segunda-feira, 9 de março de 2009

Nos EUA, muitos economistas apoiam os sindicatos

Definitivamente, os economistas não são todos iguais. Vejam este abaixo-assinado. Ao contrário do que acontece com a maioria dos economistas portugueses envolvidos no debate público, que ainda falam como se tivessem engolido uma cassete de introdução à microeconomia ortodoxa, um heterogéneo grupo de economistas norte-americanos – onde se incluem os Prémios Nobel da Economia Kenneth Arrow e Robert Solow – revela estar muito mais atento à realidade socioeconómica do seu país.

Este grupo considera que a aprovação do Employee Free Choice Act, uma das promessas de campanha de Obama, é «crucial para reconstruir a nossa economia e reforçar a nossa democracia». Este projecto visa facilitar e proteger a formação e actuação dos sindicatos nos EUA: «Entre 2000 e 2007 o rendimento mediano do agregado familiar em idade para trabalhar caiu 2000 dólares – um declínio sem precedentes. Neste período, a totalidade do crescimento foi para um pequeno número de americanos ricos. Uma razão importante para esta mudança (…) está na erosão da capacidade de formar sindicatos e de negociar colectivamente». Já aqui várias vezes se defendeu que este padrão está também na base da actual crise. E, como argumenta James Galbraith, as políticas de redução das desigualdades são boas políticas para combater a crise.

De acordo com um estudo de Peter Temin e Frank Levy do MIT, que também subscrevem o abaixo-assinado, o aumento das desigualdades deve-se fundamentalmente ao processo político de mudança das instituições que enquadram o mundo do trabalho: transformações regressivas na repartição de direitos e obrigações. Muitos economistas gostam de falar no combate à rigidez ou até, suprema das latas, em liberdade, quando querem justificar um aumento do poder patronal. Acusam os que se lhes opõem de desconhecimento de noções básica de economia, a tal cassete, ou de «patrulhamento ideológico». São os economistas da direita intransigente. A sua hegemonia explica uma parte do actual desastre.

Entretanto, nos EUA, a luta só agora começou. Dela depende, em última instância, a mudança institucional. Neste contexto, é bom saber que há muitos economistas que estão com o mundo do trabalho.

4 comentários:

Anónimo disse...

Isto do Solow ee engracado. Com o tempo tornou-se uma das poucas vozes contra a tontice da macro moderna, mas nunca fez mea culpa.

Por exemplo, nos anos 80, usou o argumento mais tonto de que na estimacao das funcoes de producao, o facto espuurio e tautoloogico que a elasticidade estimada ee parecida com o factor share como evidencia de que os sindicatos nao importam muito, de que na economia os salaarios sao pagos a sua produtividade marginal.

Enfim... vamos ver no que isto daa, mas se querem ver um pouco do seu acto de contricao, vejam o que ele escreve na JEP Fall 2008 sobre modern macro.

Cumprimentos
Joao Farinha

Anónimo disse...

Então a campanha para desacreditar os sindicatos não faz parte desta ideologia de disco riscado??!

Por cá desacreditam-se os sindicatos, promove-se a desunião dos trabalhadores, enfraquecendo a sua justa reivindicação de salários justos!!! se assim não tivesse sido (em vez de baixar os salários) não estariamos como estamos!!!

Por isso, há que gritar bem alto que há alternativas, e que "quando se luta pode-se não ganhar sempre;mas quando não se luta, perde-se sempre"!!!
há é que saber de que lado da barricada se está!!! e ter voz!!!

a "talhe de foice" já viram como pretendem certos "comentadores centrões" desvalorizar as eleições europeias?? estarão à rasca?!?! parece-me que estão a contar com a abstenção... em Junho, no Verão e tal, e a malta não vai votar...acho que estão a "contar com o ovo no cu da galinha!" pode ser que se enganem e a malta vá, em massa, votar (contra este disco riscado!)!!! como aconteceu nos eua...

Anónimo disse...

A chamada "liberdade" que ditos economistas de direita gostam de exigir não mais do que a mais pura manifestação do fundamentalismo materialista.

A realidade que estes senhores escolhem para nós é a submissão ao sistema produtivo da forma o mais barata e controlada possível. Tudo em nome de uma produtividade que, para além da extrema acumulação de capital por um lado, por outro lado esconde a exploração do individuo, não só através "caridade" de um ordenado, assim como também a imposição de regras de trabalho que favorecem o patronato e lhe dão mais poder para exercer controlo.

A verdade é que "liberdade" para estes senhores são os nossos cadeados. "Liberdade" para impor através de :

1 - Sindicatos mais fracos. Através de uma cultura laboral cada vez menos corporativista;

2 - Leis laborais com menos direitos para os trabalhadores. Sendo que a injustiça laboral é um dos principais motivos de desigualdade na nossa sociedade;

3 - Mecanismos de regulamentação sem meios nem capacidade de fazer valer a lei de forma eficaz.

Eis a "Liberdade" que estes senhores pretendem...

No entanto, a condição humana é o que é. Preferimos viver a realidade destes senhores em vez de mudar o paradigma. Já podemos começar a falar em velhos do Restelo, como também em masoquismo existencial ...

Anónimo disse...

onde se lê "regulamentação", deveria-se ler "regulação".