segunda-feira, 30 de maio de 2011

Economia portuguesa

Sabemos que as coisas começam lentamente a melhorar do ponto de vista intelectual quando até no blogue Portuguese Economy a realidade consegue perturbar os idealismos de mercado aí dominantes. Falo do post de Ricardo Cabral sobre os termos da intervenção externa vertidos no memorandum da troika. Apesar dos diferentes pontos de partida, destaco quatro pontos em que também temos insistido neste blogue.

Em primeiro lugar, Cabral considera que não extiste no memorandum um diagnóstico adequado sobre as causas de uma crise que não é primeiramente uma crise de dívida soberana e que nenhum governo conseguirá cumprir os irrealistas termos da chantagem aceite pela troika interna. Falta sublinhar que a austeridade recessiva, transformando definitavamente o Estado num problema, gerará desemprego, intensas quebras dos rendimentos privados e a insolvência de muitos: o Estado não se pode comportar como uma família sem onerar as famílias realmente existentes.

Em segundo lugar, destaco a sua justa indignação com os termos dos apoios públicos à banca, que poderão atingir 27% do PIB, sem que o Estado tenha qualquer poder de controlo e gestão, mantendo-se assim intacto o poder accionista privado. Trata-se de salvar os credores internacionais e o privilegiado pilar financeiro da economia política nacional; este pilar foi o que mais contribuiu para a destrutiva economia da construção, do rentismo fundiário ou das parcerias público-privadas e que mais desprezou os sectores de bens transaccionáveis, canalizando para estes uma pequena percentagem do crédito.

Em terceiro lugar, assinala-se o conflito de interesses entre o BCE, membro da troika, e o BCE que seria um dos perdedores de uma eventual transferência de custos para os credores se tivesse sido criado um mecanismo justo de reestruturação bancária.

Em quarto lugar, é certeira a sua crítica à lógica de reengenharia política dos países, que subjaz a estas perversas intervenções externas movidas por “pura ideologia”, ou seja, pelo que chamamos neoliberalismo, essa expressão ideológica do poder financeiro.

1 comentário:

Grunho disse...

"conflito de interesses entre o BCE, membro da troika, e o BCE" ?