sexta-feira, 25 de junho de 2010

Galinhas...


Os países que conduzem a União Europeia parecem ter atingido um consenso sobre quem deverá suceder a Jean-Claude Trichet na presidência do Banco Central Europeu. O nome de Axel Weber, actual Presidente do Bundesbank é apontado como o mais provável sucessor.

A confirmar-se esta escolha, a Alemanha passaria a ter, para além de todo o seu músculo político, dois membros do Conselho Executivo do BCE (Weber e Stark até 2014), sendo o seu Presidente um homem de mão do Governo da Alemanha, com um currículo ligado ao Bundesbank, com o que isso significa de compromisso absoluto com as políticas monetaristas, centradas no controlo da inflação que, no Bundesbank, gozam do estatuto de mandamento religioso. Recentemente, Weber chegou ao ponto de criticar Trichet por aceitar comprar títulos de Dívida Pública no Mercado Secundário. Trata-se, portanto, de um ultra do monetarismo.

Talvez por isto, Paul Krugman já veio dizer que a eventual eleição de Axel Weber é “um risco para a zona euro”. O Prémio Nobel da Economia defendeu que o risco de “um efeito dominó da Grécia, através de Espanha e Portugal, até à Itália, é muito maior, se o BCE tiver um Presidente tão conservador como Weber”. Acresce às justas preocupações de Krugman o facto de o BCE continuar a ter total autonomia em relação aos órgãos democráticos da União, tornando esta nomeação um ponto crucial no desenvolvimento das políticas económicas europeias.

A negociação deste nome assenta num duplo equilíbrio: o dos países que já tiveram presidentes do BCE e o equilíbrio entre “falcões” e “pombas”. E pergunta o leitor e muito bem: o que são os “falcões” e as “pombas”? Ora bem, “falcões” é o nome que é dado aos que privilegiam o controle da inflação, enquanto “pombas” seriam aqueles que privilegiam o crescimento.Na realidade, esta dicotomia é um pouco ilusória.

Para dar um exemplo, Vítor Constâncio, o Presidente do Banco de Portugal que passou o seu mandato a clamar pela redução dos salários (o que lhe deixou pouco tempo para fiscalizar realmente o sector financeiro, com os resultados que se conhece) é considerado nas instâncias comunitárias… uma “pomba”! No entanto, não se conhece a Vítor Constâncio grandes divergências com o rumo que tem seguido a política económica na União Europeia.

Não é disto que a Europa precisa. Um obcecado com a inflação (quando o risco na Europa é, quanto muito, o risco da estagnação e da deflação) deveria ter barradas as portas do BCE. Uma política contra a crise exige um BCE comprometido com políticas expansionistas, centradas na criação de emprego e livre dos preconceitos que têm impedido a emissão de dívida pública europeia que financie essas políticas. Vôos bem mais altos do que os que nos têm proporcionado os homens do BCE. Não são falcões nem pombas. São galinhas.

9 comentários:

Pratos de Ouro disse...

Muito Boa Tarde,

É com muito gosto que visito o seu blog. Gostaria que divulga-se ou colocasse um link de um novo blog de opinião, que com tão pouco tempo tem tido muitas opiniões positivas. Obrigado.

http://quadratura-do-circulo.blogspot.com/

gab disse...

Falcões, pombos ou galinhas, estão mesmo é a pedir a abertura da caça.

Anónimo disse...

e dinamizar manifs internacionais contra a nomeação do gajo?

Anónimo disse...

Devia, isso sim, era abrir imediatamente a caça a tais animais voadores e não voadores.

Anónimo disse...

Ao grande Vitor Constâncio, de cognome " O Zarolho Cegueta ",o arremesso de socialista mais bem pago da história, endereço, sinceramente, votos das mais infelizes prestações da história (recente mas já muito negra) do BCE.

João Aleluia disse...

1."(quando o risco na Europa é, quanto muito, o risco da estagnação e da deflação)"

PQ = MV

Preços x Quantidades(PIB) = Moeda x Velocidade de Transacção

As quantidades produzidas diminuiram imenso e continuaram a diminuir, uma vez que a economias continuam a deteriorar-se a cada dia que passa. É claro que se deterioram a velocidades diferentes e a economia alemã deteriora-se mais lentamente do que as outras.

A quantidade de moeda aumentou de forma colossal desde finais de 2007, e continua a aumentar agora com requintes de malvadez, uma vez que o BCE já está a emprestar directamente aos governos com poucas ou nenhumas restrições. Politica monetaria mais expansionista do que isto não sei o que seria. Talvez entrar numa guerra de desvalorizações competitivas com a China e com os EUA?!?

Quanto à velocidade de transacção, esta desceu muito, como é normal em epoca de crise mas em breve voltará a aumentar, pois a decisões de consumo e investimento não podem ser infitamente adiadas.

Quanto ao que acontecerá aos preços, deixo ao leitor a resolução da equação. Como diz Medina Carreira, é só fazer as contas. E para os preguiçosos, digo já que o resultado não é deflação.

2. Posto isto, impõe-se a questão, porque é que ainda não temos inflação de 2 digitos?

Ainda não temos inflação por 2 razões:

A primeira, como já acima mencionei, prende-se com a velocidade de transação da moeda. Em tempo de crise adiam-se decisões de consumo e de investimento e procuram-se veiculos de investimento mais seguros. Ora como o dinheiro parado é como se não existisse, esta contração dos fluxos economicos ajuda a esconder as expansões monetarias.

A segunda, tem a ver com forma como as expansão monetarias foram conduzidas. As expansões monetarias desde finais de 2007 até dia 9 de Maio de 2010 foram feitas sobretudo através da redução sistematica da taxa de juro a que o BCE (e a Fed nos EUA)emprestam dinheiro aos bancos e através de injecções directas de dinheiro nos bancos. Este dinheiro veio substituir os activos que existiam nos balanços dos bancos e que perderam total ou parcialmente os seus valores. Estas injecções monetarias vieram portanto esconder uma enorme destruição de valor. A aparencia, para os governos, e para muitos agentes economicos, é de que as injecções atenuaram uma crise e de existem mais ou menos o mesmo valor em activos. Ora a realidade é que os activos foram substiuidos por dinheiro nos balanços dos bancos, e este dinheiro começará a ser canalizado para a economia real assim que os mercados de credito estabilizarem e a banca voltar a financiar.

Conclusão, a velociade de transação não vai disparar amanhã, e os mercados de credito também não vão estabilizar amanhã. Mas como é obvio, algures nos proximos 2 anos, isto vai acontecer e a inflação vai disparar. E nem sequer é preciso imprimir mais dinheiro, o que existe já chega.

3. Quanto aos bancos centrais serem independentes dos governos, ainda bem que o são. Pois se não o fossem, os governos gastariam sem limites e quando precisassem dinheiro, imprimiam. A historia da america latina e do continente africano está cheia de exemplos destes com os belos resultados que se conhece.

4. Quanto ao euro. O euro vai acabar. Depois do pacto de 9 Maio, já não há esperança. Quando daqui por 2, 3 anos a Espanha, Itália, e se calhar a França, precisarem de inflacionar os stocks de divida, não podem obrigar a alemanhã a suportar inflação de 2 digitos, e portanto vão ter de reinstituir as moedas nacionais, para poderem roubar apenas os seus cidadãos.

Carlos disse...

Pai Natal.
Creio que a gastar o seu latim a tentar educar quem está com a cabeça enfiada na areia. Quando a inflação acontecer a culpa será dos especuladores, dos neoliberais e do capitalismo.
Esta gente venera um Nobel (sr.Krugman) que escreve artigos de 6000 palavras a explicar porque é que os economistas (esqueceu-se de incluir a ele próprio) não viram o colapso de 2008/2009 e nem uma única vez referiu o excesso de crédito como factor relevante.
Eles pensam que dinheiro criado do nada é sinónimo de riqueza.
O melhor a fazer é proteger as poupanças da verdadeira austeridade que está para chegar.

João Aleluia disse...

O euro caiu depressa demais, o actual nível de pressão no euro é insustentável no curto prazo. Entre o hoje e a descida final para implosão do euro, o euro ainda vai valorizar significativamente. Quando isso acontecer vou por as minhas poupanças em USD ou RMB.

rui fonseca disse...

Há muita gente a culpar a Alemanha pelas dificuldades que alguns membros da UE, financeiramente fragilizados, estão a passar. Já toda a gente percebeu, no entanto, que essas dificuldades também decorrem da forma como se comportaram as suas economias e do excesso de liquidez que foi colocado à sua disposição durante a última década por banqueiros ávidos de remunerações e bónus respaldados pelo crédito (i)moral.


Terá, no entanto, sido a Alemanha a grande beneficiária da moeda única europeia, proporcionando-lhe supéravites comerciais tendo como contrapartida os défices que provocaram o descalabro das finanças dos outros membros, e particularmente da Grécia, de Espanha, da Irlanda, de Porugal, de Itália?


Depende do ponto de vista.


Analisando os relatórios do PNUD - Programa para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, edições de 2009, aqui e 2000, aqui, que registam valores respeitantes a 2007 e a 1998, respectivamente, a evolução observada durante a década que precedeu a erupção da crise nos EUA não parece confirmar a ideia generalizada que a Alemanha foi a grande ganhadora.


Se não, vejamos:
Em 1998, a Alemanha ocupava o 14º. lugar do ranking do índice de desenvolvimento humano (HDI), e o seu PIB per capita, em termos de paridade de poder de compra (PPP) era de 31141 dólares.
No mesmo ano, a Irlanda ocupava o 18º. lugar, com um PIB per capita de 23422 dólares.
A Itália ocupava o 19º, e o PIB per capita, 19574 dólares.
A Espanha era 21º. e o PIB per capita, 15644 dólares.
A Grécia era 25º., e o PIB per capita, 12069 dólares
Portugal era 28º., e o PIB per capita, 11672 dólares.


Em 2007, a Alemanha tinha descido para 22º. lugar, e o PIB per capita subia para 34401 dólares, ou seja um crescimento de cerca de 10,5%.
A Irlanda subira para o 5º. lugar, o PIB per capita passara para 44613 dólares, um crescimento de 90%!
A Itália subiu do 19º lugar para 18º., O PIB per capita subiu 55% para 30353 dólares.
A Espanha subiu para o 15º .lugar, o PIB per capita duplicou!, subindo para 31560 dólares.
A Grécia manteve-se no 25º lugar mas o seu PIB per capita subiu 236%! para 28517 dólares.
Portugal desceu para o 34º. lugar, o PIB per capita subiu 95% para 22765 dólares.

Culpada, a Alemanha?