A opinião económica em Portugal é, na sua maioria, parca em informação e reflexão. Não há campo mais aparentemente consensual do que o da opinião económica. Até o jornalismo económico (escrito) consegue ser mais plural. Em cada semana lemos imensos artigos que dizem basicamente o mesmo, normalmente limitados ao comentário das mais recentes notícias. Foi, aliás, a luta contra esta hegemonia que esteve por detrás da criação deste blogue.
No entanto, a motivação deste post é exactamente a contrária. Existem excepções. Uma delas é Cristina Casalinho, economista chefe do BPI, no Jornal de Negócios. A cautela na análise das políticas e mesmo na exposição da sua opinião (afinal, é economista chefe do BPI) é compensada pela sua capacidade analítica, bem informada, da economia portuguesa. Os seus artigos são, particularmente, das melhores fontes para quem queria aprender e perceber o que se passa no sector financeiro português. O seu último artigo é bastante claro na demonstração da insustentável trajectória do sector bancário. Deixo dois parágrafos do texto (vale a pena ler tudo):
"Importa recordar que a disponibilidade de crédito está circunscrita à capacidade de captação de depósitos, na medida em que os mercados de capitais estão encerrados para os bancos portugueses. Estes têm vindo a recorrer ao financiamento junto do BCE e ao mercado de reportes: crédito de curto prazo contra garantia de títulos de elevada qualidade, sobretudo para satisfazer reembolsos de dívida não-renovada. Se é verdade que a taxa de juro praticada pelo BCE é baixa (actualmente: 1.25%), refira-se que os títulos apresentados como colateral sofrem uma desvalorização pelo BCE, emprestando apenas uma parte (significativa) do valor dos títulos dados como garantia, encarecendo o empréstimo. O mercado, pela limitação das alternativas de financiamento, também exige um maior alinhamento entre crédito e depósitos. (…)
Num ambiente económico que se prevê recessivo nos próximos dois anos, com a persistência dos mercados encerrados para os bancos nacionais, pelo menos enquanto o Estado não conseguir voltar a financiar-se fora do âmbito do FMI/CE/BCE, com elevados custos de financiamento e pesadas carteiras de crédito à habitação, qual a justificação para os investidores no aumento do capital das instituições financeiras? E como se financiará a aceleração do ritmo de crescimento económico, assente inevitavelmente na expansão das exportações, com parco crédito para financiar os projectos de ampliação de capacidade produtiva? Qual a referência futura de custos de financiamento de longo prazo quando o Tesouro se encontra fora do mercado e as existentes taxas de mercado secundário têm relevância duvidosa? Qual a possibilidade de uma economia com crescimento potencial nominal de 3.5%/ano suportar, a prazo, "spreads" de 2.5% ou 3.5%, quando a Euribor caminha para valores acima de 2%, em todos os prazos, dentro de doze meses?"
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