segunda-feira, 1 de agosto de 2022

E assim se trata a política de habitação em Portugal...

 

Não é de agora e nem é exclusivo do sector da habitação. 

A 25 de Maio de 2021, numa sessão parlamentar, o então secretário de Estado da Mobilidade foi questionado pelo deputado Bruno Dias (PCP) - por três vezes! - sobre se era mentira que as multinacionais dos transportes (neste caso táxis) podiam colocar em Portugal quantos carros quisessem, com a capacidades que quisessem, nos locais que quisessem, sem que o Estado pudesse fazer alguma coisa. E o secretário de Estado - por três vezes! - nada respondeu nem negou. E todos sabemos em que condições laborais essas multinacionais funcionam. 

A pretexto de ser "uma pequena economia aberta" que necessita de capital externo - uma discutível tese que assenta no pressuposto neoliberal de que a única criação monetária possível é a que decorre do acesso aos mercados financeiros - Portugal tornou-se numa grande e escancarada porta de entrada do investimento estrangeiro multinacional, sem qualquer limite ou pensamento estratégico ou real preocupação governamental sobre o que se passa na vida dos portugueses habitantes das principais cidades.

 

Como já foi abordado aqui, não há qualquer outra razão que justifique a subida de preços do parque habitacional, senão a crescente procura de activos imobiliários por parte de operadores estrangeiros, o que tem levado à progressiva expulsão dos portugueses mais pobres dos centros das cidades e a empurrá-los para zonas mais afastadas, num guetização social, fomentando as desigualdades sociais, com prejuízo claro para as vidas particulares e profissionais dos mais desfavorecidos. E tudo a bem dos lucros desses operadores. 

Eis o "Socialismo" de que a extrema-direita e o PSD tanto acusam o Governo de gerir, embora sem que tenham a coragem de colocar em causa a legislação que o fomenta ou de apontar os verdadeiros interessados na sua existência. 

Veja-se o desplante e o à-vontade com que se trata um mercado habitacional, como se fosse una coutada. E ainda se queixam de que há poucas oportunidades... 

Era imperioso enumerar os diversos dispositivos legais que, prevendo incentivos vários (orçamentais e fiscais), estão a atrair este tipo de investimento predador e nocivo. E reequacioná-los. Sob pena de termos cidades que, em vez de locais de vida social equilibrada, com entralaçamento de diversos sectores sociais, teremos apenas um parque de carteiras de activos de instituições estrangeiras, usadas para gerar mais-valias, que muito provavelmente até nem serão tributadas em Portugal. 

 

2 comentários:

TINA's Nemesis disse...

Portugal não é um país de brandos costumes, é um país cruel para muitos dominado por “elites” medíocres servidas por uma casta de políticos medíocres alpinistas sociais.

Eu gostava de saber a razão de Portugal não ter implementado políticas de habitação sérias depois do 25 de Abril de 1974. Porque razão se implementou o SNS e não se fez algo comparável na habitação, não vem na constituição portuguesa a dizer que a habitação é uma necessidade básica como a saúde?

O “pelotão da frente” do “socialista” António Costa é mera estética, puro idealismo europeísta, não tem nada a ver com questões concretas e materiais, ou seja, é um embuste dos “socialistas” para enganar tolos que sai muito, mas muito caro à maioria da população portuguesa.
Sabem o que é verdadeiramente estar no pelotão da frente?
Era Portugal ter mais de 60% de habitação pública como acontece em Viena. Os mais de 60% de habitação pública em Viena tem efeitos concretos e materiais nas vidas das pessoas e contribui para que a cidade seja considerada ano após ano a melhor cidade para se viver no mundo.

Se Portugal tivesse de forma séria implementado políticas de habitação logo depois do 25 de Abril de 1974 muitos não estariam agora a sofrer… Não se aproveitou esse tempo favorável a políticas sociais para impor outra realidade habitacional que fosse mais favorável a muitos.
Hoje, apesar dos esforços contrários dos liberais-neoliberais, a saúde como um direito fundamental para todos está estabelecido, a habitação não está, mas devia estar.

Nós temos que ter uma sociedade onde o básico está garantido a todos, só com o básico garantido podemos almejar fazer melhor, se nem o básico conseguimos garantir como é possível o indivíduo ser livre e se desenvolver?

E aliás, e se me permitem… que se foda o “mercado”, o “mercado” não está acima da dignidade humana.

TINA's Nemesis disse...

"Mais de um milhão de pessoas em Portugal vivia em casas sobrelotadas em 2021."

"A população que vive em casas sobrelotadas em Portugal aumentou em 2021, ultrapassando um milhão, o valor mais alto dos últimos três anos, revelam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) hoje divulgados."

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/mais-de-um-milhao-de-pessoas-em-portugal-vivia-em-casas-sobrelotadas-em-2021-e-o-valor-mais-alto-dos-ultimos-3-anos

Mais informação para ser ignorada pelos carrascos "socialistas" do Partido que não é Socialista.
E se não for ignorada aposto que vamos ouvir o Costa a dizer que a solução para este problema é "mais Europa", já o Augusto Santos NATO Silva vai dizer que é com mais sanções à Rússia que o problema da habitação em Portugal fica resolvido.