A guerra ao trabalho reveste-se de múltiplas formas: da desregulamentação das relações laborais à erosão da provisão pública de bens sociais. Os objectivos são claros: reduzir o peso dos salários directos e indirectos e relançar a acumulação de capital através da expropriação de bens comuns. Os ideólogos nacionais deste processo europeu não escondem os seus objectivos. Daniel Bessa, por exemplo, defendeu na semana passada a privatização das escolas e dos hospitais. A miopia gerada pelas ideias e pelos interesses não cessa de me espantar.
Esta guerra, se for politicamente bem sucedida, apenas vai acentuar o chamado processo de financeirização das economias capitalistas maduras, ou seja, o processo de aumento da importância dos agentes, mercados e motivos financeiros. A literatura económica sobre o domínio do capital financeiro, que circula sem entraves, tem assinalado vários padrões perversos que desembocam em sucessivas crises financeiras.
Em primeiro lugar, temos a pressão selectiva sobre os assalariados dentro de empresas cada vez mais obcecadas em criar valor para o accionista, o que tem levado a uma quebra dos rendimentos do trabalho no rendimento nacional em muitos países desenvolvidos e a um aumento generalizado das desigualdades. Curiosamente, a satisfação dos accionistas não tem tradução nos indicadores de investimento criador de emprego.
Em segundo lugar, temos assistido, à escala europeia e mundial, à criação de desequilíbrios insustentáveis nas relações internacionais: modelos nacionais assentes no endividamento, que, em alguns casos, compensou temporariamente os efeitos negativos da estagnação salarial na procura, tendo como contrapartida modelos exportadores agressivos, assentes na compressão salarial permanente e cujos excedentes são reciclados pelo mercados financeiros.
Em terceiro lugar, o aumento da dependência dos trabalhadores face a um sistema financeiro naturalmente pouco transparente e cada vez mais complexo, que a erosão da provisão pública favorece, em áreas que vão da habitação à segurança social, intensifica aquilo a que o economista Costas Lapavitsas designa por “expropriação financeira” dos trabalhadores.
O aumento da presença e do controlo públicos do crédito ou a taxação das transacções financeiras são hoje a melhor forma de começar a responder, no campo das propostas, à guerra do capital financeiro.
9 comentários:
Obrigado pelo seu excelente contributo e por ter acolhido também a opinião de Boaventura de Sousa Santos.
O ataque do capital financeiro às relações laborais é uma parte da equação, pois este domínio da finança tem também vindo a degradar a sustentabilidade das empresas, usando estratégias que, só pretendendo apresentar resultados de curto prazo, levam a que o capital de conhecimento seja afastado das empresas e substituido por recursos mais baratos mas com menos competências e experiência.
Boa tarde,
Tenho seguido com interesse este blog e estou neste momento a preparar-me para iniciar a minha tese de mestrado. Esta vai incidir sobre desigualdades sociais e a relação que esta variável tem com a qualidade de vida e o capital social. Pretendo usar como base o livro que foi divulgado neste blog e que li: "O espírito da igualdade".
Ainda estou à procura de alguma direcção e de material bibliográfico. Na minha investigação, feita até agora, encontrei relação entre desigualdades e corrupção (além das outras encontradas no livro que referi).
Vou fazer uma pesquisa exaustiva neste blog para ver se consigo encontrar mais referências bibliográficas sobre o assunto.
A minha pergunta era, se os autores deste blog, nomeadamente o João Rodrigues, me podem transmitir mais referências bibliográficas, além das referidas no blog, se faz favor... O pedido também se dirige aos leitores...
Toda a ajuda é bem vinda.
Obrigado,
Vitor
Eu diria que o aumento das desigualdades tem uma explicação bem mais simples, que não envolve qualquer "pressão seletiva" sobre ninguém. Trata-se simplesmente de os trabalhadores com baixas qualificações estarem em concorrência direta com trabalhadores análogos na China e no Vietname, que são abundantes, forçando pois os salários desses trabalhadores a descer. Em compensação, os trabalhadores altamente qualificados são escassos na economia global, pelo que os seus salários tendem a subir quando a economia se globaliza.
Também os "desequilíbrios insustentáveis" podem ser explicados, pelo menos em parte, pelo aumento brutal do preço do petróleo, ele mesmo derivado pela crescente dependência do processo produtivo da aplicação de energias fósseis. O aumento do preço do petróleo leva à acumulação de enormes excedentes financeiros nalguns países, excedentes esses que têm que ser reciclados.
Luís Lavoura
Do Daniel Bessa e de outros semelhantes paladinos, muito bem pagos, da privatização de tudo e de todos e já agora como diz José Saramago, "...privatizem a puta que os pariu..", nada se pode esperar.
É um dos tais que muito sabem (o Cola Cisne; o Lopes; Salgueiro, etc são outros que tudo sabem...) mas que afinal têm sempre as mesmas receitas.
Com economistas destes que apenas vêm o bolso dos patrões e os seus, como é que este país alguma vez há-de ser capaz de dar um bom nivel de vida aos seus cidadãos.!!??
Parece-me que o nosso problema está deficientemente descrito.
O que realmente está a acontecer é uma transferência de poder económico (e não só) da Europa e da América para o Oriente e, em particular, para a China.
Durante muito tempo a China usou o engodo da sua mão de obra barata para atrair investimento estrangeiro. Agora parece estar a tentar pôr as grandes multinacionais a engordar o seu mercado interno, através do aumento dos salários da sua força laboral.
Como a China constitui um imenso conjunto de consumidores já não precisa de usar os baixos salários como atractivo pois ninguém quer estar fora de tal mercado (até Portugal embandeira em arco com um crescimento de 80% das exportações para a China).
Essa força centrípeta aumentará cada vez mais à medida que o nível salarial fôr aumentando constituindo portanto um processo autoalimentado.
As empresas estrangeiras que exportam a partir da China e ficam com o grosso do valor acrescentado vão ter que partilhar uma porção maior com o seu hóspede. Se o não fizerem arriscam-se a perder posição quer no mercado externo (por causa dos preços mais elevados) quer no mercado interno onde os conflitos sociais podem ser-lhes fatais.
O longo processo do fim do colonialismo está agora a mostrar os seus resultados.
Os países outrora dominados tornaram-se ciosos das suas matérias primas, os povos bárbaros e incultos acederam à educação e às tecnologias.
Os trabalhadores não sindicalizados atraem as empresas e estas arrastam consigo o know-how. Multidões gigantescas convertem-se em mercados onde as empresas autóctones obtêm crescimentos brutais.
É verdade que as empresas europeias também beneficiam destes gigantescos mercados, mas quem lá vende em geral não cria emprego na Europa e provavelmente também não paga na Europa impostos sobre os enormes lucros.
Empresas desses países outrora colonizados tornam-se credores das tradicionais superpotências e compram empresas e marcas por todo o planeta, incluindo na Europa.
É neste quadro que importa perceber a precária situação de Portugal e o que podemos esperar do futuro económico da Europa.
Se não forem tomadas decisões estratégicas, que transcendam as proverbiais declarações de superioridade moral, o nosso destino comum é a decadência lenta mas inexorável.
Acho muito divertido que quem defende a igualdade dos rendimentos de todos os trabalhadores com base na política fiscal, diga que é o capital financeiro a querer destruir o trabalho. O capital financeiro ataca as relações laborais? Isso é uma cassete! O que quer isso dizer traduzido para Português?
1. "O aumento da presença e do controlo públicos do crédito"
Existe uma necessidade da presença e controle público no credito e em muitos outros sitios.
Mas existem boas e más e intervenções públicas. Dizer só que é preciso mais intervenção e não dizer como, é não dizer nada de útil.
Se a intervenção no credito significa, por exemplo, ter um banco 100% publico no mercado a ditar, pelas leis do mercado, as regras do credito á habitação. Isto é uma medida importante. Agora se a intervenção no credito é emprestar ao desbarato a qualquer PME, isto já é asneira.
É importante especificar do que é que estamos a falar!
2. "ou a taxação das transacções financeiras são hoje a melhor forma de começar a responder, no campo das propostas, à guerra do capital financeiro."
Mais taxação, como já comentei aqui varias vezes, é regra geral um disparate. Em primeiro lugar, porque enquanto não se limitar o poder de mercado dos bancos, estes podem repercurtir os impostos. E repercutem em geral no consumidor individual e nas pequenas empresas que são os mais fracos. Em segundo lugar porque, mesmo que conseguisse-mos que o imposto das transações financeiras incidi-se realmente sobre as mesmas, iria incidir sobretudo sobre as transações que têm como contrapartida fluxos economicos reais (não puramente financeiros) porque estes fluxos são os menos flexiveis. Os fluxos puramente financeiros podem ser recaracterizados, deslocalizados, etc..., de modo a pagar o minimo de imposto possivel.
Sem uma regulação forte e activa e sem uma limitação real do poder de mercado da industria financeira, não se conseguirá tomar as redeas da situação actual.
3."Eu diria que o aumento das desigualdades tem uma explicação bem mais simples, que não envolve qualquer "pressão seletiva" sobre ninguém. (...) os trabalhadores altamente qualificados são escassos na economia global, pelo que os seus salários tendem a subir quando a economia se globaliza."
De facto não se trata de uma pressão selectiva, e é verdade que a contenção salarial no ocidente é consequencia directa da concorrencia com a Asia. Agora, os países ocidentais tinham e têm alternativas, no medio e longo prazo, de concorrer com as economias emergentes por outros meios que não contenção salarial.
Infelizmente, todos os países ocidentais tem ignorado estas alternativas (tecnologias, qualificações, novas vantagens competitivas) e têm optado pela inação e pela lei do menor esforço concorrendo apenas pela contenção salarial.
4. Quanto a desgualdade de rendimentos esta é causada em primeiro lugar pela desigualdade de oportunidades. Depois concerteza que a concorrencia pelos salarios diminui os rendimentos dos muitos que estão sujeitos a essa concorencia. E a desregulamentação da finança provoca desequilibrios na economia real que punem os mais fracos e enriquessem uns quantos. Mas estes dois factores ainda que muito graves, são secundarios, o pai de todos o males é a gritante desigualdade de oportunidades, visivel sobretudo no acesso à educação. E isto é um problema que não dá votos, por isso os politicos continuam a ignora-lo.
olá nos empregos se pratica o mubbing a em empregado sem o minimo de razões que se justifiquem, tiram-lhe tudo e ofendem maltratam e se nao basta-se o isolam...etc...esquemas de loucos isto está do pior até ameaças e tudo e tens que ter estomago e figadoe coraçao para aguentar estes gajos com o mubbing são um grupo tramado e muito assassinos...eu estou muito mal
quando fizerem algum trabalho de ciencieas socias falem muito e divulguem a existençia do mubbing já cá está implatada nas emprezas aqui no alentejo, vejam só nesta parvalheira os sacanas dos alentejanos são matreiros...do pioriu...bem eu tou a ter um horror com estes cães de caça da merda alentejanos invejosos, façam um tema sobre o mubbing dentro dos bombeiros...ups...bem preciso de auxilio por favor...me acudam
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