
Em primeiro lugar, Cabral considera que não extiste no memorandum um diagnóstico adequado sobre as causas de uma crise que não é primeiramente uma crise de dívida soberana e que nenhum governo conseguirá cumprir os irrealistas termos da chantagem aceite pela troika interna. Falta sublinhar que a austeridade recessiva, transformando definitavamente o Estado num problema, gerará desemprego, intensas quebras dos rendimentos privados e a insolvência de muitos: o Estado não se pode comportar como uma família sem onerar as famílias realmente existentes.
Em segundo lugar, destaco a sua justa indignação com os termos dos apoios públicos à banca, que poderão atingir 27% do PIB, sem que o Estado tenha qualquer poder de controlo e gestão, mantendo-se assim intacto o poder accionista privado. Trata-se de salvar os credores internacionais e o privilegiado pilar financeiro da economia política nacional; este pilar foi o que mais contribuiu para a destrutiva economia da construção, do rentismo fundiário ou das parcerias público-privadas e que mais desprezou os sectores de bens transaccionáveis, canalizando para estes uma pequena percentagem do crédito.
Em terceiro lugar, assinala-se o conflito de interesses entre o BCE, membro da troika, e o BCE que seria um dos perdedores de uma eventual transferência de custos para os credores se tivesse sido criado um mecanismo justo de reestruturação bancária.
Em quarto lugar, é certeira a sua crítica à lógica de reengenharia política dos países, que subjaz a estas perversas intervenções externas movidas por “pura ideologia”, ou seja, pelo que chamamos neoliberalismo, essa expressão ideológica do poder financeiro.
1 comentário:
"conflito de interesses entre o BCE, membro da troika, e o BCE" ?
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