terça-feira, 8 de junho de 2010

Desperdício



Vivemos sob o feitiço do desperdício. Metem-nos olhos dentro desperdícios (reais e inventados) de recursos públicos, mas escondem-nos o maior de todos os desperdícios: milhões sem emprego, ao mesmo tempo que os recursos financeiros que poderiam ser investidos para criar emprego servem para comprar ouro, e acções e obrigações e outros “activos” financeiros, sem que nada daí resulte senão o aumento do valor desses mesmos activos.

14 comentários:

Alexandre Cotovio Martins disse...

Tudo uma questão de preferências. Que é outra maneira de dizer que estas preferências são arbitrárias. Ou trocar colectivamente seres humanos por ouro não é arbitrário?

Eduardo disse...

Quando esses milhões circulam na economia dos povos e não nas mãos dos Estados, produzem muita riqueza, que é o que os cidadãos fazem quando aplicam os seus recursos.

Anónimo disse...

Do meu modesto ponto de vista, o maior desperdicio seria ocupar pessoas em actividades inúteis. Essa aplicação de recursos financeiros na criação de empregos não iria traduzir-se precisamente nisto? O que iriam produzir e para quem?
Miguel Horta

Caporegime disse...

Porque em vez de comodamente mandar uns bitaites... não investe o José M. Castro Caldas numa empresa e cria emprego? porque delegar isso no estado? FAÇA-O O HOMEM! Não seja apenas um fala barato!

gab disse...

A teoria do desenrasca não é mais do que o resultado de se desperdiçar sempre os melhores elementos, as melhores oportunidades e ocasiões e por aí fora.Portugal é um desperdício, uma pena, um fa(r)do.

Carlos disse...

comprar ouro pode ser a última hipótese para os "não capitalistas" protegerem o valor das suas poupanças (sim, porque os capitalistas são os menos prejudicados pela inflacção tão querida dos senhores deste blog) dos bancos centrais e dos irresponsáveis como o JMCC que acham que contrair dívida a perder de vista e depois imprimir dinheiro para pagar é que cria riqueza e emprego sustentável.

Ainda bem que não tirei curso de economia, senão acho que nunca iria perceber mesmo nada do assunto, com professores destes a ensinar os futuros licenciados deste país.

Ricardo Paes Mamede disse...

Para quem não estudou economia e para quem estudou, mas não reteve algumas ideias fundamentais, ficam aqui alguns contributos:

1.Não é por a riqueza estar nas mãos do Estado que ela não está nas mãos dos povos. Tipicamente, a riqueza está concentrada nas mãos de uns poucos, os quais a aplicam em larga escala em actividades parasitárias. Por muito desperdício que exista, em sociedades democráticas a riqueza que está nas mãos do estado ajuda à sua distribuição... pelos povos.

2. Em períodos de estagnação económica, por pessoas a trabalhar raramente é um desperdício. É uma forma de estimular a actividade produtiva.

3. Quando o problema está nas fracas perspectivas de procura, esperar que o empreendedorismo dos autores deste blog produza efeitos é como esperar esvaziar um oceano com uma colher de sopa. Este é um dos motivos pelos quais o Estado faz falta - tem dimensão suficiente para estancar dinâmicas auto-cumulativas de destruição de capacidade produtiva.

Tiago Santos disse...

"irresponsáveis como o JMCC que acham que contrair dívida a perder de vista e depois imprimir dinheiro para pagar é que cria riqueza e emprego sustentável."

Isto realmente cada um diz o que lhe apetece...mas onde é que o sr ouviu o JMCC ou outro qualquer doz ladrões dizer uma coisa dessas?

Se calhar não lhe fazia mal estudar economia. Uma coisa é opinião, outra é dizer o que nos vem à cabeça só porque sim...

Tiago Santos disse...

"Porque em vez de comodamente mandar uns bitaites... não investe o José M. Castro Caldas numa empresa e cria emprego? porque delegar isso no estado? FAÇA-O O HOMEM! Não seja apenas um fala barato!"

Aqui está outro que se estudou economia, esqueceu-se que um sistema económico vive de muitas coisas juntas: de produtores, de consumidores, de trabalhadores, de investigadores, de professores, que se intersectam e que são todos necessários.

Então agora só quem tem uma empresa é que pode criticar empresas? Então o sr que critica os professores porque não se torna professor? E se critica os políticos, porque não se candidata?

Carlos disse...

Pode não ter sido o caso deste post mas já li várias vezes os membros deste blog adovcar que o BCE deveria comprar dívida pública de forma a tornar o financiamento dos défices públicos mais fácil e barato.

E várias vezes vi também recomendações que o Estado precisa de gastar cada vez mais para susbstituir a falta de procura do sector privado, ou seja, contrabalancar a atitude responsável e recomendável por parte dos agentes de uma economia com excesso de dívida no sistema.

Crise de procura, dizem eles. Eu cá não sinto nada disso. Gostaria eu de poder ter mais coisas que as que tenho agora, o problema é que se eu não produzir mais, também não posso ter consumir mais.
Esse argumento keynesiano deve ser a mentira mais bem vendida da história do pensamento económico.

Ricardo Paes Mamede disse...

10% de desemprego, até em países com mercados de trabalho fortemente desregulamentados, deveria fazê-lo pensar que há algum fundo de verdade nessa malvada teoria keynesiana. Mas para si a culpa deve ser da presença excessiva do Estado, como de costume.

Miguel Rocha disse...

Quanto à teoria queinesiana existem provas bem documentadas de que funcionou...se não estudou economia porventura deveria ler umas coisas para lhe dar mais base para a discussão, digo eu...

Quanto às teorias neo-liberais é impossível contra-argumentá-las pois quando acontece alguma crise económica/financeira a culpa é do Estado que ainda não liberalizou suficientemente os mercados...contra este argumento (a que noutras paragens se chama fundamentalismo) não há refutação possível como a U.E. comprova actualmente...

Carlos, para mim dívida é escravidão, gostava de poder viver sem dívida mas à medida que os salários forem baixando como poderei não recorrer à dívida para comprar casa ou o que quer que seja? Tenho de me dirigir indirectamente aos aforradores, cada vez mais ricos (alguns deles) porque eu não terei capacidade para poupar...

Posso afirmar com algum grau de certeza que a maioria da população portuguesa não aforra nos mercados de capitais ou no activo ouro...e as pessoas que eu conheço que aforram procuram muitas vezes ganhos no curto prazo (especulação)...ao contrário do argumento deste post, que defende, a meu ver e bem, o investimento de longo prazo, esse sim, produtivo.

Bem, bem, fez a China que não permite movimentos de capitais de curto prazo...eles não brincam em serviço...o objectivo deles é dominação mundial...no longo prazo...seja através do dumping social que estão a exportar para o mundo ocidental seja através de outros meios...

A questão mais premente, actualmente, penso eu, é que o capital tem uma movimentação mais livre do que o factor trabalho...estas são as consequências...

Carlos disse...

Quanto à questão da eficácia das políticas fiscais defendidas por keynes, existem exemplos históricos que a contradizem.
Obviamente que no curto prazo, grandes défices fazem crescer o PIB, o que não significa necessariamente que façam crescer a economia. Se tiver que aumentar a dívida em 10 para fazer crescer o PIB em 5, a economia ficou menos próspera e não mais.

As economias crescem pela acumulação de excendentes (capital; poupança) que por sua vez ficam disponíveis para investimento futuro em capital (humano e material).

Que sentido é que tem uma economia em crise porque não tem procura suficiente?? O que há é falta de produção ou desajustamentos entre aquilo que está a ser produzido e aquilo que os consumidores desejam e isso é que faz a economia distanciar-se do seu potencial produtivo.

Eu não digo que foi (só) o Estado que causou a crise, nem digo que devemos ter um Estado que não legisla nem regula nada em termos económicos. Os derivados financeiros devem, por exemplom ter regras mais apertadas e transparentes, assim como o naked short selling. O próprio sistema bancário também necessita de uma reforma. (uma possível alternativa pode ser encontrada aqui: http://www.financialsense.com/fsn/main.php).

O que não me parece é que um Estado a caminho da bancarrota, ou Bancos Centrais irresponsáveis que imprimem dinheiro e destroem o valor da moeda, sejam de facto as soluções que precisamos.

É preciso restaurar um sistema monetário que não seja unicamente suportado em dívida. É insustentável e eminentemente inflaccionário. Para pagar os juros das dívidas antigas temos que contrair mais dívidas pois o novo dinheiro é criado a partir de, adivinhem, mais dívida.
como é que um sistema destes pode acabar bem??

João Aleluia disse...

1. Não concordo com a forma como se lida com os desempregados de longo prazo, deixando-os parados à espera de melhores dias com mais ou menos subsidios. No entanto a solução para isso é o sistema de educação.

Se houvesse um sistema de educação publico gratuito que de facto qualifica as pessoas não haveria tanto desemprego. Também se houvesse um esforço serio para requalificar os desempregados, não haveria tantos desempregados.

Porfim,os que se mantivessem desempregados, e sem rendimentos, podiam ser requesitados para serviço publico, nomeadamente os serviços de apoio social, numa logica de auto-sustento. Isto só para quem não se quer requalificar e já se "cansou" de procurar emprego.

É natural que exista algum desemprego estrutural, por mais desenvolvida e funcional que seja a economia. O já não é natural é que haja pessoas aptas para o trabalho indefinidamente "na prateleira", o que não é bom para ninguém, sobretudo para os próprios.

Não estou de modo algum a ensinuar que a generalidade dos desempregados são responsaveis pela situação em que se encontra. Antes pelo contrario considero que são pessoas que nunca tiveram oportunidades na vida e por isso se encontram nesta situação.

O que estou a dizer é que essas oportunidades devem ser colocadas a disposição dos desempregados (e não só dos desempregados) e deve-se obrigar a trabalhar quem decidir deliberadamente não aproveitar para mudar a sua vida.

2. Um bom exemplo do estado da educação. O comentador Carlos, que não estudou economia mas pelos vistos se interessa pelo assunto, produz opiniões economicas mais sensatas que alguns dos autores dos blog que são professores de economia.

3."o Estado faz falta - tem dimensão suficiente para estancar dinâmicas auto-cumulativas de destruição de capacidade produtiva."

Sem duvida, mas para isso não é necessario efectuar despesa publica irresponsavel nem assumir niveis de divida insustentaveis.

4. O keynesianismo é um disparate absurdo, o que aliás é natural uma vez que keynes era mais um politico do que propriamente um economista.

O keynesianismo defende em termos gerais que o estado gastar dinheiro beneficia a economia. Daí alguns falarem dos sucessos do keynesianismo. Ora os sucessos do keynesianismo (os sucessos de longo prazo, porque sobre os do curto prazo nem vale apena falar) não mais são do que situações em que o estado gastou dinheiro bem gasto.

O importante é a forma como o estado efectua a despesa e não o tamanho da despesa em si. A pratica comum é que os governos gastam o dinheiro em tudo menos naquilo que devem.

Mais importante ainda é que para um governo poder efectuar despesa com impacto economico positivo (por exemplo investindo na qualificação das pessoas) é preciso que o estado tenha saude financeira. Um estado que não tem receita suficiente para a despesa corrente mais os juros da divida, não está em condições de investir em nada!

Para que exista um "estado social" que fornece educação gratuita, saude gratuita, segurança social para todos etc..., é preciso que haja saúde financeira no estado.