terça-feira, 24 de maio de 2011

Realismo

Paul Krugman lembra que o mito anti-keynesiano da “consolidação orçamental expansionista”, ou seja, da crença que a austeridade pode favorecer o crescimento, foi sobretudo alimentado pelo BCE, por Jean-Claude Trichet, um dos mais proeminentes adeptos de uma “austeridade selvagem” que é, na realidade, a principal causa do desemprego. Aqui chegados, Krugman só pode continuar a ser realista. À atenção de Sócrates, Passos, Portas e de todos os outros demagogos da troika interna: “Assim, para ser realista, a Europa tem de preparar-se para alguma forma de redução da dívida, combinando a ajuda proveniente das economias mais fortes e a reestruturação das dívidas imposta aos credores privados, que terão de aceitar menos do que o pagamento total. O realismo, no entanto, parece não abundar”. É claro que estes empréstimos usurários, exaurindo as economias periféricas, não são a ajuda de que fala Krugman.

8 comentários:

António Carlos disse...

"reestruturação das dívidas imposta aos credores privados, que terão de aceitar menos do que o pagamento total."
Quer isto dizer que o valor dos certificados de aforro que fui juntando ao longo dos anos diminuiria? E um depósito a prazo na CGD, provavelmente investido em dívida pública Portuguesa, também seria reduzido?
Será então seguro continuar a poupar?
Quer isso dizer que, à cautela, o melhor é levantar o dinheiro e os certificados de aforro?

Eduardo disse...

Não é realismo que não abunda, mas sim o dinheiro. E o respectivo custo, demasiado penalizar para os mais pobres e para as gerações futuras. Krugman defendeu em 2002 que os EUA precisavam de uma bolha imobiliária. Está tudo dito.

João Rodrigues disse...

António Carlos: Não creio que essas poupanças estejam em risco. Terá de ser possível distinguir entre credores. Um dos erros deste governo foi, aliás, tornar os
certificados de aforro irrelevantes como instrumento de poupança, aumentando a
nossa dependência externa de financiamanto (mais barato na altura).

Eduardo: Nem sempre concordo com Krugman e por isso estou com muita curiosidade em ter acesso a um texto de 2002 onde defende a tal bolha. É que não me parece nada que esteja tudo dito.

Luis Gaspar disse...

É mesmo muito curioso como mesmo Krugman, que para todos os efeitos é um ortodoxo, entende bem o preconceieto ideológico subjacente à ideia que se tirarmos recursos do público, eles vão ser usados pelos privados, como se a lógica fosse uma lógica hayeckiana de extorsão.

António Carlos disse...

"Não creio que essas poupanças estejam em risco. Terá de ser possível distinguir entre credores."
Peço desculpa por insistir mas estou preocupado com a possibilidade de perder as minhas poupanças (e a minha reforma, já não falta assim tanto quanto isso) com a reestruturação da(s) dívida(s). Segundo li, a própria Seg. Social tem muito dinheiro investido em dívida pública Portuguesa. Será afectada?
Será que a SS também tem dinheiro investido em dívida de outros países (Grécia, Espanha, ..). Se assim for e esses países decidirem reestruturar o que vai acontecer ao dinheiro que os trabalhadores entregaram ao longo destes anos à SS? Como vão ter pensões?
Começo a pensar que devia era ter comsumido mais e poupado menos!

João Carlos Graça disse...

"...the confidence fairy hasn’t shown up..." Em inglês norte-americano, "confidence game" é um jogo para enganar otários, como em The House of Games, do David Mamet.
Sim, parece de facto haver pouca oferta de realismo... mas por enquanto vai havendo oferta suficiente de otários. Por isso...

Sérgio Pinto disse...

João Rodrigues,

O texto que o Eduardo refere é o mesmo a que em tempos um 'insurgente' (o Miguel Noronha, acho eu) também se referiu. Parece que é uma reacção pavloviana da direita quando ouve algo de que não gosta...

O testo do Krugman de 2002 é este (http://www.nytimes.com/2002/08/02/opinion/dubya-s-double-dip.html?pagewanted=1) e o próprio já falou da descontextualização/manipulação de que o texto foi objecto (http://krugman.blogs.nytimes.com/2010/04/05/me-and-the-bubble/).

Sinceramente, não percebo como é que se pode ver no texto do Krugman de 2002 qualquer espécie de "defesa de uma bolha imonbiliária". Enfim, como ele mesmo diz: Of course, I know that this explanation won’t keep the haters from pulling up the same quote out of context, over and over.

José M. Sousa disse...

«a própria Seg. Social tem muito dinheiro investido em dívida pública Portuguesa»

A Segurança Social é pública, é Estado, trata-se do Estado a pagar a si próprio. Acho que deve recear pela sua reforma é se continuarmos neste caminho que nos levará, se não houver inversão, a não ter outro remédio que não seja a saída do Euro, como a comissária grega já admite.