quinta-feira, 19 de maio de 2011

Não há nenhuma ajuda

Por mais argumentos que se apresentem - das taxas de juro abusivas às privatizações ruinosas, passando pela "contracção sem precedentes do rendimento disponível real das famílias e de novos aumentos da taxa de desemprego", segundo o tenebroso Banco de Portugal, sempre em apoio de todas as regressões, de todas as incompetências -, a expressão “ajuda externa” sobrevive no debate público devido à seguinte ideia: em Maio não haveria dinheiro para "pagar salários". Isto não é bem assim. Em Maio, tudo o resto constante, e nem tudo tinha de estar constante porque havia algumas propostas para gerar liquidez, poderia não haver dinheiro para pagar salários e, friso o e, para fazer face a todos os compromissos com os credores. Numa democracia, aqui chegados, a escolha seria clara: entre o contrato social e o contrato financeiro não há como hesitar. No entanto, o periclitante sistema financeiro europeu não estaria em condições de aguentar tal escolha, claro. Isto é conhecimento comum.

A intervenção externa pretende evitar que os credores internos e externos tenham quaisquer perdas até 2013. Se Portugal tivesse tido a coragem de recusar os termos da intervenção externa, teria gerado um arranjo europeu bem melhor do que esta desgraça. É por estas e por outras que o problema europeu só começará a ser resolvido quando um país periférico ou, ainda melhor, uma aliança de países periféricos ameaçar usar a arma da renegociação. Quanto mais cedo isso acontecer melhor. Nem imaginam como isso tornaria o centro europeu consciente do seu interesse próprio esclarecido, como isso concentraria as mentes nos três problemas europeus que contam - dívida, investimento e bancos - e em três reformas incrementais: euro-obrigações, reforço do banco europeu de investimento e do controlo público dos bancos. A alternativa a isto é a desconstrução europeia, graças à interacção perversa entre as fracturas económica, social e política.

6 comentários:

Luis Gaspar disse...

Muito bem, João. É preciso desmontar este problema que, pior que ideológico, é resultado de má economia.

Diogo disse...

Santa ingenuidade, meus amigos!

Qualquer banco comercial pode pedir ao BCE o dinheiro que quiser a 1%. Bastaria que o Millenium BCP pedisse ao BCE 100 M de euros ao BCE a 1% e o emprestasse ao Estado Português pela mesma taxa (com um bónus de 1 milhão de euros), e a dívida estaria resolvida. N'est-ce pas?

Pedro Veiga disse...

Isto quer então dizer que a demissão do governo e a convocação de eleições antecipadas foi feita apenas porque nenhum dos nossos políticos esteve (ou está) em condições de negociar os termos em que o empréstimo a Portugal é feito?

Anónimo disse...

"Numa democracia, aqui chegados, a escolha seria clara: entre o contrato social e o contrato financeiro não há como hesitar."
Desculpe mas não percebi do seu post qual seria a escolha nem porque seria clara. Podia esclarecer este ponto?

Ziriguidum, HEI! disse...

Diogo, a ingenuidade é sua.
Porque os bancos comerciais andavam a pedir a 1% e a emprestar a 7% a Portugal e a 15% à Irlanda, até o BCE os ter proibido de emprestar dinheiro aos Estados. E acabou o regabofe.

Por isso houve que recorrer ao FeMI.

Anónimo disse...

este Diogo é um ignorante. Os bancos pedem empréstimos de curto prazo e compram dídida a 10 anos. O homem não percebe a diferença. Diogo, quando acabou acertificação do Novas oportunidades para o 9º ano?