogmas.
Não é o que acontece no modelo neoliberal em que apesar das contradições e conflitos com a realidade os dogmas persistem ao ponto de ser uma (quasi) religião.
De facto, os neoliberais "põem os olhos na Física" no sentido em que os modelos matemáticos não servem outro propósito que não o de legitimar um discurso de ciência exacta que a realidade teima em contrariar...
Caro Porfírio Silva, não me interprete mal, mas sou levado a pensar que talvez, afinal, não tenha percebido bem a estrita intenção deste post.
Caro Nuno Serra, não me interprete mal, mas sou levado a pensar que talvez, afinal, não tenha percebido bem a estrita intenção do meu comentário: usar os slogans do inimigo pode, involuntariamente, mesmo quando estamos a criticá-lo, reforçar a respectiva aura de respeitabilidade.
Nem acredito muito no que diz sobre a física (a maior parte dos físicos ainda acham que ela é a mãe das ciências, e que só as ciências "duras" são ciências), nem acredito que tenha muito interesse para as ciências da sociedade a "imprevisibilidade" ou o indeterminismo da física quântica. É que o indeterminismo físico não tem nada a ver com a liberdade dos agentes (das partículas).
Encontrar "aliados" na física quando se trata de pensar na sociedade não é a minha chávena de chá, como dizem os outros.
Era isto que eu queria - e ainda quero - dizer com o meu comentário.
Caro Porfírio Silva,
O post não pretende, embora assim possa ser lido, encontrar aliados na Física. E a aura de respeitabilidade assenta, justamente, na superação (por parte de alguns físicos, que admito sejam ainda minoritários) de uma concepção moderna de ciência que se lhe atribui (à Física).
É interessante anotar as diferenças entre as partículas e os agentes (não poderia estar mais de acordo). E creio que isso só reforça o erro em pensar no comportamento dos agentes como partículas previsíveis, o que já nem essa Física pós-moderna faz. Era isto que eu queria - e ainda quero - dizer com o meu post.
Caro Nuno Serra,
Acho que concordamos no essencial do que julgo estar em causa no seu post, que é o que diz respeito às ciências da sociedade e os erros de "física social" primária.
Também acho que discordamos num ponto: eu não alinho nada com entusiasmos acerca do carácter "indeterminístico" da física quântica, porque esse indeterminismo não tem nada a ver com a liberdade dos seres em sociedade, e a respectiva incerteza fundamental quando se trata de prever, que é o que me interessa aqui.
Este tema (porque o "indeterminismo" da física não me serve para as sociedades políticas) interessa-me muito. Dediquei-lhe um capítulo do meu livro "Das Sociedades Humanas às Sociedades Artificiais". Há uma versão antiga, mas ainda basicamente correcta, em linha: A Liberdade evolui. E o determinismo?. Pode ser que lhe interesse (pelo menos se não se apressar a achar que os outros não alcançam aquilo que quer dizer...).
Cumprimentos.
O que o autor do Post na minha leitura pretende é de algum modo mostrar que se na Física nada se pode afirmar com toda a garantia -e seria suposto que se pudesse fazer-, na Economia muito menos e isso contraria as insofismáveis certezas do Gasparinho...«Imaginem como seria difícil a Física se os electrões pudessem pensar».
-O problema é posto ao contrário, sabendo que os electrões não pensam por isso não se lhes podem assacar responsabilidades ou acusações de comportamento incorrecto, agora aos homens já não é assim, a sua responsabilidade é absoluta e não querer saber das avaliações necessárias nas atitudes que podem tomar, ser cego nelas e apenas sujeito à sua ideologia política nas concepções da Economia é crime, porque coloca em causa não apenas os seus interesses pessoais -se fosse assim nada a dizer-, mas os interesses de todos!...
Mas que há modelos possíveis e impossíveis de aplicar isso há.
E há contingência na aplicações dos modelos e a maior parte dos modelos faz dietas brutais.
Transferência de riqueza instantânea só por multibanco.
Muito bom, Parabéns!
Caro Porfírio,
Também acho que concordamos no essencial. Aliás, quando no início da nossa troca de mensagens lhe pedi para não me interpretar mal, queria pedir-lhe exactamente isso (não era ironia e - muito menos - sobranceria, como admito lhe pode ter parecido). Entendia a sua objecção (relativamente ao significado que poderia assumir o «elogio à Física»), mas parecia-me que o ponto que eu aqui pretendia colocar tinha passado ao lado (não necessariamente por culpa sua, bem entendido).
Entendo também o que refere em relação ao indeterminismo (embora aqui leiguíssimo me confesse). Não é por aí, naturalmente, que quero situar o argumento. O que me parece interessante é como - nessa matéria - até a Física (que durante tanto tempo surgia inequivocamente como um instrumento para pensar a «máquina que é o mundo») foi obrigada a repensar os pressupostos axiológicos em que assentava. Como não o pode e deve, ainda mais, fazer uma ciência como a Economia?
Agradeço-lhe a referência (e o link) para o seu artigo (que lerei, certamente).
Cumprimentos (e obrigado pelo diálogo que desencadeou)
Caro Nuno Serra
O ambiente geral em que vivemos é de impostura e colapso generalizado de esquemas perceptivos da realidade social, e a muitos níveis.
Estas são, se me permite, conversas muito interessantes para ter, mas decididamente não neste contexto.
Aquilo que está em causa na vida política portuguesa actual, e em particular no que à economia concerne, é muito mais "down to Earth": releva de fanatismo doutrinário de uns, avestruzismo de outros, covardia de muitos e oportunismo de muitos mais ainda.
Deve ser possível - tem de ser possível - discutir política económica sem precisar de falar de "paradigmas", "pós-modernidades", "físicas quânticas" e/ou "partículas de Deus".
Se não for, se realmente for necessário enveredar por esses outros caminhos, então, sinceramente, só lhe digo: estamos mesmo perdidos... e valha-nos Deus!
Se não me engano um dos dogmas s mais queridos é básico do neoliberalismo é que se a realidade não encaixa na teoria tanto pior para a realidade.
A realidade da vida, porém, demonstra claramente quao curta e criminosa é a visão destes aprendizes de feiticeiro, autênticos zombies e cangalheiros de países.
Felizmente, a história ensina-nos que o fim que aguarda esta gente não é bom.
Mais tarde ou mais cedo irão sofrer as consequências dos seus actos maléficos e dolosos, porque intencionais.
Creio mesmo que ao fim deste ano de tanta malvadez intencional, causadora, muitas vezes da morte de cidadão idosos e não só, se justificariam queixas crime contra esta gente.
Afinal de contas, se o Estado não protege os seus cidadãos (e essa é a sua razão de ser) quem é que os protege.!?
Que a continuar neste caminho isto ainda vai acabar mal, disso não tenho duvidas.
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