terça-feira, 26 de novembro de 2024

Os números que Marques Mendes não mostrou

Saindo em socorro do governo, na habitual missa de domingo sem contraditório, Luís Marques Mendes exibiu um gráfico (ver aqui, ao terceiro minuto), em que cautelosamente apenas apresentou a evolução do número de alunos sem aulas desde o início do ano letivo. Isto é, desvalorizando - tal como o governo - os alunos que, tendo começado o ano com todos os professores, se encontram sem aulas a pelo menos uma disciplina (e que representam, neste momento, cerca de 94% do total de alunos sem aulas, como se assinalou aqui).

Optando por construir o gráfico apenas com a evolução do universo de alunos sem aulas desde o início do ano letivo, Marques Mendes não se coibiu, porém, de incluir na infografia a informação relativa ao total de alunos sem aulas em dezembro de 2023 (cerca de 21 mil), a partir da qual, indevidamente, o governo chegou à dita redução, em 90%, do número de alunos sem aulas desde o início do ano letivo. Ou seja, à semelhança do governo, o comentador da SIC não resistiu à tentação, conveniente, de misturar «alhos com bugalhos».


Comparando o que é comparável, isto é, o total de alunos sem aulas, por um lado, e o número de alunos sem aulas desde o início do ano letivo, por outro, Marques Mendes teria chegado a conclusões distintas daquelas a que chegou. E poderia assim reconhecer que o problema da falta de professores se agravou em termos homólogos. De facto, como mostram os gráficos aqui em cima, o total de alunos sem aulas é hoje de cerca de 41 mil (21 mil em dezembro de 2023), sendo idêntico o número de alunos sem aulas a uma disciplina desde o início do ano (6% do total) e que, por isso mesmo, não permite neste âmbito falar de uma melhoria da situação face a 2023).

Não é a primeira vez, como sabemos, que Marques Mendes faz eco das narrativas do governo nesta matéria. Há cerca de dois meses caucionou igualmente o exercício de contabilidade criativa do ministério da Educação, através do qual a tutela inflacionou o número de alunos sem aulas no arranque do ano letivo em 2023 (de cerca de 72 mil para 324 mil), de modo a criar a perceção de que o ano letivo em curso tinha já começado de modo mais favorável. Só que não, como se procurou demonstrar aqui e se poligrafou aqui.

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